A credibilidade das Forças Armadas brasileiras enfrenta um declínio expressivo, conforme revela uma pesquisa recente da AtlasIntel, realizada para a CNN Brasil.
Sete em cada dez brasileiros afirmam não confiar no Exército, na Marinha e na Força Aérea, demonstrando um afastamento significativo entre as instituições militares e a população.
Apenas 24% dos entrevistados disseram confiar nas Forças Armadas, enquanto 4% declararam indecisão sobre a questão.
Pesquisa aponta queda contínua na confiança
O levantamento foi conduzido entre os dias 11 e 13 de fevereiro, ouvindo 817 pessoas de forma aleatória via internet.
A amostra foi ajustada para refletir a composição demográfica da população adulta brasileira, com margem de erro de três pontos percentuais e 95% de confiança.
A série histórica da pesquisa mostra que, em abril de 2023, 46% confiavam nas Forças Armadas, enquanto 37% demonstravam desconfiança.
No entanto, desde então, os índices vêm caindo: 36% ainda confiavam em julho de 2023, mas atualmente esse percentual despencou para 24%.
Polarização e crises políticas impactam a imagem militar
Especialistas apontam que a polarização política contribuiu para a deterioração da imagem das Forças Armadas.
Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), houve uma divisão entre apoiadores e opositores do Exército, conforme avalia Andrei Roman, CEO da AtlasIntel.
“Os bolsonaristas viam os militares de forma positiva, enquanto setores da esquerda passaram a rejeitá-los.
Mas, com a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao poder, houve uma reviravolta: bolsonaristas começaram a criticar a postura dos militares, alegando falta de apoio ao ex-presidente em supostos planos de resistência”, explica Roman.
Além disso, a imagem das Forças Armadas sofreu abalos devido às investigações sobre uma tentativa de golpe de Estado, supostamente articulada por Bolsonaro e seu ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto.
Segundo a delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, um decreto para instaurar o estado de defesa foi apresentado aos comandantes militares, mas rejeitado pelo então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes.
O ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, teria expressado apoio, mas nega envolvimento, assim como Bolsonaro.
Escândalos e marketing militar polêmico
Outros fatores também contribuíram para desgastar a imagem das Forças Armadas. Um exemplo foi um vídeo institucional da Marinha, divulgado em dezembro, comparando a vida dos militares à dos civis.
O slogan da campanha, “Privilégios? Vem para a Marinha!”, gerou forte repercussão negativa.
Para piorar, uma investigação revelou que um oficial ligado ao departamento de comunicação da Marinha recebeu cerca de R$ 216,3 mil líquidos em dólares, somando salário, gratificações e verbas indenizatórias.
Não são somente as forças armadas: outras instituições também sofrem com falta de credibilidade
A pesquisa Atlas também avaliou a confiança em outras instituições brasileiras. Atualmente, a Polícia Federal é a mais confiável, com 53% de aprovação.
Em seguida, estão a Polícia Militar (50%) e o Supremo Tribunal Federal (49%).
Por outro lado, o Congresso Nacional é a instituição menos confiável do país, com apenas 9% dos brasileiros dizendo acreditar no Poder Legislativo, enquanto 82% expressam desconfiança.
Outros destaques negativos incluem as igrejas evangélicas (18% de confiança, contra 73% de descrédito) e as prefeituras (24% de confiança e 62% de desconfiança).
Polêmicas no Congresso também foram analisadas
A pesquisa Atlas também sondou a opinião pública sobre propostas em discussão no Congresso Nacional.
O corte de gastos públicos é a medida mais popular, com 54% de apoio, enquanto apenas 28% são contra e 17% se declaram indecisos.
Outro tema polêmico é a anistia aos presos dos atos de 8 de janeiro, com 51% favoráveis e 49% contrários.
Já a proposta de permitir que deputados e senadores mantenham controle sobre as emendas impositivas tem apenas 32% de aprovação, enquanto 83% se opõem.
A redução do prazo de inelegibilidade dos políticos atingidos pela Lei da Ficha Limpa também enfrenta resistência.
A pesquisa revela um cenário de grande desconfiança em relação às principais instituições do país, indicando que a credibilidade das Forças Armadas e do Congresso Nacional está em baixa junto à opinião pública.