Oitenta anos depois, a Marinha anunciou que obteve os dados de posição e profundidade do antigo Navio-Auxiliar Vital de Oliveira, torpedeado em 19 de julho de 1944 pelo submarino alemão U-861A a cerca de 65 quilômetros do litoral de Macaé (RJ). Ao todo, 99 marinheiros morreram no episódio.
De acordo com informações da Força Naval, divulgadas no dia 31 de janeiro, os dados foram coletados durante a comissão Teste de Mar e Comissionamento, do atual Navio de Pesquisa Hidroceanográfico Vital de Oliveira na manhã do dia 16 de janeiro com o uso de materiais como ecobatímetro multifeixe (que mapeia o relevo do fundo oceânico) e sonar de varredura local (que gera imagens acústicas de alta resolução).
O fato de os dados terem sido coletados na comissão por um navio homônimo (de mesmo nome), em homenagem ao Capitão de Fragata Manoel Antônio Vital de Oliveira, reveste a ocasião de especial simbolismo.
A descoberta do local de naufrágio do Vital de Oliveira foi realizada originalmente pelos irmãos mergulhadores José Luiz e Everaldo Pompermayer Meriguete, ao atenderem o chamado de um pescador cuja rede ficou presa ao fundo do mar. Depois de pedirem o auxílio de Domingos Afonso Jório, mergulhador de grandes profundidades, eles descobriram que a rede de pesca estava presa em um canhão e reportaram o fato à Marinha.
Apesar de o naufrágio de 50 metros de profundidade ser conhecido há décadas, a Marinha afirma que carecia de comprovação inequívoca de que se tratava realmente do Vital de Oliveira.
Em entrevista ao jornalista Jorge de Souza, que mantém a coluna Histórias do Mar no UOL, o Capitão de Corveta Daniel Gusmão enfatizou que, para fins científicos, era preciso ter uma confirmação cabal e que isso só foi possível agora, com a utilização de modernos sonares e captadores de imagens.
“Até hoje, não tínhamos uma embarcação capaz de fazer isso com precisão. Mas, dias atrás, surgiu uma oportunidade e um navio de pesquisas foi enviado ao local, para comprovar a identidade do NAp Vital do Oliveira, afundando pelos nazistas na guerra. As imagens que ele colheu não deixam dúvidas de que se trata realmente daquele navio. Mas, ainda assim, é preciso esperar a comprovação 100% científica, através da análise detalhada das imagens”.
Além de ser um fato importante para Arqueologia, História, Antropologia e Engenharia Naval, a Marinha afirma que os estudos vão gerar conhecimento mais robusto sobre o fato e possibilitarão a criação de modelos tridimensionais do naufrágio. A Força também pretende capturar fotos e vídeos sobre o material da embarcação e eventuais artefatos associados ao naufrágio.
Segundo o arqueólogo da Divisão de Arqueologia Subaquática da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, Capitão-Tenente Caio Cezar Pereira Demilio, o estudo será integrado ao projeto Atlas dos Naufrágios de Interesse Histórico da Costa do Brasil, voltado para a identificação e catalogação de embarcações naufragadas ao longo do litoral brasileiro.

Como era o Navio Auxiliar Vital de Oliveira?
De acordo com documentação da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, o Navio Auxiliar/Navio Faroleiro Vital de Oliveira foi incorporado à Força em 29 de outubro de 1931.
Tratava-se de um navio de casco de aço, propulsão a vapor, 540 HP, hélice, 1.300 toneladas de deslocamento e proporções de 82,29 metros de comprimento total, 12,80 metros de boca e 4,26 metros de pontal.
Pertencente à Companhia Nacional de Navegação Costeira Lage & Irmãos, onde era usado no serviço de passageiros de carga com o nome Itaúba, foi rebatizado de Vital de Oliveira ao ser incorporado pela Marinha, em homenagem ao Capitão de Fragata Manoel Vital de Oliveira, morto em combate no dia 2 de fevereiro de 1867 a bordo do Encouraçado Silvado, em Curupaiti, durante a Guerra do Paraguai.
Sob o comando do Capitão de Fragata João Baptista de Medeiros Guimarães Roxo, teve a popa atingida pelo torpedo disparado do submarino alemão, que o fez afundar em 3 minutos.
Entre os mortos estão 3 oficiais subalternos, 3 suboficiais, 16 sargentos, 15 cabos, 9 primeiras classe, 25 segundas-classe, 10 grumetes, 11 taifeiros, 6 fuzileiros navais e 1 menor passageiro.