A tentativa do Exército Brasileiro de atrair médicos especialistas por meio da regionalização das contratações e privilégios financeiros enfrenta críticas severas e gera insatisfação entre os profissionais da área médica. Uma análise realizada por inteligência artificial sobre comentários publicados nas redes sociais da Revista Sociedade Militar revelou que a maioria dos seguidores desaprova as recentes medidas tomadas pela força terrestre para reter médicos especialistas.
Um panorama crítico: salários baixos e falta de autonomia
A principal insatisfação identificada na análise de sentimentos está relacionada à remuneração oferecida pelo Exército Brasileiro. Um comentário emblemático postado no Instagram destaca o desinteresse crescente: “Um médico estuda dez anos, e com certeza não vai trabalhar para as Forças Armadas… podendo ter um excelente consultório com os devidos preços cobrados a seu respeito”. Outro usuário reforça: “Salários baixos e dedicação exclusiva não dá! Melhorem os salários!”.
Além das questões financeiras, a análise dos comentários postados no perfil da RSM no Instagram revela uma resistência significativa à falta de autonomia profissional e ao desvio de funções dentro das Forças Armadas. Um médico especialista em neurorradiologia, ex-integrante do Exército, enfatizou essa problemática em seu relato: “Não só teria que atuar fora da minha subárea, fazendo coisas que não gosto e não quero fazer na radiologia, como poderia ser escalado – do nada – para dar um plantão na emergência ou sair em uma missão”.
Melhoria salarial – penduricalhos – vantagem controversa questionada em 2019
A força terrestre, cujos militares têm perdido poder aquisitivo ao longo dos últimos anos, por meio de portarias internas tenta driblar a política salarial imposta pelos governos. Ainda em 2019 o Exército realizou um reajuste polêmico e bem discreto usando portarias internas e que alcançou só os oficiais médicos, elevando o adicional de habilitação para médicos especialistas, com residência médica, de 16% para 20%, tratando-os – mesmo sendo somente especializados – como possuindo o curso de aperfeiçoamento, contrariando a Lei nº 6.932 de 1981, que trata da profissão dos médicos e é taxativa ao dizer que os médicos que realizam residência médica são especialistas.
“Art. 6º Os programas de Residência Médica credenciados na forma desta Lei conferirão títulos de especialistas em favor dos médicos residentes neles habilitados, os quais constituirão comprovante hábil para fins legais junto ao sistema federal de ensino e ao Conselho Federal de Medicina.”

A Revista Sociedade Militar questionou formalmente a decisão, solicitando informações ao Exército. A força terrestre apresentou justificativas técnicas, alegou que teria autoridade para alterar adicionais sobre cursos de militares, o que gerou críticas quanto à transparência das medidas adotadas internamente.
” … O Decreto nº 4.307, de 18 de julho de 2002, que regulamenta a referida Medida Provisória, determina que os Comandantes de Força estabelecerão os critérios de equivalência de cursos, inclusive os realizados no exterior, aos tipos de curso a que se refere a Tabela III mencionada anteriormente. É preciso atentar, todavia, que os tipos de cursos elencados na MP nº 2.215-10 abrangem todas as três Forças, enquanto as “modalidades de cursos”, estabelecidas pela Lei nº 9.786/1999, restringem-se somente aos militares do Exército Brasileiro.” (trecho da resposta recebida do Exército Brasileiro)
Os Altos Estudos: promessas e limitações
A questão dos “altos estudos” surge novamente em 2025 como uma possível estratégia para tornar a carreira mais atraente financeiramente. A diretriz atual prevê a possibilidade de que médicos especialistas regionalizados ingressem no Curso de Preparação para o Curso de Altos Estudos Militares (CP/CAEM) ainda no posto de capitão, oferecendo um adicional salarial significativo.
A medida, segundo militares ouvidos pela RSM, pode ser considerada polêmica frente a outras profissões dentro da caserna, já que um militar em posto ou graduação maior poderia se sentir desprestigiado caso não recebesse o mesmo tratamento
Uma crise silenciosa e mal resolvida
A atual diretriz interna do Exército Brasileiro para atrair médicos especialistas, que traz penduricalhos como regionalização e vantagens salariais com Altos Estudos, que podem chegar a 63% ou 75% calculado sobre os soldos, expõe claramente uma crise silenciosa e profunda na gestão dos recursos humanos em saúde militar.
