Militares trans questionam decisão de Trump que os expulsa das Forças Armadas dos EUA e soldados reagem: “estão jogando fora profissionais altamente treinados sem qualquer justificativa real”
A proibição imposta pelo governo Donald Trump a soldados transgênros nas Forças Armadas dos Estados Unidos tem gerado forte reação entre militares afetados e oficiais de alta patente. A medida, que determina a dispensa compulsória desses soldados, baseia-se na alegação de que eles representam altos custos de saúde e comprometem a eficácia militar. A informação foi divulgada pelo jornal “The New York Times”, que entrevistou dezenas de soldados e oficiais sobre a situação.
A sargento Julia Becraft, veterana condecorada com três missões no Afeganistão, é uma das afetadas pelo decreto. Depois de se assumir como mulher transgênro e liderar um esquadrão em Fort Cavazos, no Texas, ela relata que não encontrou resistência significativa por parte de seus colegas. “A princípio, dava para perceber que alguns estavam surpresos, mas eles viam que eu estava sendo sincera e respeitavam minha experiência”, afirmou.
Governo afirma que transgênros representam custos excessivos, mas não apresenta dados
O memorando do Departamento de Defesa divulgado na última semana reforça a posição da administração Trump ao declarar que os soldados transgênros serão dispensados por não atenderem aos “altos padrões” exigidos pelos militares. Entretanto, a medida gerou contestação imediata, especialmente pela falta de evidências que comprovem os custos elevados com saúde.
Uma decisão judicial recente obrigou o governo a divulgar os valores gastos com tratamentos médicos relacionados à transição de gênero. Os números revelam que, desde 2015, os gastos somam US$ 52 milhões, o que equivale a cerca de US$ 9.000 por soldado transgênro. Comparado ao orçamento total das Forças Armadas, o valor é considerado irrisório.
Soldados trans dizem que são tratados como qualquer outro militar
Vários soldados transgênros entrevistados afirmaram que suas experiências no serviço militar estão longe das descrições feitas pelo governo. Em depoimentos, oficiais de diferentes funções, incluindo pilotos, especialistas em explosivos e comandantes de bateria de mísseis, disseram não ter enfrentado problemas significativos dentro das tropas.
O capitão Justin Long, veterano da Marinha com mais de 20 anos de serviço, reforça a visão de que a presença de soldados transgênros não afeta o desempenho das equipes. “Tive 15 marinheiros trans sob meu comando ao longo dos anos e nunca houve um problema. O que importa é: você faz seu trabalho?”
Banimento pode gerar perdas de soldados altamente qualificados
Para além da questão financeira, a comandante Emily Shilling, piloto de caça e presidente da organização Sparta Pride, alerta para o prejuízo estratégico da decisão. Ela ressalta que o treinamento de um soldado especializado pode custar milhões de dólares, tornando sua dispensa uma perda irreparável.
Shilling é responsável por um programa de drones lançados por porta-aviões e critica a decisão do governo. “Somos um ativo extremamente valioso para simplesmente jogar fora. Por que se livrar de pessoas em quem você investiu tanto?”, questiona.
Política sobre transgênros nas forças armadas muda conforme governos
Desde 2016, a presença de soldados transgênros nas Forças Armadas tem sido um tema polêmico. O ex-presidente Barack Obama liberou o serviço para transgênros, mas a decisão foi revertida por Trump em 2017. Em 2021, o presidente Joe Biden revogou a proibição, permitindo que milhares de soldados trans se assumissem.
Apesar da polêmica, o número de militares trans ainda é pequeno. O Exército dos EUA contabiliza atualmente cerca de 4.240 soldados trans, representando apenas 0,2% do efetivo total.
A discussão continua nos tribunais, e soldados transgênros seguem lutando para manter seus postos dentro das Forças Armadas, argumentando que sua identidade de gênero não interfere em suas habilidades militares.