A cerimônia de encerramento do estágio supervisionado do 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) da Polícia Militar de São Paulo, realizada em São José do Rio Preto, gerou controvérsia nas redes sociais após a divulgação de um vídeo com policiais fardados realizando um gesto com o braço estendido diante de uma cruz em chamas. O conteúdo, publicado originalmente nas redes sociais do próprio batalhão, foi removido horas depois em razão da repercussão negativa.
Em pronunciamento oficial, o comandante do 9º Baep, Tenente-Coronel José Thomaz Costa Júnior, negou veementemente qualquer associação do gesto a ideologias políticas, raciais ou religiosas. Segundo ele, a cruz em chamas e os braços estendidos simbolizam a superação e o compromisso dos policiais com a corporação, e não possuem qualquer relação com o nazismo ou com a simbologia da Ku Klux Klan, como foi sugerido por alguns setores nas redes sociais. “Aquilo simboliza a vitória sobre os sacrifícios e o peso que doravante o policial adquire para honrar esse período de estágio”, explicou o comandante.
A Polícia Militar também se manifestou por meio de nota, informando que a cerimônia possui caráter simbólico e tradicional e foi realizada à noite, com o uso de fogo como recurso visual para impacto e iluminação. A corporação reforçou que “repudia toda e qualquer manifestação de intolerância” e que a utilização dos elementos visuais não teve, em nenhum momento, intenção de remeter a ideologias extremistas.
Apesar das explicações, o Ministério Público do Estado de São Paulo informou que abriu procedimento para investigar as circunstâncias do vídeo. O procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, afirmou que a promotoria local acionou formalmente o comando do batalhão para esclarecimentos, com prazo de 10 dias para resposta. Caso se comprove qualquer desvio de conduta, o MP afirmou que as medidas legais cabíveis serão tomadas.
A repercussão política também ganhou força. Parlamentares da oposição cobraram explicações e punições, associando o conteúdo a atos de intolerância e simbologia de extrema-direita. Já o vice-prefeito de São Paulo, Ricardo Mello Araújo (PL), que é coronel da reserva e ex-comandante da Rota, saiu em defesa dos policiais, afirmando que “quem critica não entende nada de polícia”.
Segundo a corporação, o vídeo foi excluído para evitar interpretações equivocadas que pudessem comprometer a imagem da Polícia Militar. “Isso não vai abalar o nosso compromisso com a sociedade, com o combate ao crime e com o cumprimento das leis”, finalizou o comandante Costa Júnior.
Apesar das comparações infundadas nas redes, não há elementos objetivos no vídeo que sustentem a acusação de apologia ao nazismo. O gesto dos policiais, realizado com o braço em ângulo, não corresponde à saudação nazista propriamente dita — um gesto reto e elevado. A cruz em chamas, por sua vez, foi usada como elemento cenográfico, em ambiente noturno, com finalidade simbólica de superação e não como alusão histórica a movimentos extremistas.
A investigação instaurada visa apurar o contexto e afastar eventuais interpretações distorcidas. Até o momento, todas as manifestações oficiais indicam que a intenção da cerimônia foi puramente simbólica, sem qualquer motivação ideológica.