A Marinha ignorou as primeiras mulheres fuzileiras navais de sua história formadas em julho de 2024 e adotou uma comunicação voltada apenas a homens em um dos vídeos da campanha publicitária Na paz e na Guerra, lançada neste sábado, 1º de sábado, em homenagem ao Dia do Fuzileiro Naval (7 de março).
Em um dos vídeos a narração é a seguinte:
“Quem são estes vibrantes guerreiros? Estes homens valentes, quem são? Da Marinha, leais fuzileiros. Eles são os combatentes anfíbios da Força Naval. Tropa de elite que opera nos mares e rios. Terra, mar e ar. Não importa a distância e nem a missão. Eles estão sempre prontos, desde 1808, para defender os interesses do Brasil e de todos os brasileiros”.
Diversos especialistas apontam que a linguagem reflete um contexto histórico e que escrever ou falar no masculino como valendo para todos é uma forma de invisibilizar o feminino na comunicação. A solução, para eles, é optar por formas abrangentes e representativas de tratamento.
Curso difundido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), por exemplo, sugere usar todos e todas (em vez de todos), homens e mulheres (em vez de somente homens), cidadãs e cidadãos (em vez de cidadãos), prezadas e prezados (em vez de prezados) e sempre tentar na medida do possível usar palavras que servem para os 2 gêneros, como, por exemplo, colega, jovem, eleitorado, representante e estudante.
A Força Naval, no entanto, usou mulheres na narração e nas imagens do vídeo.
Campanha em homenagem ao Dia dos Fuzileiros Navais acontece 3 meses após trauma com vídeo ironizando privilégios militares
A campanha publicitária institucional em homenagem ao Dia do Fuzileiro Naval acontece exatos 3 meses depois da grande polêmica causada pelo vídeo em homenagem ao Dia do Marinheiro. No vídeo, publicado em 1º de dezembro de 2024, a Marinha comparou a rotina dos militares a momentos de lazer de cidadãos e ironizou supostos privilégios dos integrantes das Forças Armadas.
Apontado como ataque indireto ao governo federal, o vídeo deixou o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, irritadíssimos já que, um dia antes, Lula almoçou com os Comandantes das Forças Armadas e com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e ficou de convencer a Haddad a adotar a idade mínima de 55 anos para a transferência pra reserva remunerada apenas a partir de 2043.
Devido à polêmica, prevaleceu a vontade de Haddad de adotá-la em 2032. Além disso, as Forças Armadas perderam a autonomia de produzir campanhas publicitárias sem aval do ministro da Defesa e o Comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, ficou muito perto de ser demitido. Todos os fatos foram confirmados por Múcio na entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 10 de fevereiro.