Em um mundo onde a tecnologia avança a passos largos, a linha tênue entre inovação e destruição se torna cada vez mais difícil de discernir.
No coração da Ásia, um regime isolado tem explorado os limites da ciência para fins militares, desenvolvendo armas biológicas com potencial devastador.
Esta é a história de como a Coreia do Norte, sob a liderança de Kim Jong-un, tem investido em um programa secreto de armas biológicas, desafiando tratados internacionais e despertando preocupações globais.
O programa secreto de armas biológicas da Coreia do Norte
De acordo com matéria publicada pelo portal de notícias ”R7”, um relatório recente do Departamento de Estado dos Estados Unidos aponta que a Coreia do Norte mantém um programa nacional voltado à produção e ao uso ofensivo de agentes biológicos.
Este programa é uma clara violação da Convenção sobre Armas Biológicas (BWC), da qual o país é signatário desde 1987.
No entanto, Pyongyang nunca forneceu informações confiáveis sobre suas atividades relacionadas a armas biológicas.
O único relatório apresentado foi em 1990, em branco, sob a justificativa de que não havia nada a declarar.
O relatório aponta que a Coreia do Norte possui capacidade técnica para produzir bactérias, vírus e toxinas com uso militar, além de empregar engenharia genética nesses materiais.
Isso inclui o uso de tecnologias como CRISPR para editar genes e criar agentes patogênicos adaptados para fins bélicos.
Especialistas sugerem que Pyongyang pode estar desenvolvendo métodos para disseminar essas armas de forma clandestina.
Entre eles, estão sistemas de lançamento não convencionais, como pulverizadores e dispositivos de injeção.
Histórico e contexto
Embora a adesão à BWC em 1987 tenha sido um passo significativo, a Coreia do Norte nunca cumpriu plenamente suas obrigações internacionais.
Desde 1990, o país não forneceu informações confiáveis sobre suas atividades relacionadas a armas biológicas, mantendo-se em silêncio sobre o assunto.
Especialistas acreditam que o programa biológico norte-coreano remonta à década de 1960, configurando violações dos artigos I e II da convenção, que proíbem o desenvolvimento, produção e armazenamento de armas biológicas.
Além disso, a Coreia do Norte não é parte da Convenção sobre Armas Químicas (CWC).
Isso lhe permite operar sem as restrições impostas por esse tratado.
Estima-se que o país possua um estoque de 2.500 a 5.000 toneladas de armas químicas, incluindo gás mostarda, sarin e VX.
Acredita-se que também tenha capacidade de produzir uma variedade de armas biológicas, como antraz, cólera, peste bubônica e varíola.
Esses agentes patogênicos podem ser estabilizados e preparados para liberação contra alvos escolhidos.
Isso os torna uma ameaça significativa.
Métodos de disseminação e potencial de destruição
Especialistas alertam que a Coreia do Norte pode estar desenvolvendo métodos para disseminar suas armas biológicas de forma eficaz e discreta.
Isso inclui o uso de pulverizadores, dispositivos de injeção e até mesmo “canetas envenenadas”.
Esses equipamentos poderiam espalhar doenças como antraz e varíola sem levantar suspeitas imediatas.
Além disso, membros das forças especiais norte-coreanas, que totalizam cerca de 200.000 soldados, poderiam ser treinados para atuar como agentes secretos.
Eles poderiam se disfarçar de pessoal de limpeza e desinfecção para liberar essas armas em locais estratégicos.
A disseminação de tais agentes patogênicos poderia resultar em epidemias devastadoras.
Os impactos não se limitariam à Coreia do Sul.
Regiões vizinhas da Ásia, e até mesmo países fora do continente, poderiam ser afetadas.
A natureza altamente contagiosa de doenças como a peste e a varíola, combinada com a capacidade de disseminação rápida, torna essas armas biológicas uma ameaça de destruição em massa.
Reações internacionais e desafios à fiscalização
A comunidade internacional tem expressado preocupação crescente com o programa de armas biológicas da Coreia do Norte.
No entanto, esforços para monitorar e fiscalizar as atividades do país têm sido dificultados por sua natureza secreta e pela falta de transparência.
Além disso, a Rússia, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, tem bloqueado a renovação do mandato do painel de especialistas encarregado de investigar violações de sanções.
Esse painel inclui investigações sobre o uso de armas norte-coreanas no conflito na Ucrânia.
Essa falta de cooperação internacional complica os esforços para conter o avanço do programa de armas biológicas da Coreia do Norte.
E aumenta o risco de sua utilização no futuro.
Pressões estratégicas e interesses por trás do silêncio
Ao manter ambiguidades sobre suas capacidades reais, o regime de Kim Jong-un alimenta incertezas entre seus adversários, criando um cenário em que qualquer confronto direto pode acarretar riscos imprevisíveis.
Além disso, há indícios de que parte da infraestrutura científica usada no programa de armas biológicas norte-coreano foi originalmente desenvolvida com fins civis, como pesquisas médicas e agrícolas, o que dificulta a detecção de violações.
Esse tipo de “duplo uso” tecnológico é um dos principais desafios enfrentados por organismos internacionais de controle, que precisam provar o uso militar antes de aplicar sanções severas.
Conforme relatórios do Belfer Center, ligado à Universidade de Harvard, a Coreia do Norte utiliza essa ambiguidade como forma de ganhar tempo e fortalecer sua posição em futuras negociações diplomáticas.