Em tempos de instabilidade global, as atenções se voltam cada vez mais para as capacidades defensivas das nações. O avanço de tensões geopolíticas, como a guerra na Ucrânia, os conflitos no Oriente Médio e o aumento dos investimentos militares por parte de potências globais, impõem ao Brasil uma inevitável reflexão sobre a robustez de suas Forças Armadas.
Nesse contexto delicado, o comandante do Exército Brasileiro, General Tomás Paiva, aproveitou a cerimônia de comemoração dos 377 anos da instituição para enviar uma mensagem.
O evento, realizado em Brasília no Quartel-General do Exército, contou com a presença do presidente Lula, ministros e integrantes da cúpula militar.
Durante seu discurso, o general fez questão de ressaltar dois pilares que, segundo ele, devem orientar a atuação dos militares brasileiros: “imparcialidade” e “profissionalismo”.
Conforme relatado pelo portal ”G1”, essa mensagem foi apresentada na tradicional “Ordem do Dia”, lida anualmente pelo comandante como símbolo da doutrina e da visão institucional da força terrestre.
Foco na Constituição e neutralidade política
“Nossa fortaleza, como Instituição de Estado integralmente devotada à missão constitucional, decorre da imparcialidade e do profissionalismo que sempre devem caracterizar nossas ações”, declarou o general Tomás Paiva, numa fala cuidadosamente construída para reforçar o distanciamento do Exército em relação a disputas político-partidárias.
Desde que assumiu o comando da força, em janeiro de 2023, Paiva tem defendido de forma contínua a reconstrução da imagem institucional do Exército, abalada pelo envolvimento de militares em episódios políticos durante o governo de Jair Bolsonaro (2019–2022).
Pressão internacional por modernização militar
Além da reafirmação institucional, o general Tomás Paiva utilizou o evento para destacar um ponto que, segundo ele, não pode mais ser adiado: o Brasil precisa investir mais em Defesa, especialmente diante do crescimento militar em outras regiões do mundo.
“Os investimentos em defesa vêm crescendo exponencialmente em todas as regiões do globo, uma realidade que sugere ao nosso país atenção redobrada em relação à proteção dos brasileiros e dos ativos consagrados pela Constituição”, afirmou.
A declaração reflete uma preocupação real no meio militar.
Países como a China, Estados Unidos, Rússia, Índia e membros da OTAN têm acelerado seus orçamentos militares em resposta a conflitos ativos e ameaças latentes.
O Brasil, embora tenha dimensões continentais e uma imensa faixa de fronteiras terrestres e marítimas, ainda mantém um orçamento relativamente modesto para suas Forças Armadas, o que compromete a manutenção, modernização e até mesmo o treinamento adequado dos efetivos.
Análise orçamentária e impacto na tropa
De acordo com dados recentes do Ministério da Defesa, os investimentos públicos no setor vêm sendo direcionados principalmente para projetos estratégicos, como o submarino nuclear da Marinha e a aquisição de caças Gripen para a Força Aérea Brasileira.
No entanto, as necessidades de modernização e reaparelhamento do Exército continuam sendo urgentes, especialmente no que diz respeito a veículos blindados, sistemas de artilharia, equipamentos de comunicações e ciberdefesa.
Fontes da área militar afirmam que o general Tomás Paiva tem trabalhado internamente com o Ministério da Defesa e o Palácio do Planalto para recompor o orçamento da Força Terrestre em 2025, com foco em garantir meios adequados à atuação em diversos cenários, incluindo ações humanitárias, vigilância de fronteiras e combate ao crime organizado na Amazônia.
Apesar dos esforços, o ambiente econômico e a complexidade política dificultam avanços rápidos.
Dia do Exército: tradição, simbolismo e estratégia
A celebração dos 377 anos do Exército Brasileiro não é apenas uma data festiva, mas um evento de forte simbolismo político e institucional.
Criado oficialmente em 1648, com base nas batalhas dos Guararapes, o Exército é historicamente vinculado à construção da identidade nacional.
O discurso do comandante, neste cenário, ganha peso justamente por ser lido em uma ocasião solene, com grande visibilidade e com a presença do presidente da República.
Analistas políticos interpretaram as falas como um gesto diplomático, mas firme, de pressão institucional por mais recursos e também uma reafirmação de compromisso com a democracia e a legalidade.