O professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ, Daniel de Pinho Barreiros, criticou o que chamou de “precariedade militar da América do Sul” em artigo publicado no portal Outras Palavras no dia 6 de fevereiro.
Segundo o especialista, se considerarmos os orçamentos e o pessoal ativo no total da população, a América do Sul apresenta níveis apenas moderados de militarização e gastos militares de apenas 1% e 2% do PIB (Produto Interno Bruto), número bem abaixo de regiões como Europa e América do Norte.
Barreiros argumenta que a guerra moderna precisa de mais do que quantidade de militares. Ou seja, forças mais profissionalizadas e tecnologias intensivas, como, por exemplo, guerra cibernética.
“Pesando ainda mais sobre as desvantagens numéricas sul-americanas está a sua quase absoluta dependência tecnológica em relação a potências estrangeiras. Esse é um prospecto que dificilmente pode ser revertido no curto prazo, embora os exemplos da Índia e da China soem como promissores. Há, contudo, um abismo entre as condições políticas e econômicas que permitiram a Délhi e a Pequim garantir suficiente autonomia tecnológica militar nacional, e aquelas vigentes na América do Sul”.
De acordo com o professor da UFRJ, nem mesmo no que diz respeito ao básico, como armas leves, blindados e artilharia, os países mais militarizados do continente americano têm autonomia.
Entre as nações, somente o Brasil seria uma relativa exceção. Em comparação com Argentina, Venezuela, Peru, Colômbia e Chile, por exemplo, a nação verde e amarela também seria a única a contar com alguma capacidade, ainda que limitada, de construção de vasos de guerra.
No que diz respeito ao poder aéreo, Daniel Barreiros relata que o Brasil dispõe de engenharia e indústrias para a produção de aeronaves. Mas, mesmo nesse caso, é fortemente dependente da tecnologia estrangeira.
Apesar de a hegemonia norte-americana estar ameaça na atualidade, e depender de indústrias russas e chinesas pareça um mal necessário, o autor destaca que não há dependência melhor que outra quando o assunto é preservar ou ampliar os graus de liberdade e autonomia nacional perante o sistema.
“Uma política externa altiva e independente, se perseguida de maneira vigorosa na América do Sul, pode, no curto prazo, produzir ruídos capazes de gerar paralisia em elementos vitais para a preservação da integridade territorial e da segurança nacional, a depender do grau de exposição enfrentado por um determinado país. Esse é o preço da dependência tecnológica”.