Apesar das crescentes reclamações entre praças e oficiais subalternos, o que se projeta pelo prisma da grande mídia é um ambiente de aparente tranquilidade e confiança entre o governo federal e as Forças Armadas, sob a condução política de José Múcio Monteiro, Ministro da Defesa. No entanto, a insatisfação com o reajuste salarial já repercute de forma concreta: militares da base têm articulado com deputados a apresentação de emendas à Medida Provisória do reajuste, enquanto a evasão de profissionais altamente qualificados — como pilotos e médicos militares — segue como uma preocupação persistente dentro dos quartéis.
As declarações mais recentes do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicam que não há um mínimo clima de animosidade entre o governo e os generais das Forças Armadas. Pelo contrário: os depoimentos mais recentes revelam sintonia, confiança no governo e condução política cuidadosa das questões militares.
Na primeiro semana de abril Múcio circulou por uma grande feira militar no Rio de Janeiro, a LAAD, conversando alegremente com diversos oficiais generais, onde foram assinados tratados de interesse das cúpulas militares. Durante a participação no programa Roda Viva, em fevereiro, Múcio até afirmou, alinhando-se parcialmente ao projeto antigo de bases petistas, que é a favor de mudanças no sistema de proteção dos militares, mas destacou que “isso tem que ser uma coisa conversada”. Em gesto de apoio à opinião dos oficiais generais, o ministro observou que “tudo soa nos quartéis que é um gesto de revanchismo” e reforçou que esses temas “precisam ser discutidos, muito discutidos, mas com calma”.
Confiança total no Ministro da Defesa
Ao falar sobre a tentativa de ajuste feita pelo Ministério da Fazenda, afirmou: “tinha que ser naquela semana, em 15 dias tinha que fazer… mas tá lá no Congresso”. Na mesma entrevista, criticou a forma como recursos das Forças Armadas foram remanejados para obras diversas por meio do programa Calha Norte: “o ano passado tirou 250 milhões do orçamento das três forças para se botar no calha Norte… o calha Norte está construindo quase no Sul… isso é uma coisa absurda, escandalosa”.
Já o presidente Lula, em outubro de 2024, no programa O Povo no Rádio, Lula reforçou a confiança total no ministro: “Zé Múcio continua meu amigo, meu ministro da Defesa… uma pessoa por quem eu tenho não apenas muita confiança, mas porque eu tenho uma autoestima profunda pela lealdade dele comigo antes e durante o governo”.
No início do ano o próprio Múcio declarou que entregaria o cargo, mas foi convencido por Lula a permanecer comandando a pasta. No Roda Viva de 10 de fevereiro o ministro confirmou que houve um pedido por parte de Lula.
“Olha, Múcio, nós estamos numa fase difícil. Somos amigos, eu sei das suas pretensões, que é estar mais à disposição da família e dos amigos, mas eu preciso que você fique, porque estamos com alguns desafios e não queria abrir mais um problema”, conta o ministro.
A tropa está insatisfeita com os salários
Apesar do clima de confiança do alto comando em José Múcio, o ambiente nas bases militares é outro. Uma vasculhada em redes sociais e sites especializados mostra que a tropa não está satisfeita. Diversos militares têm criticado o fato de os percentuais de reajuste dado pelo governo não cobrirem sequer as perdas inflacionárias dos últimos anos.
Emendas à Medida Provisória 1293/2025, apresentadas por parlamentares do PSL, tentam corrigir essa defasagem propondo alterações em adicionais que incidem sobre os soldos, mas ainda sem garantia de aprovação. Ainda assim, o que se percebe é que as opiniões contrárias e o descontentamento são contidas e não ultrapassam os muros dos quartéis e muito menos escalam das redes sociais para a grande mídia.

A cúpula militar mantém silêncio público, sinalizando alinhamento e respeito à condução política feita por Lula e Múcio. Indicadores como a crescente evasão de oficiais, a dificuldade de atrair profissionais de alta qualificação, como médicos, e a proliferação de queixas em canais informais mostram que há um mal-estar real.
Contudo, esse mal-estar não se traduz em ruído institucional ou crise entre o governo e os comandos. Ao contrário: as Forças Armadas seguem silenciosas, isso tem um peso político muito grande, demonstrando que, mesmo diante de dificuldades internas e um número enorme de militares indiciados em processos, Lula e Múcio até o momento tem sido bem sucedidos no intuito de despolitizar as altas hierarquias militares. O ministro da defesa de fato, mantém os generais em suas mãos.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar