A Venezuela consolida-se cada vez mais como o principal polo de atuação estratégica do Irã na América do Sul. No centro dessa aliança, estão acordos militares e econômicos firmados entre os dois regimes autoritários, que desafiam diretamente os interesses dos Estados Unidos e de seus aliados ocidentais. O mais recente capítulo dessa aproximação foi o pouso de um cargueiro iraniano Boeing 747 na Base Aérea Libertador, em Maracay, no último dia 30 de março — movimentação classificada como “suspeita” por analistas internacionais.
Segundo reportagem do portal argentino Infobae, o Irã já instalou uma fábrica de drones militares dentro da principal base aérea venezuelana, com o objetivo de treinar militares locais no uso de aeronaves não tripuladas de ataque, como os modelos Mohajer-6 e Shahed-131, amplamente utilizados em conflitos no Oriente Médio e na guerra da Ucrânia.
Acordos militares e isenção de vistos
Após as eleições de 2024, marcadas por fortes denúncias de fraude, o governo chavista intensificou suas relações com Teerã. Em uma reunião da Comissão Conjunta de Cooperação Econômica Irã–Venezuela, realizada em Caracas, o ministro da Defesa iraniano, general Aziz Nasirzadeh, garantiu apoio militar irrestrito ao regime de Nicolás Maduro. O pacto inclui transferência de tecnologia bélica, treinamento das Forças Armadas Venezuelanas e a assinatura de um acordo de isenção de vistos, facilitando o trânsito de agentes entre os dois países.
Maduro celebrou o tratado, exaltando o Irã como uma “potência tecnológica e científica” e reafirmando a resistência conjunta contra o que ambos chamam de “forças imperialistas”.
Ouro venezuelano em troca de combustível iraniano
Em meio às sanções internacionais que asfixiam sua economia, a Venezuela tem recorrido ao Irã como fonte de energia e apoio logístico. Em troca do envio de petróleo refinado, o regime chavista estaria enviando barras de ouro por meio da companhia aérea iraniana Mahan Air. Investigações apontam que esse ouro é posteriormente comercializado de maneira irregular na Turquia e em outros países do Oriente Médio, com indícios de que os recursos financiem operações da Força Quds — braço externo da Guarda Revolucionária do Irã, conhecido por apoiar grupos como o Hezbollah e o Hamas.
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Alerta para a segurança regional
A intensificação dessa aliança já preocupa países vizinhos, em especial o Brasil, que compartilha uma extensa fronteira com a Venezuela. Embora o governo brasileiro mantenha relações diplomáticas amistosas com Maduro, as Forças Armadas seguem vigilantes, cientes do risco geopolítico crescente. A instalação de bases iranianas e o treinamento de tropas venezuelanas com tecnologia bélica de ponta representam uma ameaça potencial à estabilidade da América do Sul.
“Não é apenas uma questão de política interna venezuelana. Estamos diante de um ponto de inflexão estratégico, que pode redefinir os rumos da segurança regional”, afirma o analista internacional Diego López, do Instituto de Defesa Latino-Americana (IDLA).
Refúgio e alinhamento ideológico
Relatórios também revelam que o regime iraniano garantiu acordos de asilo com Caracas, caso uma crise interna comprometa o governo de Teerã. A aliança extrapola o campo militar, consolidando um pacto de proteção mútua entre duas nações sob crescente isolamento diplomático.
Para a população venezuelana, a aproximação entre os dois países pouco representa em termos de alívio imediato. A crise humanitária persiste, com milhões de pessoas vivendo na pobreza extrema e centenas de milhares buscando refúgio em países vizinhos, como Colômbia e Brasil.