Em tempos de crescente interconectividade, as ameaças cibernéticas se tornaram uma das maiores preocupações globais.
Organizações, governos e até mesmo forças armadas estão se adaptando a esse novo cenário digital para garantir sua segurança.
O que você provavelmente não sabia é que, no sul da França, está acontecendo um dos maiores exercícios de ciberdefesa do mundo, reunindo 15 mil militares em uma preparação para um tipo de guerra digital cada vez mais presente no cotidiano.
O exercício cibernético que está em andamento pode fornecer pistas cruciais sobre essa realidade.
A magnitude do DEFNET: ciberdefesa em alta escala
Desde o início deste mês, 15 mil militares franceses de diferentes ramos das Forças Armadas (Exército, Marinha, Força Aérea e Força Espacial) estão envolvidos no maior exercício de ciberdefesa do país, denominado DEFNET.
Este treinamento é um evento anual, mas em 2025 ele ganha proporções ainda maiores, com a participação de um número recorde de soldados.
O objetivo é testar e reforçar as defesas cibernéticas do país, usando cenários criados para simular ataques cibernéticos reais.
Esses cenários são tão realistas que poderiam ser facilmente confundidos com ameaças de fato, e incluem situações extremas, como o risco de ataques aos sistemas de armas mais avançados da França.
Em um dos casos simulados, os militares enfrentam o desafio de conter um ataque originado de uma simples pen USB infectada, que, em um contexto real, poderia ser suficiente para danificar sistemas militares vitais, como os de mísseis em um navio de guerra.
A ameaça é real e perigosa, e esse tipo de exercício garante que os militares saibam como reagir rapidamente para proteger seus sistemas de defesa.
Este tipo de treinamento, que ocorre em uma base naval na cidade de Toulon, no sul da França, é fundamental para preparar os soldados para a crescente ameaça digital que afeta não apenas as guerras convencionais, mas também os campos de batalha virtuais.
Simulação de ciberataques inspirada na realidade geopolítica
O exercício DEFNET não é apenas uma simulação de ataque qualquer, mas um treinamento inspirado em cenários reais, muitos dos quais têm como base eventos geopolíticos recentes, como a invasão da Ucrânia pela Rússia.
A guerra digital tem sido uma das características mais marcantes desse conflito, e a França decidiu usar esses exemplos para treinar suas forças para reações rápidas e precisas em um ambiente cibernético de guerra.
A guerra digital já não é mais um conceito futurista, mas uma realidade presente, que pode ter consequências tão graves quanto a guerra tradicional.
Por trás de cada treinamento, está o trabalho árduo de especialistas em cibersegurança, como o Mestre Antoine, da Marinha francesa.
Ele e sua equipe são responsáveis por identificar e neutralizar ameaças cibernéticas, analisando detalhes técnicos e investigando de onde vieram os ataques.
Em uma das simulações, por exemplo, eles estão lidando com um vírus que comprometeu sistemas militares, e o processo inicial envolve coletar amostras do hardware infectado e realizar uma análise forense para entender a origem do ataque.
“É essencial que pratiquemos os procedimentos e utilizemos as ferramentas necessárias para que, em caso de um incidente real, sejamos eficientes e operacionais“, explica o Mestre Antoine à Euronews.
O foco do exercício é garantir que os militares estejam totalmente preparados para responder rapidamente a qualquer incidente cibernético e evitar que sistemas essenciais sejam comprometidos.
A evolução das forças de defesa digital da França
Hoje, a França conta com 4 mil oficiais especializados em ciberguerra, mas, com o aumento das ameaças digitais, os planos para 2030 são audaciosos: a expansão da força de defesa digital para 5 mil profissionais.
Esse número, embora impressionante, ainda é pequeno perto da demanda crescente por especialistas em segurança cibernética em todo o mundo, o que reflete a enorme importância de garantir a proteção de sistemas militares, financeiros e industriais.
Além do exercício DEFNET, em maio deste ano, será realizado um evento internacional na Estônia. O país sediará outro exercício de ciberdefesa de grandes proporções, onde os aliados da OTAN poderão testar suas capacidades de defesa digital de forma conjunta.
Esse tipo de colaboração internacional é fundamental para fortalecer a segurança digital global, já que ataques cibernéticos podem afetar múltiplos países ao mesmo tempo, com impactos devastadores em diversas áreas.