A Alemanha anunciou uma mudança radical em sua política econômica e fiscal, rompendo com décadas de austeridade para investir pesadamente em defesa e infraestrutura. A decisão foi comunicada pelo provável futuro chanceler Friedrich Merz, em uma coletiva de imprensa em Berlim. Com a nova estratégia, os gastos militares deixarão de ser limitados pelas rígidas regras fiscais alemãs, marcando uma nova era para o país. A informação foi divulgada pelo InvestNews.
Durante o anúncio, Merz justificou a decisão afirmando que a Europa enfrenta ameaças crescentes à sua segurança e que a Alemanha precisa se rearmar para garantir sua defesa e estabilidade econômica. Além dos investimentos militares, o plano prevê um pacote bilionário para modernizar a infraestrutura do país, que sofre com problemas em sua rede elétrica, transporte ferroviário e telecomunicações.
A guinada na política fiscal alemã ocorre em um momento de grande incerteza geopolítica. Com a postura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de se distanciar da defesa europeia e incentivar países da Otan a aumentarem seus próprios gastos militares, Berlim decidiu assumir maior protagonismo na segurança do continente. A mudança também pode incentivar outras nações europeias a reforçarem seus orçamentos de defesa.
Os impactos econômicos da decisão já começaram a ser sentidos. O índice de ações blue-chip da Alemanha subiu mais de 3% após o anúncio, e empresas do setor de defesa, como a Rheinmetall, viram sua capitalização de mercado disparar, se aproximando do valor da Volkswagen. No entanto, os títulos públicos alemães registraram queda, com investidores antecipando um aumento na emissão de dívida para financiar os investimentos.
Segundo Jens Südekum, professor da Universidade Heinrich-Heine e um dos economistas responsáveis por modelar o plano, os investimentos podem gerar um impacto positivo significativo no PIB alemão. Uma simulação apontou que um fundo de €500 bilhões poderia resultar em €750 bilhões adicionais na economia até 2035, sem provocar pressões inflacionárias significativas.
Mesmo com a expectativa de crescimento econômico, a decisão ainda precisa ser aprovada no Parlamento alemão, onde é necessária uma maioria de dois terços para alterar as regras fiscais da constituição. Além disso, Merz e seus aliados políticos ainda precisam definir o volume exato dos gastos militares e a forma como o financiamento será distribuído.
Especialistas avaliam que o fortalecimento da indústria de defesa alemã pode transformar o país em um exportador relevante no setor, ampliando sua participação no mercado global de armas. Atualmente, a Alemanha representa apenas 5,6% das exportações militares mundiais, enquanto os Estados Unidos lideram com 42%. O setor pode se tornar um novo motor de crescimento para a economia alemã.
Outro ponto destacado pelos economistas é o possível efeito positivo dos investimentos militares sobre a produtividade e a inovação. Historicamente, avanços tecnológicos impulsionados por gastos em defesa, como a internet e o GPS, tiveram grande impacto na economia civil. A modernização da infraestrutura também pode aumentar a competitividade da Alemanha a longo prazo.
No entanto, desafios permanecem. A escassez de trabalhadores qualificados na Alemanha pode dificultar a implementação dos projetos de infraestrutura, pressionando salários e aumentando o risco de inflação. Além disso, há incertezas sobre o impacto dos gastos militares na economia europeia, especialmente para países mais endividados que podem ter dificuldades para acompanhar a tendência de aumento nos investimentos em defesa.
A decisão do governo alemão representa uma das maiores mudanças econômicas do país em décadas e pode redefinir o equilíbrio de forças na Europa. Enquanto líderes políticos e economistas debatem os efeitos da nova estratégia, os mercados reagem com otimismo à perspectiva de um crescimento econômico mais acelerado nos próximos anos.