Duas das maiores mentiras contadas sobre a História do Brasil
Algumas histórias do Brasil mal contadas são fruto de desinformação. Outras são narrativas convenientes para certos grupos. O fato é que muita gente compra essas histórias sem nem se dar ao trabalho de olhar os fatos. A Revista Sociedade Militar ouviu especialistas sobre o assunto e trouxe duas das mentiras mais persistentes sobre a História do Brasil.
1) O Brasil entrou na Guerra do Paraguai porque a Inglaterra mandou
Essa é uma das maiores falácias sobre a história do Brasil. A versão que muitos repetem por aí diz que o Brasil foi manipulado pelos britânicos para atacar o Paraguai em 1864. Quem conta essa história pressupõe que fôssemos apenas um fantoche de Londres.
É preciso considerar o seguinte: um país do tamanho do Brasil, com um império consolidado, seria arrastado para uma guerra contra a sua própria vontade? Isso não faz o menor sentido.
A realidade é bem diferente: quando a Guerra do Paraguai começou, Brasil e Reino Unido estavam com relações diplomáticas rompidas. Isso ocorreu por causa da questão Christie (1863), um escândalo diplomático que levou Dom Pedro II a cortar relações com os britânicos.
Além disso, o conflito foi provocado pelo próprio Paraguai, que invadiu a província de Mato Grosso. Posteriormente, o território argentino. O Brasil reagiu porque foi atacado – não porque Londres mandou.
Essa teoria da conspiração sobre a “guerra a mando dos ingleses” não se sustenta nos fatos, mas ainda tem quem repita por aí.
2) O Império não queria abolir a escravidão e abandonou os ex-escravizados
Outra mentira contada como verdade absoluta é que o governo imperial só aboliu a escravidão “por obrigação”. Assim, não fez nada para ajudar os ex-escravizados depois da Lei Áurea.
A questão aqui é: quem realmente abandonou os ex-escravizados foi a República.

Quando a escravidão foi abolida, em 1888, a princesa Isabel e um grupo de políticos abolicionistas já estavam organizando um plano para garantir sobretudo terra e oportunidades econômicas para os libertos. Havia um esforço para uma reforma agrária no Rio de Janeiro, financiada por um banco privado. O projeto passaria por votação na nova legislatura do parlamento em 20 de novembro de 1889.
Cinco dias antes dessa data, o que aconteceu? A Proclamação da República.
A nova República, que derrubou a monarquia, engavetou qualquer iniciativa de integração dos ex-escravizados. Os mesmos militares e políticos que tomaram o poder garantiram que os grandes latifundiários não fossem prejudicados. Além disso, os republicanos garantiram a marginalização da mão de obra negra.
Dizer que o Império “não queria” abolir a escravidão e que não fez nada depois da abolição é simplesmente ignorar os fatos históricos.
Quando a História vira narrativa
A história do Brasil é cheia de reviravoltas. No entanto, algumas versões são propagadas por conveniência política e ideológica. O problema não é questionar os fatos, mas sim inventar narrativas que não se sustentam quando analisamos o contexto real.
O Brasil não entrou na Guerra do Paraguai por ordem dos britânicos. O Império não simplesmente “lavou as mãos” após a abolição da escravidão. Mas como essas mentiras são úteis para certos grupos, elas continuam sendo repetidas.