Não se trata de guerra híbrida, mas de guerra hídrica. As “guerras hídricas” referem-se a conflitos que surgem em torno do controle e acesso à água. Por mais que neste país haja água em abundância – a ponto de haver até desperdício! – este recurso essencial é cada vez mais escasso em muitas regiões do globo. Os conflitos por água são multifacetados, envolvendo fatores ambientais, sociais, políticos e econômicos.
Apesar da similaridade dos vocábulos, as guerras hídricas bem poderiam se abrigar no amplo e mutante guarda-chuva das guerras híbridas. Isso porque as guerras por água não são conflitos armados tradicionais entre nações, mas sim tensões e disputas crescentes em torno do acesso e controle dos recursos hídricos.
Essas tensões podem ocorrer em diversas escalas, desde disputas locais entre comunidades até conflitos regionais entre países.
O papel dos Estudos Marítimos na era das guerras hídricas
Nesse contexto atual de guerras não convencionais, novas doutrinas e estudos naturalmente começam a tomar corpo, construindo a plataforma mais firme possível sobre a qual planejar novas estratégias.
Tendo em mira a formação desse arcabouço necessário e urgente, a Escola de Guerra Naval (EGN), localizada no Rio de Janeiro (RJ), deu início às primeira aulas do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos (PPGEM).
O evento contou com a presença do Secretário de Estado de Energia e Economia do Mar do Rio de Janeiro, Cássio da Conceição Coelho, que apresentou a palestra “Secretaria Estadual de Energia e Economia do Mar: origem, perspectivas e oportunidades”.
O secretário destacou a relevância do PPGEM para a sociedade e sua contribuição para o entendimento da Amazônia Azul e da Economia do Mar.
Segundo ele, o Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos é fundamental para formar especialistas capazes de entender a importância estratégica e econômica dos oceanos para o Brasil.
EGN, pioneirismo em Estudos Marítimos
Criado em 2014, o PPGEM foi pioneiro no Brasil ao oferecer cursos de mestrado e doutorado profissional em Estudos Marítimos. Nesses 11 anos, já formou 231 alunos, dos quais 75% são civis.
O programa é reconhecido como de excelência pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com nota 5.
O processo seletivo, realizado anualmente, no segundo semestre, é composto por uma prova escrita de conhecimentos específicos, de idiomas e entrevista. Mais informações, podem ser conferidas na página web do Programa.
“Para mim, o PPGEM representa uma ferramenta para entender o mundo de forma mais crítica, profunda e profissional”, destacou o capitão-de-fragata Moreno de Figueiredo Queiroz, doutorando e ex-mestrando do programa, cuja pesquisa atual trata de guerra híbrida.
Escola de Guerra Naval amplia seu alcance
O diretor da Escola de Guerra Naval, vice-almirante Gustavo Calero Garriga Pires, em depoimento à Agência de Notícias da Marinha do Brasil, ressaltou a participação de alunos estrangeiros e dos estágios pós-doutorais, que ampliam o alcance da EGN.
“Embora seja uma escola de altos estudos militares voltada para oficiais da Marinha, a instituição também disponibiliza esse programa à sociedade e a todos que se interessam por atividades relacionadas ao mar, fortalecendo o conhecimento acadêmico na área.”
A doutoranda Amélia Victoria João Machele, primeiro-tenente da Marinha de Guerra de Moçambique, compartilhou sua expectativa em relação ao programa.
“Espero que esse curso possa me ajudar a crescer academicamente e profissionalmente e, assim, contribuir ainda mais para a Marinha de Guerra de Moçambique”, comentou.
Parcerias estratégicas nacionais e internacionais
Além do seu pioneirismo acadêmico, o PPGEM tem se consolidado como uma referência nacional e internacional por meio de parcerias estratégicas, tais como
- Universidade de Lisboa,
- King’s College London (Reino Unido),
- Leiden University (Holanda),
- Naval War College (EUA) e
- Colégio Interamericano de Defesa
Dentre as parcerias nacionais, destacam-se acordos com a
- Universidade Federal Fluminense (UFF),
- Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
- Universidade de Brasília (UnB),
- Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e
- Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Impacto dos Estudos Marítimos na sociedade e na resolução de conflitos
O programa também participa de projetos conjuntos, como o PRÓ-DEFESA e o PRÓ-ESTRATÉGIA, que reúnem instituições como Universidade de São Paulo (USP), a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em iniciativas voltadas à segurança e estratégia marítima.
Para a doutoranda Nathália de Oliveira Souza, o impacto do PPGEM foi transformador. “Todas as oportunidades que tive foram influenciadas e apoiadas pelo programa, que me permitiu desenvolver projetos, artigos e ganhar visibilidade no mercado.
Além disso, somos constantemente incentivados a devolver para a sociedade o conhecimento adquirido, algo que permeia toda a nossa formação.”