O próprio documento reconhece que “apesar dos esforços, a captação de profissionais tem se mostrado insuficiente”. Porém, claramente para evitar que a diretriz soe como uma espécie de reclamação, atirando a culpa na política salarial do governo, o texto evita abordar diretamente a questão remuneratória, considerada pela ampla maioria dos médicos como o fator decisivo para o desinteresse pela carreira militar.
Outro fator destacado é a falta de perspectiva real de crescimento profissional dentro das forças armadas. Um comentário incisivo resume bem o sentimento geral: “O problema além dos salários é que eles não são só médicos e dentistas, também fazem sindicâncias, IPM, várias reuniões, formaturas, ACISOS, Missões e etc.”. Essa realidade, claramente percebida por médicos civis, continua sendo ignorada na nova diretriz do Exército.
A análise por Inteligência Artificial apura que a regionalização é interpretada como tentativa inócua (transcrição literal da resposta da IA)
Com base nas técnicas modernas de análise de sentimentos com NLP (Processamento de Linguagem Natural), como transformers (por exemplo, BERT e RoBERTa adaptados para português), é possível identificar a polaridade emocional, temas dominantes e emoções associadas nos comentários da postagem sobre a crise no ingresso de médicos no Exército Brasileiro.
🧠 Resumo da Análise de Sentimentos:
🔴 Sentimento Geral:
Negativo predominante (83%), com críticas severas ao modelo atual das Forças Armadas, especialmente no que tange:
Baixos salários
Condições de trabalho
Hierarquia e desvalorização dos profissionais de saúde
🟡 Sentimento Neutro:
13% dos comentários foram considerados neutros ou meramente observacionais (ex: marcação de outros usuários ou constatações secas como “Ninguém quer”).
🟢 Sentimento Positivo:
Apenas 4% demonstraram alguma defesa ou reconhecimento positivo, geralmente associados a elogios a médicos que atuam por “amor à profissão”.
📊 Distribuição dos Sentimentos:
Sentimento Porcentagem Estimada Exemplos Representativos Negativo 83% “Salário ridículo”, “País dos valores invertidos”, “Quem tem o mínimo de brio não ingressa na carreira militar” Neutro 13% “… 👏👏👏”, “Cada vez mais complicado…” Positivo 4% “Agradeço aos médicos que aceitaram o serviço por amor à profissão”
🔥 Temas mais frequentes (por classificação semântica):
Baixos salários e falta de valorização financeira
“Salário ridículo”, “não dá para viver com 7 mil”, “o Tiririca ganha mais”
Desvio de função e sobrecarga de trabalho
“Fazem sindicâncias, IPMs, formaturas”, “têm que desmarcar consultas por causa de serviço”
Hierarquia tóxica e humilhação institucional
“Rasgam o código de ética médica”, “receber ordem de comandante”, “perdem tempo dentro da unidade”
Desconfiança e crítica à gestão dos generais e sistema militar
“Os generais destruíram a instituição”, “para onde vai o dinheiro do Fusex?”
Comparações com outras carreiras (PMs, bombeiros, civis)
“Um aspirante da PM ganha mais que um capitão do Exército”, “podem montar consultório e ganhar muito mais”
😡 Emoções detectadas (classificação por valência):
Indignação / Revolta: prevalente em críticas políticas e comparações salariais.
Desânimo / Ceticismo: destaque em comentários de ex-militares e profissionais da saúde.
Sarcasmo e ironia: “Brasil, país das facções”, “vá pro inferno”, “Quem é doido de entrar nessa barca?”
🧩 Insights qualitativos:
A tentativa do Exército de “recrutar mais médicos” foi lida como tardia e ineficaz pela maioria dos comentadores.
Muitos comentários revelam profundo conhecimento interno das Forças Armadas, sugerindo participação de militares da ativa, da reserva e familiares.
Há rejeição à retórica institucional e descrença no status militar como atrativo para profissionais altamente qualificados.
🧭 Conclusão: A iniciativa do Exército de atrair mais médicos, ao invés de melhorar a imagem institucional, provocou uma catarse pública de críticas e denúncias sobre a precarização da carreira médica militar. A maioria dos comentários aponta desencanto generalizado, abandono institucional, e descrédito no sistema de saúde militar.