Um conjunto recente de imagens de satélite revelou uma presença significativa de aeronaves militares russas na base aérea de Olenya, localizada na Península de Kola, no noroeste da Rússia.
As imagens, capturadas às 08h15 UTC, mostram um grande contingente de aeronaves, incluindo 10 bombardeiros estratégicos Tu-95MS, conhecidos pela OTAN como Bear-H, e 35 bombardeiros Tu-22M3, identificados como Backfire-C. Além disso, a base abriga cinco aviões de transporte An-12 (Cub), três aviões de treinamento Tu-134UBL (Crusty) e quatro helicópteros Mi-8 (Hip).
Essa incomum concentração de 45 aeronaves em um único local levantou questionamentos sobre as intenções da Rússia, especialmente no contexto da guerra na Ucrânia e da proximidade da base com as fronteiras da OTAN. Embora Olenya tenha sido historicamente um centro estratégico para a aviação russa de longo alcance, esse nível de mobilização gera dúvidas sobre se se trata de uma preparação ofensiva, uma medida defensiva ou apenas uma movimentação logística.
Satellite images of 🇷🇺 Olenya airbase as of March 11 08:15 UTC
The airbase housed 10 Tu-95MS (Bear-H), 35 Tu-22M3 (Backfire-C), 5 An-12 (Cub), 3 Tu-134UBL (Crusty) for strategic aviation pilot training, and 4 Mi-8 (Hip). pic.twitter.com/rbQ6A4f6vi
— AviVector (@avivector) March 11, 2025
Importância estratégica da base aérea de Olenya
Localizada a cerca de 90 quilômetros ao sul de Murmansk, Olenya possui uma pista de 3.500 metros – a mais longa da Península de Kola –, tornando-se uma instalação ideal para a operação de aeronaves pesadas de longo alcance. Durante a Guerra Fria, a base foi utilizada para missões de reconhecimento naval e chegou a servir como ponto de reabastecimento para voos entre Moscou e Havana nas décadas de 1960 e 1970.
Desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, Olenya assumiu um papel central no lançamento de mísseis de cruzeiro contra alvos ucranianos. Os bombardeiros Tu-95MS e Tu-22M3 desempenharam um papel essencial nessas operações, atacando infraestruturas estratégicas longe da linha de frente.
No entanto, a recente concentração de aeronaves nessa base remota é atípica e tem chamado a atenção de especialistas em defesa que monitoram os movimentos militares da Rússia.
Padrões anteriores de mobilização
O histórico de mobilizações em Olenya sugere que concentrações semelhantes de aeronaves precederam ataques aéreos significativos. Em maio de 2023, imagens de satélite revelaram a presença de 14 bombardeiros Tu-95MS, dois Tu-160 e dois Tu-22M3, além de aviões de transporte e helicópteros. Pouco tempo depois, a Rússia lançou uma série de ataques aéreos intensos contra cidades ucranianas.
Em maio de 2024, uma nova mobilização de 12 Tu-95MS e 13 Tu-22M3 foi detectada na base, representando cerca de um terço da frota russa ativa desses modelos. Algumas semanas depois, a Rússia realizou múltiplos bombardeios com mísseis contra infraestruturas energéticas ucranianas, reforçando o padrão de que tais concentrações costumam antecipar ofensivas militares.
O atual deslocamento, que inclui 45 aeronaves, supera qualquer mobilização anterior registrada na base desde o início da guerra, aumentando as especulações sobre seu possível propósito.
Fatores geográficos e táticos
Situada a cerca de 1.800 quilômetros ao norte da fronteira com a Ucrânia, Olenya está fora do alcance da maioria dos drones e mísseis ucranianos, tornando-se um refúgio seguro para os bombardeiros russos. Essa característica tornou-se ainda mais relevante após ataques ucranianos com drones atingirem bases mais próximas, como Engels, na região de Saratov, no final de 2022 e início de 2023.
