A debandada de militares estaduais ocorre mais nas carreiras policiais militares (PM) e menos nos bombeiros militares (CBM). Segundo o veterano da ROTA da PMESP, Paulo Rodrigues, as causas do êxodo são diversas, mas relata “que as exigências do trabalho são muito superiores ao salário que recebe.” Para o militar, a falta de perspectiva na carreira dos praças tem levado os jovens a estudar, fazendo da PM um trampolim para outras carreiras, em que as exigência são menores e salários maiores.”
A carreira de Praça na Polícia Militar é frequentemente vista como uma trajetória sem muitas possibilidades de progresso profissional. Os praças, que compõem a base da estrutura hierárquica, muitas vezes enfrentam limitações para alcançar postos mais altas, o que pode desmotivar os candidatos em potencial. A ausência de planos de carreira bem definidos e a falta de oportunidades para ascensão podem desencorajar novos interessados e frustrar aqueles que já estão na corporação. A progressão profissional em outros concursos é realidade nas Polícias Militares.
Para o Major PMERJ Luigi, veterano da PMERJ, a evasão de policiais militares ocorre no Brasil, mas no Rio de Janeiro o caso é bem particular, pois há outras variantes “como maus Policiais Militares envolvidos nos ilícitos administrativos, além de crimes e milícias. Isso aumenta o número de baixas da força estadual de segurança”. Também lembrou que, devido à crise financeira, os concursos no Estado do Rio foram paralisados por um longo período, só normalizando agora recente e isso repercutiu na queda do efetivo, acrescentou o Oficial.
A remuneração é uma das principais preocupações para quem considera ingressar na polícia militar. Em muitos estados brasileiros, os salários são considerados baixos, especialmente quando comparados ao risco e às responsabilidades do trabalho policial militar. Esta situação é agravada pela falta de reajustes salariais adequados e pela inflação, que diminuem o poder de compra dos policiais ao longo do tempo. Como resultado, muitos potenciais candidatos optam por buscar alternativas de emprego que ofereçam melhores condições financeiras.
Falta de perspectivas de comandamento
O distanciamento (velado) entre praças e oficiais dentro da estrutura militar é outro fator que contribui para a falta de efetivo. Essa divisão hierárquica muitas vezes resulta em uma falta de comunicação e compreensão mútua, o que pode gerar um ambiente de trabalho pouco colaborativo. A percepção de que os oficiais estão distantes das realidades enfrentadas no cotidiano das ruas pode desmotivar os praças e diminuir o interesse de novos recrutas. Muitos relatos também informam a falta de empatia.
Os policiais militares estão sob constante pressão social, tanto devido à natureza de suas funções quanto ao escrutínio público. Esta pressão pode impactar significativamente a saúde mental dos policiais, que precisam lidar com situações de alto estresse e, muitas vezes, com a falta de apoio psicológico adequado. As condições de trabalho adversas e a expectativa de manter o controle em situações de risco contribuem para o aumento dos níveis de estresse e desgaste emocional.
A desmotivação entre os policiais militares é exacerbada pela falta de reconhecimento social. Apesar de desempenharem um papel importante e necessário na manutenção da ordem pública e na segurança da população, esses profissionais muitas vezes não recebem o devido reconhecimento por seus esforços. A percepção pública negativa e a estigmatização podem levar à desvalorização do trabalho policial, contribuindo para a desmotivação e o esvaziamento das fileiras da PM.
A falta de efetivo nas PMs no Brasil é uma questão múltipla, influenciada por fatores estruturais e sociais que precisam ser abordados de forma integrada. Melhorar as condições de carreira, oferecer remuneração justa, promover a saúde mental e garantir o reconhecimento social são passos essenciais para atrair e reter profissionais que juraram dar sua vida em prol da sociedade.