Nos Estados Unidos e no Brasil, os modelos de investigação policial seguem abordagens completamente distintas, refletindo a estrutura e a divisão de atribuições de cada país. Nos EUA, a investigação começa já no patrulhamento, enquanto no Brasil, a Polícia Civil é a instituição exclusiva para conduzir os processos investigativos. A informação foi divulgada pelo Fala Guerreiro Cast e pelo canal do Professor Rafael Valle, especializado em concursos policiais.
Nos Estados Unidos, o trabalho policial é baseado na ideia de que todo agente deve estar constantemente investigando. Desde o momento em que um policial atende a uma ocorrência, ele já está analisando indícios do crime e coletando evidências. Essa abordagem é parte da doutrina policial americana, onde qualquer policial pode atuar na investigação, sendo promovido a detetive por meio de um concurso interno após experiência na patrulha.
No Brasil, a investigação segue um modelo bem diferente. A Polícia Civil é responsável por essa função, atuando por meio de delegacias organizadas em diferentes sessões investigativas. O processo se inicia quando uma ocorrência é registrada, momento em que o caso é encaminhado para uma das divisões especializadas, como crimes patrimoniais, homicídios, crimes contra a mulher, entre outras. Cada estado pode estruturar essas divisões de maneira própria, mas sempre dentro do princípio da especialização.
Enquanto nos EUA os policiais ganham experiência na investigação desde o patrulhamento e podem migrar para funções investigativas dentro da própria corporação, no Brasil os investigadores ingressam diretamente na Polícia Civil por meio de concurso público, sendo designados para delegacias onde realizam o trabalho de apuração de provas, identificação de suspeitos e elaboração de inquéritos. Esse modelo segmentado permite maior foco em investigações específicas, mas limita a experiência investigativa dos policiais militares.
A hierarquia dentro das forças policiais também apresenta diferenças marcantes. Nos EUA, detetives e sargentos detetives possuem os mesmos poderes investigativos, variando apenas no aspecto salarial e administrativo. Cargos mais altos, como tenente e capitão, são conquistados por meio de provas internas ou por indicação do xerife. No Brasil, a hierarquia da Polícia Civil é rigidamente estruturada, com carreiras distintas para agentes, escrivães e delegados, cada um com funções bem definidas e acesso a promoções de acordo com critérios administrativos.
A disponibilidade para investigação também é um fator que distingue os dois sistemas. Nos EUA, os policiais têm maior liberdade para decidir em quais crimes focar durante o patrulhamento, enquanto no Brasil, os investigadores seguem escalas fixas e podem ser acionados fora do expediente conforme a gravidade do caso. Crimes de homicídio, por exemplo, podem exigir investigação contínua, demandando que equipes trabalhem até a localização do suspeito, muitas vezes sem previsão de folga.
Outra diferença relevante está na relação com informantes. Nos EUA, unidades especializadas, como narcóticos e gangs, possuem fundos para remunerar informantes regularmente, enquanto policiais de patrulha utilizam acordos informais para obter informações. No Brasil, a colaboração com informantes segue diretrizes mais rígidas, sendo regulada por procedimentos internos das delegacias para evitar relações informais que possam comprometer a investigação.
Diante dessas diferenças, os modelos de investigação dos dois países refletem abordagens opostas no combate ao crime. Nos EUA, a unificação entre patrulhamento e investigação proporciona maior autonomia para os policiais e torna a investigação um processo contínuo. No Brasil, a segmentação das delegacias permite uma maior especialização nos crimes, garantindo investigações mais detalhadas. Ambos os sistemas possuem vantagens e desafios, adaptando-se às necessidades e realidades de suas respectivas sociedades.