Você sabia que a noite seus pés estão maiores e que esse horário é o melhor para quem vai experimentar calçados como o coturno?
O equipamento que oferece possibilidade de combate em qualquer tipo de terreno
O coturno militar, apesar de ter sido incorporado ao vestuário civil, é um calçado quase exclusivamente de uso militar, é relativamente pesado e definitivamente não tem como ser muito confortável para uso no dia a dia. Normalmente, é um dos primeiros equipamentos distribuídos aos militares recém-incorporados nas Forças Armadas e Forças Auxiliares.
Os coturnos, também conhecidos como botas de combate, são projetados com alta tecnologia para proporcionar ao militar aderência em qualquer tipo de terreno, absorção de impactos, proteção para as pernas em caso de contato físico com o inimigo, estabilidade para evitar torções no tornozelo, proteção contra objetos cortantes e perfurantes, além de relativa proteção dos membros inferiores contra água e outros líquidos.
Para os recrutas, os militares novatos, as exigências em relação ao cuidado com o coturno muitas vezes são vistas como um fardo. A maioria dos militares no início da carreira não se dá conta da importância desse equipamento, e em muitos centros de formação essa questão não é adequadamente explicada.
Vidro, arame farpado ou combate corporal
No momento em que o combatente precisa correr, escalar um obstáculo, atravessar um local com estilhaços de explosão, vidros, arame farpado ou até mesmo lutar corpo a corpo com o inimigo, o calçado utilizado pode ser crucial para evitar um ferimento grave ou até fazer a diferença entre a vida e a morte.
Os soldados gregos usavam o buskin, uma espécie de sandália que chegava até a panturrilha. Já os legionários do Império Romano utilizavam botas abertas chamadas caligae. No final do século I d.C., iniciou-se a transição para uma bota mais fechada, feita de couro, chamada calceus, que rapidamente se tornou um item indispensável para o soldado.

Assim como qualquer equipamento, os coturnos também necessitam de cuidados adequados; o mau uso ou a utilização em condições inapropriadas pode prejudicar o usuário.
Atualmente, os coturnos são amplamente usados por não militares e são definidos por designers de moda como “um tipo de bota com aparência rústica”.
É raro encontrar um militar das Forças Armadas ou Auxiliares que, em algum momento de sua carreira, não tenha se sentido incomodado com a situação dos seus pés. Somente quem já prestou serviço ou desfilou sobre o asfalto quente, usando um coturno preto ou marrom, daqueles de couro, ou passou longas horas em uma floresta tropical com os pés completamente ensopados, sabe como o bem-estar dos pés pode ser crucial para o sucesso em ambientes hostis, especialmente em missões que duram vários dias.
Para ilustrar a importância desse equipamento, em 2019 o parlamento alemão abriu um inquérito para investigar por que os militares das Forças Armadas do país não haviam recebido seu segundo par de coturnos. A questão foi tratada como uma questão de defesa nacional. Na Alemanha, os militares devem possuir no mínimo dois pares de coturnos: as “botas de combate pesadas” e as “botas de combate leves”.
“De acordo com o inquérito parlamentar, cerca de 160.000 dos 183.000 soldados receberam seu primeiro par de pesadas botas de combate. No entanto, as tropas não receberam o segundo par. Apenas 31.000 soldados receberam a bota leve de combate. Parece bastante grotesco … , disse Marie-Agnes Strack-Zimmermann, parlamentar da oposição Democratas Livres que solicitou a informação ao Ministério da Defesa. … Afinal, não se trata de moda, mas de segurança… Os soldados reclamaram do conforto e da qualidade da bota padrão para todas as estações”, disse uma parlamentar. (Fonte: https://www.dw.com/en/german-troops-wait-8-years-for-new-combat-boots/a-50191037)
Guerras mundiais e os calçados usados no combate
Livros e trabalhos acadêmicos narram que um dos maiores problemas dos soldados na primeira guerra mundial era o chamado pé-de-trincheira, moléstia causada pelo uso prolongado de calçados em locais úmidos. No inverno entre 1914 e 1915, é relatado que mais de 20.000 soldados britânicos foram tratados com pé de trincheira. Além disso, estima-se que a moléstia contribuiu para a morte de 2.000 soldados americanos e cerca de 75.000 soldados britânicos.
