Em entrevista dada ao jornalista Leandro Demori no dia 19 de março, o escritor e historiador brasileiro, João Cezar de Castro Rocha, fez considerações sobre quem ele enxerga como “o candidato dos militares para 2026”. Rocha é formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e doutorado pela Universidade Stanford, onde teve aulas com o filósofo René Girard.
No domingo, durante uma manifestação em Copacabana, um político em ascensão, tido por muitos da imprensa como um “bolsonarista moderado”, subiu num caminhão de som e fez ataques diretos ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Esses ataques foram explícitos, sem meias palavras, revelando a sua postura diante do Poder Judiciário.
Um risco ainda maior do que a de Jair Bolsonaro
Apesar do rompante anti-STF em Copacabana, em alguns momentos, Tarcísio de Freitas é realmente apresentado como um político “moderado”, inclusive participando em eventos com o presidente Lula. Boa parte da imprensa o apresenta dessa forma.
De acordo com o historiador João Cezar de Castro Rocha, o papel de Tarcísio nesse cenário é crucial. Não é mistério para ninguém que ele é visto como uma alternativa forte para a eleição de 2026.
A grande questão é se ele arriscará uma candidatura à presidência ou se optará por uma reeleição aparentemente segura em São Paulo.
Rocha vê Tarcísio como uma figura estratégica pelo fato de “ele ser o candidato ideal para o mercado financeiro, a elite militar e a mídia corporativa. Isso ocorre porque ele mantém uma imagem de moderação, acionando essa aparência sempre que necessário.
Ele pode sorrir ao lado de Lula em um palanque, mas, na prática, sua agenda política representa um risco ainda maior do que a de Jair Bolsonaro.”
A visão de um historiador sobre o herdeiro do bolsonarismo
Para o historiador, caso Tarcísio assumisse a presidência, o Brasil enfrentaria um retrocesso profundo.
A privatização da Petrobras e de outras estatais seria imediata, e “a ideia de um Estado mínimo provavelmente se tornaria uma realidade.”
No entanto, para consolidar essa posição, ainda segundo o escritor, Tarcísio de Freiras “precisa conquistar um maior apoio dos evangélicos, um segmento essencial para sua viabilidade eleitoral.”
O candidato ideal dos militares seria um capitão honrado
Ao enxergar o governador de São Paulo como o “candidato dos militares para 2026”, Rocha faz um paralelo entre Bolsonaro e Tarcísio.
O primeiro, de acordo com o material publicado no livro “O cadete e o capitão”, de Luiz Maklouf de Carvalho, deixou o Exército sob suspeitas e teve sua saída ligada a um caso de planejamento de atentados para obtenção de aumento salarial.
Já Tarcísio de Freitas saiu com honra e ocupou cargos civis de destaque. Essa distinção, na visão de Rocha, fortaleceria sua posição como o candidato ideal dos militares.
Por ele, o golpe poderia ter sido dado
Castro Rocha termina sua análise, abordando o pensamento militar brasileiro. Para isso faz uma analogia, segundo a qual compara Bolsonaro a Jânio Quadros.
Para ele, o capitão reformado é “alguém que apareceu como solução para um projeto, mas revelou-se um desastre.
Já Tarcísio, por outro lado, é um candidato mais bem preparado e alinhado às Forças Armadas, representando um risco real para a democracia. Pelo Tarcísio o golpe poderia ter sido dado.”
O projeto do capitão governador seria “uma retomada radical do neoliberalismo, um modelo já ultrapassado, mas que ele aplicaria de maneira agressiva.”
Implicações político-sociais do candidato “dos militares”
Além disso, Castro afirma que Tarcísio está se aproximando de setores mais radicais, especialmente da ala mais violenta da Polícia Militar de São Paulo, “adotando um modelo de segurança pública militarizada e punitivista“, semelhante ao que Nayib Bukele implementou em El Salvador.
Após essas considerações, o historiador sustenta que Tarcísio de Freitas é a única figura com potencial para unir a extrema direita, os conservadores e os liberais e de quebra os militares
O principal desafio de Tarcísio, no momento, seria “fortalecer sua relação com os evangélicos”, mas, segundo Castro Rocha, o governador “já se consolida como a maior ameaça política do cenário futuro.
Não por ser um candidato de oposição, o que é legítimo dentro da democracia, mas porque seu projeto representa um perigo ainda maior do que o de Jair Bolsonaro, podendo levar o Brasil a um nível de retrocesso sem precedentes.”