As Forças Armadas brasileiras ao longo de muitos anos foram vistas como uma instituição de estabilidade e segurança, oferecendo salários e benefícios que podiam mudar a vida dos jovens. Entretanto, nos últimos anos a coisa parece estar em franca mudança, um movimento crescente de militares buscando deixar a farda tem ganhado força. A cada dia percebe-se nos documentos oficiais das Forças Armadas o desligamento de oficiais e sargentos concursados, jovens militares de carreira que teriam possibilidade de permanecer durante toda a vida como militares.
Nas redes sociais a discussão sobre as causas da chamada “debandada de militares” gira em torno de salários baixos, pouca possibilidade de crescimento na carreira e condições de trabalho que frequentemente passam por questões de assédio moral e abuso de autoridade. O ex-sargento do Exército Alvin Azevedo se tornou uma das vozes mais influentes desse movimento, discutindo de forma franca essas questões e sugerindo que se faça denúncias para que haja mudança.
Residente nos Estados Unidos, em seus vídeos, o ex-militar compartilha sua experiência de nove anos na caserna e os desafios que enfrentou ao decidir sair. Seu conteúdo tem gerado debates acalorados entre militares da ativa, veteranos e até advogados especializados na área militar.
Militares buscam alternativas fora das FA, Alvin Azevedo fala em propósito
O ingresso no Exército através da Escola de Sargentos das Armas (ESA) garante uma carreira estruturada, mas que pode parecer limitada para alguns. Um primeiro-sargento, após cerca de 20 anos de serviço, recebe atualmente em torno de R$ 7,5 mil – valor que é bastante inferior ao de diversas carreiras públicas e privadas, que não demandam risco de vida e jornadas de trabalho imprevisíveis. Diante disso, muitos militares começam a se questionar sobre seu futuro e buscam alternativas fora das fileiras.
Uma reportagem recente da Revista Sociedade Militar mostrou que o plano de carreira da Guarda Municipal do Município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, proporciona ao final um salário de R$ 13.7 mil, valor bem mais alto do que a as últimas posições na carreira dos militares no Exército, Marinha e Força Aérea que ingressam por concurso público.
Azevedo defende que a saída das FA não deve ser apenas uma decisão financeira, mas sim uma busca por propósito. “Saí das Forças Armadas porque queria mais para minha vida. Ninguém me apoiou, diziam que eu estava jogando tudo fora. Mas eu sabia que precisava lutar pelo meu próprio caminho”, declarou em um de seus vídeos.
Na descrição do seu programa, a venda na plataforma Hotmart, Alvin Azevedo narra que faturou mais de 12 milhões de reais só em 2022 e que tem 7 empresas.
” Hoje, ele é considerado um dos maiores especialista em RENDA EXTRA do país com mais de 15 anos de experiência. Atualmente mora nos EUA onde estuda a arte e as técnicas da RENDA EXTRA com os MAIORES especialistas do mercado americano como Tony Robins e Dean Graziosi. Com 7 empresas alcançou a incrível marca de 12 milhões de reais de faturamento com RENDA EXTRA em 2022. NO PROJETO AZIMUTE ele ensina você Sargentos a construir RENDAS EXTRAS que lhes proporcionam ganhos 3x MAIORES QUE SEU SOLDO. Sabe qual é o mais legal? Você não vai precisar largar as Forças Armadas para isso.” (Fonte Hotmart)
Seus conteúdos incentivam militares a explorarem novas oportunidades, investirem em negócios próprios e até a tentarem a vida no exterior. “Cada aula é um passo mais perto da sua liberdade. Você está pronto para dar o primeiro?” – questiona Azevedo em uma postagem sobre sua mentoria, que tem como objetivo auxiliar militares na transição para a vida civil e até para que obtenham um visto permanente para residir nos Estados Unidos.
Debates e polêmicas: um ambiente tóxico ou apenas reflexo da hierarquia?
Os discursos do ex-sargento geram forte repercussão, com opiniões divididas. Nos comentários de suas publicações, alguns apoiam sua visão e relatam abusos dentro das FA, enquanto outros alertam que a vida fora do militarismo não é tão simples quanto parece.
“Tá na hora de nos unirmos se quisermos acabar com abuso de poder dentro das Forças Armadas e Auxiliares!”, escreveu um seguidor.
Por outro lado, há quem defenda que os problemas enfrentados dentro da caserna não são exclusivos do meio militar. “Não acontece só nas FFAA! No mundo corporativo, há as mesmas dificuldades, perseguições e abusos. A diferença é que, fora das Forças Armadas, a Justiça do Trabalho pode intervir”, argumentou um ex-militar que declarou que hoje atua como advogado.
Outros destacam que a disciplina rígida da instituição pode, sim, gerar abusos, mas que a hierarquia e a cultura militar também oferecem vantagens e oportunidades. “Tem oficial brilhante que é perseguido por outro oficial mais antigo. O problema não é só entre oficiais e praças, mas sim um sistema que potencializa desvios de caráter”, pontuou um usuário.
A vida fora da caserna é uma ilusão vendida por Alvin Azevedo?
Além das discussões sobre hierarquia e disciplina, há também nos campos de comentários dos posts do ex-militar muitas dúvidas sobre o futuro fora das Forças Armadas. Pelo que se percebe nas manifestações de militares que seguem o ex-sargento, muitos têm receio de não conseguirem se adaptar ao mercado de trabalho civil.
Críticos de Azevedo questionam suas intenções, acusando-o de vender uma “ilusão” sobre a vida fora da farda. “Nunca vi um milionário correndo desesperadamente atrás de alunos para os tornarem milionários também… Detalhe pequeno: ele não mostra uma fonte de renda nas propagandas”, provocou um internauta.
O ex-sargento rebateu com ironia: “Tá bom, cara. Você venceu, eu trabalho de Uber. Pronto. Tá satisfeito?”.
Apesar das críticas, a procura por alternativas à carreira militar continua crescendo. O que antes era um tabu, hoje se tornou um tema amplamente discutido entre os próprios militares.
Sair ou ficar? A decisão continua sendo individual
O debate acalorado nas redes sociais mostra que não há uma resposta única para a questão. Enquanto alguns militares admitem que encontram na farda um caminho de estabilidade e realização, outros sentem a necessidade de buscar novos horizontes, seja por conta do ambiente de trabalho ou de questões financeiras. A única certeza, o que Alvin e outros deixam bem claro, é que a decisão de sair das Forças Armadas, depois de conseguir ingressar por concurso, deve ser bem planejada.