Carlos Eduardo Martins, professor do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), acredita que estejamos em uma conjuntura histórica perigosa para a humanidade. A reflexão aconteceu em entrevista ao portal Revista Sociedade Militar sobre a diminuição do contingente das Forças Armadas Brasileiras nos últimos 4 anos.
“Penso que estamos vivenciando um período irreversível de declínio à unipolaridade e possível transição para a multipolaridade, que gera conflitos, resistências e riscos de conflitos locais com alto potencial de espalhamento e difusão”.

Quando o especialista diz unipolaridade, se refere a um conceito da ciência política sobre um sistema onde um único país exerce a maior parte do poder e influência. Já na multipolaridade, este papel é dividido com outras potências.
Na prática, a unipolaridade norte-americana começa a ser contrabalanceada por figuras como Rússia, Índia e China e nações europeias.
“A multipolaridade, embora se fortaleça com a expansão do BRICS, ainda não representa uma ordem e nem foi capaz de reformar as organizações multilaterais criadas no pós-guerra. O cenário do futuro é de riscos, mas de enormes possibilidades para o Brasil, desde que nos preparemos adequadamente para ele”.
A preparação mencionada por Carlos Eduardo Martins tem muito a ver com um gasto mais qualificado em termos de Defesa.
“O Brasil, além de gastar pouco em defesa, gasta mal: 78% dos gastos se dirigem a pagamento de pessoal, enquanto na OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] essa rubrica é bem mais baixa, em torno de 50%, o que contribui para a obsolescência tecnológica de nossas Forças Armadas”.
Assim como a alta cúpula das Forças Armadas Brasileiras e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, o especialista não acredita em problemas do Brasil com a Venezuela, pelo fato de o regime de Maduro nunca ter invadido qualquer país. Por outro lado, destaca que “sem dúvida alguma, a baixa prioridade para os gastos em Defesa são uma vulnerabilidade na defesa estratégica do Brasil e de suas fronteiras”. Para Carlos Eduardo Martins, a ameaça é outra.
“A retomada da doutrina do Destino Manifesto por Donald Trump e suas ameaças de anexação do canal do Panamá, Canadá e Groelândia, a designação de carteis latino-americanos como organizações terroristas internacionais e o Acordo de Defesa que assinou com a Guiana recolocam no Hemisfério Ocidental o tema do expansionismo dos Estados Unidos, que deve ser encarado como ameaça à soberania nas Américas”.