Os bombardeiros Tu-95MS e Tu-22M3 podem transportar mísseis de cruzeiro avançados, como os modelos Kh-101 e Kh-55, com alcances superiores a 2.500 quilômetros. Graças a essa capacidade, a Rússia pode atingir alvos na Ucrânia sem expor suas aeronaves ao fogo inimigo. A estratégia usual envolve decolagens a partir de Olenya, voos para o sul sobre território russo e lançamentos de mísseis de regiões próximas ao Mar Cáspio ou à região de Saratov.
Interpretações e possíveis cenários
Analistas ocidentais ofereceram diferentes explicações sobre o significado dessa mobilização incomum. Michael Clarke, especialista em defesa e ex-diretor do Royal United Services Institute, sugeriu que essa concentração pode indicar uma ofensiva aérea iminente contra a Ucrânia, planejada para explorar possíveis vulnerabilidades em suas defesas.
O fato de haver 35 bombardeiros Tu-22M3 – um número significativamente maior do que em mobilizações anteriores – sugere a possibilidade de ataques em larga escala com mísseis. No entanto, outros especialistas acreditam que essa movimentação pode estar relacionada a questões logísticas ou de manutenção.
Katarzyna Zysk, professora do Instituto Norueguês de Estudos de Defesa, indicou que o uso de Olenya evoluiu ao longo da guerra e que essa concentração pode refletir a necessidade de manutenção ou reposicionamento de aeronaves. Além disso, destacou que a proximidade da base com a Finlândia e a Noruega – ambos membros da OTAN – pode desencorajar a Rússia de realizar operações agressivas a partir desse local, por medo de provocar uma resposta da aliança.
Olenya e a OTAN: um ponto de tensão
A proximidade de Olenya com a OTAN é um fator-chave nesse cenário. Localizada a apenas 150 quilômetros da Finlândia e 200 quilômetros da Noruega, a base está dentro do raio de vigilância dos sistemas de reconhecimento aliados.
Desde a adesão da Finlândia à OTAN em 2023, os sistemas de monitoramento da aliança se aproximaram ainda mais de Olenya, reduzindo a capacidade da Rússia de utilizar a base sem ser detectada. Em diversas ocasiões, caças da OTAN interceptaram bombardeiros russos que voavam próximos ao espaço aéreo da Noruega.
Qualquer grande movimentação de aeronaves a partir de Olenya seria imediatamente registrada, eliminando o fator surpresa de um possível ataque e potencialmente desencorajando Moscou.
Preparação para um ataque ou movimentação logística?
Alguns analistas sugerem que essa concentração pode não estar diretamente ligada a uma ofensiva iminente, mas sim a atividades de manutenção ou reabastecimento. A presença de cinco aviões de transporte An-12 indica que pode haver movimentação de suprimentos ou mísseis de cruzeiro.
Os três aviões de treinamento Tu-134UBL e os quatro helicópteros Mi-8 também sugerem que a base pode estar desempenhando funções adicionais além do combate direto.
Apesar dessas possíveis explicações logísticas, o número de bombardeiros na base continua excepcionalmente alto. Historicamente, Olenya abrigava entre 10 e 25 aeronaves ao mesmo tempo, tornando a atual mobilização de 45 aviões algo digno de nota.
Em novembro de 2024, por exemplo, a base possuía 10 bombardeiros Tu-95MS que participaram de um ataque em larga escala contra a Ucrânia, lançando mísseis sobre cidades como Kiev e Odessa. Se esse novo deslocamento seguir o mesmo padrão, a Rússia pode estar preparando uma ofensiva ainda maior.
Reações internacionais
O Ocidente continua monitorando a situação de perto, embora até o momento não tenha emitido declarações contundentes. Um porta-voz do Pentágono evitou comentar diretamente sobre as imagens, mas reiterou que os Estados Unidos acompanham de perto os movimentos militares russos.
Por sua vez, fontes da Força Aérea da Ucrânia expressaram preocupação, sugerindo que essa mobilização pode estar ligada a uma estratégia para enfraquecer as defesas ucranianas antes de uma ofensiva na primavera.
Enquanto a guerra continua, a movimentação em Olenya aumenta as incertezas sobre os próximos passos da Rússia. Com 45 aeronaves estrategicamente posicionadas, o risco de uma nova escalada permanece alto, enquanto a comunidade internacional segue atenta aos desdobramentos.