Militares brasileiros que integram a Missão das Nações Unidas para a Estabilização da República Democrática do Congo (MONUSCO) relataram estar protegidos em bases da ONU na cidade de Goma, na África Central. A informação foi divulgada pelo portal Gazeta do Povo. A cidade foi invadida no último domingo (26) por tropas do movimento rebelde M23 e da Aliança do Rio Congo, que possuem armamentos pesados e sofisticados. As instalações da ONU foram alvos de ataques, mas os brasileiros afirmam que seguem em segurança e com suprimentos, apesar da necessidade de racionamento.
A aliança rebelde conta com cerca de quatro mil combatentes e utiliza drones de ataque, foguetes e guerra eletrônica para desativar os sistemas de comunicação da ONU. O governo da República Democrática do Congo acusa Ruanda de apoiar os insurgentes, fornecendo tropas profissionais e armamentos. O Conselho de Segurança da ONU analisa sanções contra o país vizinho, mas até o momento as forças de paz enfrentam dificuldades para conter o avanço rebelde.
Pelo menos 17 soldados da ONU foram mortos nos combates em Goma e na cidade de Sake. Embora a MONUSCO tenha tentado impedir a invasão, seu armamento é voltado para combater milícias locais e não forças bem equipadas como as que avançam sobre o leste do Congo. Agora, os rebeldes se preparam para marchar em direção a Bukavu, no Kivu Sul, enquanto a ONU busca evitar novos confrontos diretos.
Os cinco militares brasileiros em Goma permanecem de prontidão dentro das bases da ONU e não podem sair devido à insegurança. O coronel Felipe Drumond Moraes afirmou que as tropas têm reforçado a segurança e que todas as vezes que soam alertas de bombardeios, os militares precisam se abrigar em bunkers. “A ONU prepara bem a estrutura de suas bases para momentos de crise. Não tem faltado suprimentos, mas precisamos racioná-los até que seja possível um novo reabastecimento”, explicou.
A missão de paz da ONU é comandada atualmente por um general senegalês, mas será substituído em breve pelo brasileiro Ulisses Mesquita Gomes, que já foi designado para o cargo. O novo comandante pretende investir na diplomacia militar para tentar convencer os rebeldes a deixarem Goma sem novos confrontos. Enquanto isso, a missão das Nações Unidas foca na defesa das bases e na assistência humanitária para milhares de refugiados que fogem do conflito.
O Exército Brasileiro destacou que as bases da ONU sofreram danos devido aos ataques de artilharia, e que muitos soldados congoleses que se renderam buscaram refúgio nessas instalações. Essa situação tem gerado desafios logísticos e risco de crise sanitária, pois as estruturas não foram projetadas para acomodar um grande número de refugiados simultaneamente.
Conflito no Congo se intensifica e ameaça missão da ONU
O fechamento do aeroporto de Goma aumentou as dificuldades para as tropas internacionais, pois os reforços da ONU só poderiam chegar por via aérea. Como as estradas na região são precárias, a impossibilidade de transporte representa uma ameaça à continuidade da missão de paz. Representações diplomáticas de vários países, incluindo França, EUA e Uganda, também foram atacadas durante os confrontos.
Além dos militares em Goma, o Brasil mantém dez instrutores de guerra na selva na cidade de Beni, que até o momento não foi atingida pelos combates. Esses profissionais estão encarregados de treinar o Exército congolês, e o Exército Brasileiro confirmou que todos seguem em segurança.
O conflito no leste do Congo tem origem em disputas étnicas e no controle de recursos naturais valiosos, como ouro, estanho e coltan, um mineral essencial para a produção de eletrônicos. O M23 já havia tomado Goma em 2012, mas foi derrotado no ano seguinte sob o comando do general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz. A retomada dos ataques pelo grupo rebelde, agora mais bem equipado e apoiado por Ruanda, reacendeu a instabilidade na região.
O Brasil tem participado da missão da ONU na República Democrática do Congo há mais de uma década, enviando oficiais para cargos de comando e assessoramento. Agora, o Exército Brasileiro tem intensificado o treinamento de tropas de paz, e a possibilidade de um maior envio de militares brasileiros para a região não está descartada.