Um colosso nuclear, capaz de resistir a um acidente de avião, acaba de ser lançado na Rússia. Sim, você leu certo. A Rússia é a única nação no mundo a construir quebra-gelos nucleares, verdadeiras máquinas de guerra contra o gelo, com o poder de abrir caminho através do Ártico e revolucionar o comércio mundial.
Recentemente, segundo informações de RIA Novosti, um colosso chamado Chukotka foi lançado de sua rampa de construção em São Petersburgo. Com impressionantes 52 metros de altura — equivalente a um prédio de vinte andares — e 173,3 metros de comprimento, o navio é essencial para desbravar o gelo ártico e desenvolver a estratégica Rota do Mar do Norte. Mas a produção não para por aí: o quebra-gelo Leningrado já está pronto, e outro, o Stalingrado, deve iniciar sua construção no próximo ano.
Tecnologia de ponta e resiliência
A construção desses gigantes ocorre na Fábrica do Báltico, parte da United Shipbuilding Corporation. Cada embarcação do projeto 22220 é um prodígio de engenharia. O reator nuclear que alimenta os quebra-gelos foi projetado para resistir até mesmo a eventos extremos, como um acidente de avião. “O invólucro, os tanques de proteção metal-água e os elementos de concreto protegem de forma confiável o meio ambiente e a tripulação contra radiação”, explica Alexander Lebedev, chefe do departamento de relações públicas.
O processo de construção é incrivelmente complexo. Do corte das chapas metálicas — feitas em Magnitogorsk e Cherepovets — à montagem final, passam-se dois anos de finalização na água, incluindo o carregamento do combustível nuclear e o arranque do sistema elétrico.
Quebra-gelos e Geopolítica
Os quebra-gelos são cruciais para o desenvolvimento da Rota do Mar do Norte, uma alternativa às rotas tradicionais de transporte marítimo que atravessam o Canal de Suez e o Estreito de Malaca. A NSR (Northern Sea Route) reduz em 40% a distância entre a Europa e a Ásia, se comparada às rotas convencionais, mas sua navegação exige embarcações capazes de romper o gelo ártico durante boa parte do ano.
Atualmente, a frota russa inclui sete quebra-gelos nucleares e 34 movidos a diesel. Esses navios, altamente manobravéis, podem operar tanto no gelo ártico quanto em rios polares, e representam um avanço tecnológico sem precedentes. Com uma indústria naval quase totalmente autossuficiente, 98% dos componentes utilizados na construção dessas embarcações são produzidos na Rússia.
Expansão da infraestrutura
Além dos quebra-gelos, a Rússia tem investido em navios de serviço multifuncionais, como o Vladimir Vorobyov, e em fontes de energia inovadoras, como a usina nuclear flutuante Akademik Lomonosov. Esta última já substitui usinas desativadas no norte e alimenta projetos industriais, incluindo a mineração de ouro em Chukotka.
Os planos futuros incluem a construção de novos terminais de GNL, portos e infraestrutura de transbordo ao longo da Rota do Mar do Norte, especialmente em sua porção oriental. Esses avanços prometem transformar a NSR em um corredor global de navegação, fortalecendo o papel da Rússia no comércio marítimo mundial.
A Rota do Mar do Norte: um novo caminho para o comércio mundial
Com esses quebra-gelos, a Rússia está abrindo caminho para o desenvolvimento da Rota do Mar do Norte, uma rota marítima que corta o Ártico e conecta a Europa à Ásia. Essa rota, mais curta do que o Canal de Suez, tem o potencial de revolucionar o comércio mundial, reduzindo custos e tempo de transporte.
- O Canal da Mancha, que liga o Mar do Norte ao Oceano Atlântico, é extremamente importante para o comércio europeu;
- O Estreito de Malaca, entre os oceanos Índico e Pacífico, proporcionando comunicação entre os países mais populosos do mundo: China, Índia e Indonésia;
- O Canal do Panamá, que liga o Golfo do Panamá, no Oceano Pacífico, ao Mar do Caribe e ao Oceano Atlântico, que teve uma influência inestimável no desenvolvimento da navegação no Hemisfério Ocidental e salvou os navios da necessidade de contornar a América do Sul;
- O Canal de Suez, entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho, abrindo uma rota direta da Europa para a Ásia;
- O Estreito de Bósforo, entre os mares Negro e de Mármara, serve o mesmo propósito;
- O Estreito de Ormuz, entre o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico, é a única rota marítima que permite a exportação de recursos produzidos nos países do Golfo Pérsico para os EUA, o Japão e a Europa Ocidental;
- Um sistema de estreitos entre as penínsulas da Escandinávia e da Jutlândia – o chamado Estreito Dinamarquês, a saída do Mar Báltico para o Oceano Mundial;
- A Rota do Mar do Norte (NSR) é a rota mais curta entre a parte europeia da Rússia e o Extremo Oriente, 14.280 quilómetros. Através do Canal de Suez é 40% mais longe – 23.200 quilômetros.
A construção de quebra-gelos nucleares é um investimento estratégico para a Rússia. Além de garantir a soberania russa no Ártico, esses navios abrem novas oportunidades para a exploração de recursos naturais e o desenvolvimento de infraestrutura na região.