Soldados brasileiros narraram que durante a segunda guerra mundial, na Itália, sofreram bastante com as condições precárias de seus pés e que a solução encontrada para amenizar o problema foi forrar os calçados com palha e jornal para absorver a unidade. Segundo o Centro de Controle de Doenças dos EUA, hoje em dia o pé de trincheira é bem raro., sobretudo em países tropicais.
Pesquisas realizadas com militares
Ana Cláudia Vieira Martins (Doutorado em Ciências do movimento Humano), que realizou estudo entre militares de Santa Catarina, relata que 72.6% dos militares que participaram da pesquisa consideram que o calçado utilizado pela corporação causa desconforto e interfere em suas atividades.
” Dentre as principais queixas de desconforto, foram citadas o superaquecimento e as dores nos pés e/ou no corpo com 37,07% e 35,70% respectivamente. Outro tipo de desconforto produzido pelo coturno é a umidade (23,80%) “

Pesquisa realizada pelo especialista em PODIATRIA Luiz Marcos Raposo, junto a militares de ambos os sexos da polícia militar do Estado de Minas Gerais coletou alguns dados interessantes sobre podopatias que podem acometer os pés de militares.
“ Notou-se que 77 % da amostra pesquisada apresentava algum tipo de patologia relacionada aos pés, e que 76% das patologias encontradas foram verificadas nos profissionais com mais de 10 anos de atividade militar.”, diz o especialista.
Em um folheto sobre o assunto Luiz Marcos Raposo, membro da Associação Brasileira de Enfermagem em Podiatria Clínica (ABENPO), que tem sua sede na UERJ, dá algumas dicas e recomendações importantes para quem usa coturno.
Que tipo de calçado é adequado
O calçado ideal é aquele que a pessoa possa utilizar e passar o tempo necessário para o trabalho, sentindo o mínimo de desconforto possível. É difícil citar um calçado específico, pois cada pessoa tem um pé diferente e uma pisada diferente. O que se tem usado hoje em dia são artifícios que melhoram os calçados como as palmilhas posturais, as quais são confeccionadas especificamente após uma avaliação minuciosa da pisada e do formato do pé de cada individuo. Os calçados ideais devem proporcionar conforto, equilíbrio, postura, aderência no andar e estabilidade no calcanhar.
Quais os cuidados fundamentais na hora de escolher o modelo ideal de calçado?
Experimente sapatos preferencialmente à noite, quando seus pés estão maiores, pois eles incham durante o dia. A prova ainda deve ser feita quando estiver em pé, pois os pés aumentam com o peso do corpo. Estando em pé, mexa os dedos dentro do sapato para saber se há espaço entre a ponta do dedo mais longo e a ponta do sapato e também sobre os dedos, observando-se ainda que a parte de trás do pé deve se encaixar firmemente no sapato.
Se seus pés têm tamanhos diferentes, escolha sapatos com base no pé maior e nunca compre sapatos que sejam muito duros ou apertados na esperança de que se alargarão. Calçados apertados ou grandes demais comprometem a saúde dos seus pés, prejudicando a coluna, a circulação sanguínea e a superfície dos pés, além de causar bolhas e calos.
Como usar um coturno, quem pode usar o coturno, cuidados no uso do coturno, doenças causadas pelo uso do coturno.
Bibliografia:
Folheto / pesquisa TRABALHO APRESENTADO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO EM PÓS GRADUAÇÃO EM PODIATRIA CLÍNICA,ÓRTESE E PRÓTESE DE MEMBROS INFERIORES. 2014 – LUIZ MARCOS RAPOSO
https://www.dw.com/en/german-troops-wait-8-years-for-new-combat-boots/a-50191037
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482364/
Estudo das características funcionais e de uso de coturno utilizado pelo policial militar e sua influência no desempenho na atividade de ronda (2001). Autores: Ana Claudia Vieira Martins e Sebastião Iberes Lopes Melo.