O Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa (SIMDE) promoveu uma cerimônia para defender a criação de fundos soberanos destinados ao financiamento das Forças Armadas. A proposta, inspirada em modelos como o do Chile — que destina parte dos royalties do cobre para suas forças militares — foi apresentada em evento com a presença do ministro da Defesa, José Múcio, e dos comandantes do Exército, Aeronáutica e Marinha.
O SIMDE representa empresas que produzem material bélico e têm nas Forças Armadas seu principal cliente. A iniciativa surge em um momento de cortes orçamentários no setor, mas também levanta discussões sobre os interesses da indústria de defesa, que seria diretamente beneficiada por maiores investimentos militares.
Defesa de fundos setoriais
Durante o evento, o presidente do SIMDE, Frederico Aguiar, propôs a criação de fundos específicos para cada ramo das Forças Armadas, com fontes de financiamento vinculadas a setores estratégicos. “O Exército poderia ter o seu fundo soberano e não contingenciável, custeado com parte de impostos ou taxas provenientes da exploração de terras raras”, afirmou.

Para a Marinha, sugeriu recursos vinculados à segurança marítima, royalties do pré-sal ou até taxas sobre cabos submarinos. Já a Aeronáutica poderia ser financiada por arrecadações de telecomunicações via satélite e segurança aeroviária. A ideia é assegurar recursos estáveis, evitando oscilações orçamentárias.
Apoio da indústria e paralelos internacionais
Carlos Aguiar, representante da FIESP e da FIRJAN, destacou a importância da autonomia industrial para a segurança nacional, citando lições da pandemia e da guerra na Ucrânia. “Países com maior independência industrial tiveram uma resposta mais rápida e eficaz à doença. Isso também se aplica à indústria de defesa”, disse.
O Chile foi lembrado como exemplo, onde parte da receita da mineração de cobre é direcionada às Forças Armadas. Um comentarista na publicação do site Defesa Aérea e Naval reforçou: “O Chile faz isso com a exploração do cobre […] Se fosse para benefício próprio os parlamentares já tinham aprovado essa PEC”.
PEC da Previsibilidade e homenagens
O senador Carlos Portinho (PL-RJ), autor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece um orçamento mínimo de 2% do PIB para as Forças Armadas — patamar recomendado pela OTAN —, foi homenageado com o prêmio Joaquim Mursa. Ele dedicou a honraria ao ex-senador Arolde de Oliveira, idealizador da proposta.
Portinho enfatizou que a medida não é “um projeto de esquerda ou direita, mas um projeto de Estado”. A PEC tramita no Senado e busca garantir recursos previsíveis, reduzindo a dependência de ajustes anuais.
Contexto geopolítico e críticas implícitas
O canal Top Militar LHB vinculou a proposta a um cenário de tensões globais, citando ameaças como o conflito Rússia-Ucrânia e disputas envolvendo China, EUA e Dinamarca. “Uma forma de se evitar uma guerra contra uma potência militar mundial […] é ter forças armadas altamente tecnológicas e capazes”, argumentou o apresentador.
Apesar do discurso de fortalecimento nacional, a defesa do SIMDE não esconde o interesse do setor industrial. Empresas de material de defesa dependem de contratos militares, e um orçamento ampliado significaria mais negócios para o grupo.