Revelado Áquila: o lendário exército privado brasileiro, formado por militares de elite das Força Armadas que operou nas sombras pelo mundo como os Wagner Group e Academi, a antiga BlackWater
Mercenários modernos com CNPJ? Comandada por um general da reserva, a Áquila foi o primeiro exército privado brasileiro, formado por veteranos de elite das Forças Armadas, atuando em missões secretas pelo mundo, em zonas de guerra, protegendo embaixadas e líderes internacionais
Você provavelmente já ouviu falar de mercenários em filmes ou livros. Mas e se eu te dissesse que o Brasil já teve e pode voltar a ter seu próprio exército privado, formado por militares de elite e atuando em zonas de conflito ao redor do mundo? Pois é, essa história não é ficção. Ela tem nome, data e protagonista: Áquila International, a primeira empresa militar privada brasileira, criada por veteranos altamente treinados das Forças Armadas e registrada oficialmente fora do país.
Embora esteja atualmente com as atividades suspensas, a Áquila operou por anos longe dos holofotes, envolvida em missões discretas em regiões instáveis, protegendo embaixadas e oferecendo suporte logístico a governos estrangeiros. Mas como esse exército privado surgiu? E o que isso representa para a segurança e soberania nacional?
Mercenários: de guerreiros sem bandeira a soldados com CNPJ
A figura do mercenário é tão antiga quanto a guerra. Desde o Egito Antigo até a Idade Média, impérios contratavam soldados estrangeiros para reforçar suas tropas. Lutavam não por patriotismo, mas por pagamento. Na Europa renascentista, reis como Luís XII da França usavam contingentes inteiros de mercenários suíços e germânicos em campanhas militares. E o Brasil também não ficou de fora.
Durante a Guerra da Independência, na Guerra da Cisplatina e principalmente na Guerra do Paraguai, o Império Brasileiro recorreu ao serviço de estrangeiros. Os famosos Brummers, batalhão germânico recrutado pelo Brasil, foram fundamentais em campo. Com o tempo, o termo “mercenário” foi sendo substituído por eufemismos mais diplomáticos, como “contractor” ou “militar privado”, refletindo a profissionalização desse mercado bilionário.
O surgimento do Áquila: quando o Brasil entrou no jogo
Foi só em 2016 que o Brasil passou a integrar oficialmente esse cenário com o nascimento da Áquila. A iniciativa partiu do general-de-brigada Roberto Escoto, ex-comandante da Brigada de Infantaria Paraquedista, que fundou a empresa com o objetivo de reunir militares da reserva altamente qualificados e colocá-los novamente em ação — desta vez fora do ambiente institucional das Forças Armadas.
Para driblar as limitações legais do Brasil, a Áquila foi registrada na Virgínia, nos Estados Unidos, seguindo um modelo parecido com o de outras companhias internacionais. Isso permitiu à empresa oferecer seus serviços em países onde sua atuação fosse legalmente autorizada, em áreas como segurança diplomática, proteção de autoridades, missões de apoio logístico e até mesmo em zonas de guerra.
Missões secretas e presença global
A atuação da Áquila sempre foi cercada de confidencialidade. Segundo informações de portais como G1 e de veículos especializados em defesa, há indícios de que a empresa já operou na República Centro-Africana e em outras regiões instáveis da África e do Oriente Médio. Entre suas possíveis missões estariam a proteção de diplomatas e assessoria tática em territórios de alto risco.
Mas, por exigência contratual, os detalhes são escassos. Conforme explicou o coronel da reserva Paulo Ribeiro Lima, ao portal Defesa em Foco, “essas companhias operam nas sombras por exigência contratual e pelo tipo de serviço que prestam. Divulgar detalhes seria colocar em risco vidas e operações inteiras”.
Quem pode ser um soldado da Áquila?
A seleção para integrar esse exército privado é uma das mais rigorosas do mundo. Para se candidatar, o militar precisa cumprir requisitos específicos:
- Ser brasileiro e da reserva de 1ª categoria;
- Ter no mínimo três anos de experiência real em unidades operacionais como o Comando de Operações Especiais, paraquedistas, inteligência ou o 1º BIS;
- Não ter deixado a ativa há mais de 10 anos;
- Possuir ficha limpa e sem histórico de expulsão por desonra.
Além disso, os salários oferecidos são significativamente superiores aos pagos a militares da ativa, o que tem atraído veteranos de elite que não se adaptaram à vida civil.
Uma pausa estratégica
Apesar do histórico de atuação internacional, a Áquila suspendeu temporariamente suas operações. Isso ocorreu quando Roberto Escoto assumiu um cargo público como diretor da ApexBrasil, agência federal voltada à promoção de exportações. Para evitar conflito de interesses, ele se afastou da gestão da empresa. A expectativa é de que, ao término de sua função pública, a Áquila retome suas atividades.
Um mercado bilionário e em expansão
As empresas militares privadas estão longe de ser uma exclusividade brasileira. Estima-se que esse mercado movimente mais de US$ 100 bilhões anuais, segundo a Statista e a Brookings Institution. Países como Estados Unidos, Reino Unido e Rússia utilizam amplamente esse tipo de força em missões que exigem discrição e flexibilidade operacional.
A empresa americana Blackwater (hoje Academi) é um dos exemplos mais famosos: atuou no Iraque a partir de 2006, com mais de 100 mil contratados ao serviço do Departamento de Defesa dos EUA.
O debate no Brasil: orgulho ou risco?
No Brasil, a existência da Áquila abriu uma discussão delicada. De um lado, há quem veja o projeto como uma valorização da expertise militar nacional, oferecendo uma saída digna e lucrativa para veteranos altamente treinados. De outro, surgem alertas sobre os riscos de militarização fora do controle estatal e os limites éticos dessa atividade.
A Constituição brasileira proíbe exércitos paralelos no território nacional, mas não veda que brasileiros atuem como contratados de empresas estrangeiras. Isso cria um paradoxo: militares de elite do Brasil combatendo em cenários de guerra no exterior, enquanto o tema mal é debatido internamente.
O professor de Relações Internacionais da FGV, Guilherme Casarões, defende mais fiscalização: “É preciso haver regulamentação clara e fiscalização rigorosa. Essas empresas são eficientes, mas também perigosas se atuarem fora de limites legais”.
O futuro da segurança privada de combate
Com o avanço tecnológico, a multiplicação de conflitos assimétricos e o encolhimento das tropas regulares em diversos países, as empresas militares privadas devem crescer ainda mais nos próximos anos. E o Brasil, ainda que discretamente, já entrou nessa nova corrida global com a marca da Áquila.
Mesmo suspensa, a empresa abriu um precedente inédito: mostrou que o país tem capital humano e experiência militar para operar em ambientes hostis com alto nível de profissionalismo. E talvez, num futuro próximo, vejamos novamente o nome Áquila surgindo em operações internacionais, sempre envolto em silêncio, mas carregado de peso estratégico.
E você, o que acha disso tudo? Você é a favor da atuação de empresas como a Áquila? Acha que um exército privado brasileiro é uma boa ideia ou um risco disfarçado? Deixe seu comentário aqui embaixo, compartilhe este artigo com amigos e ajude a levar essa discussão para mais pessoas. Afinal, esse tema vai muito além da curiosidade, ele diz respeito ao futuro da defesa nacional e ao papel do Brasil no mundo.