07 de abril de 2025 – A partir de 23 de julho deste ano, o Brasil ocupa uma posição de destaque em uma das regiões mais estratégicas do mundo. O Contra-Almirante Marcelo Lancellotti, da Marinha do Brasil, foi designado pelo Ministro da Defesa e pelo Presidente da República, por meio de um Decreto Presidencial, para assumir o comando da Força-Tarefa 151 (CTF-151), uma força-tarefa multinacional especialíssima em combate à pirataria marítima com sede no Reino do Bahrein.
A nomeação foi combinada junto ao Comando da Marinha do Brasil, exército pelo Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen.
O que é a CTF-151?
Criada em janeiro de 2009, a CTF-151 é uma das cinco forças-tarefa operadas pelas Forças Marítimas Combinadas (CMF), maior coalizão naval multinacional do mundo, composta por nada menos que 46 países. Com sede no Bahrein e ligada ao Comando Central das Forças Navais dos Estados Unidos, a CMF atua em mais de 3,2 milhões de milhas náuticas no Oriente Médio, Golfo de Áden e Oceano Índico.
O foco da CTF-151 é claro: combater a pirataria em alto-mar, especialmente nas imediações da costa da Somália, Golfo de Áden e Bacia da Somália — áreas historicamente marcadas por ataques a embarcações comerciais e humanitárias. Seu mandato é respaldado por resoluções da Organização das Nações Unidas, como a Resolução 2608 (2021).
Um filme bastante conhecido – Capitão Phillips – mostrou de forma bastante detalhada ao mundo o que acontece atualmente na costa da Somália, onde centenas de navios tem sido atacados anualmente por piratas que abordam as embarcações utilizando lanchas rápidas e de pequeno porte.
Além da pirataria, a CTF-151 também realiza ações coordenadas para dificultar o tráfico de pessoas, pesca ilegal e outras ameaças no mar, atuando em parceria com organizações como a EUNAVFOR (Operação ATALANTA da União Europeia) e o Programa Mundial de Alimentos da ONU.
Importância estratégica do Golfo de Áden
O comando da força assumido pelo oficial general brasileiro está em uma das regiões mais sensíveis do planeta: o Golfo de Áden, rota vital que conecta a Europa, o Oriente Médio e a Ásia. Por ali circula uma parte bastante significativa do comércio marítimo global, tornando-o alvo frequente de grupos piratas armados.
Desde os anos 1990, com o colapso do governo da Somália e a ausência de uma guarda costeira eficaz, a pirataria cresceu exponencialmente. Navios estrangeiros exploraram recursos pesqueiros da região de forma ilegal e despejaram resíduos tóxicos, o que contribuiu para a formação de milícias costeiras armadas. Esses grupos passaram a sequestrar embarcações em troca de resgate — atividade que, embora reduzida nos últimos anos, ainda requer vigilância constante.
Brasil e a liderança da CTF-151
O Brasil, embora isso seja pouco divulgado pela imprensa não especializada, já comandou a CTF-151 em três ocasiões anteriores: em junho de 2021, agosto de 2022 e janeiro de 2024. A nova designação reforça a confiança internacional na capacidade de planejamento estratégico e operacional da Marinha brasileira.
A rotação do comando da força-tarefa ocorre entre os países participantes a cada seis meses. Na lista de nações que já lideraram a CTF-151 estão, além do Brasil, potências como EUA, Reino Unido, Japão, Turquia, Paquistão, Coreia do Sul, Cingapura e Dinamarca.
A missão brasileira é desafiadora: além de coordenar ações operacionais com marinhas de diversos países, o comando deve promover o intercâmbio de informações, ações de dissuasão, treinamentos conjuntos e engajamento com autoridades costeiras.
Manobras e exercícios conjuntos
Em março de 2025, pouco antes da nova rotação de comando, a CTF-151 participou do exercício Iron Trident, conduzido pela Marinha da República da Coreia (navio Kang Gam Chan) e pela Marinha Espanhola (fragata Reina Sofia), dentro da estrutura da EUNAVFOR. A operação incluiu táticas navais de divisão (DIVTAC) e simulações de abordagem, busca e apreensão (VBSS), em um ambiente multinacional que reflete as condições reais de ameaça.
Segundo o Comandante Kang Young-Jin, da Marinha Coreana, “o exercício solidificou o sistema cooperativo entre as marinhas parceiras e reafirmou o compromisso coletivo com mares estáveis”.
