Dados do Governo Federal levantados pela Revista Sociedade Militar apontam que as indenizações por diárias de viagem pagas a militares e civis ligados ao Ministério da Defesa mais que dobraram entre 2021 e 2024. A análise cobre o último quadriênio, compreendendo os dois últimos anos do governo Jair Bolsonaro (2021–2022) e os dois primeiros da gestão Lula (2023–2024).
Além do aumento expressivo nos valores totais desembolsados pelo governo para custear a alimentação e permanência dos militares nos locais das missões, observa-se crescimento nas viagens internacionais, especialmente para os Estados Unidos, que se mantêm como principal destino fora do Brasil. Apesar do governo Bolsonaro ser apontado como mais próximo das Forças Armadas e dos Estados Unidos por questões de afinidade político – ideológica, os dados mostram que, no governo Lula os militares passaram muito mais tempo em missões nos Estados Unidos.
As diárias recebidas pelos militares são destinadas ao custeio da sua estadia nos locais para onde são enviados e levam em consideração o custo de hospedagem e alimentação em cada cidade ou país. É costume, como forma de economizar, que os participantes das missões, tanto militares como civis ligados ao governo, escolham por sua própria conta hotéis mais baratos e procurem se alimentar em restaurantes mais acessíveis, isso possibilita alguma economia, fazendo com que tenham a possibilidade de receber uma remuneração extra com as missões realizadas.
Despesas com diárias mais que dobram em quatro anos
Em 2021, foram pagas 398.737 diárias, totalizando R$ 88.999.436,56. No ano seguinte, em 2022, esse número subiu para 445.008 diárias, com gasto de R$ 111.053.192,45. A alta continuou nos anos seguintes. Em 2023, o Ministério da Defesa pagou 507.200 diárias, no valor de R$ 153.636.878,57. Em 2024, foram 496.632 diárias, com o maior valor registrado no período: R$ 187.153.294,64.

As missões para os Estados Unidos crescem no quadriênio
As viagens para os Estados Unidos apresentaram aumento constante de 2021 a 2024, tanto no número de diárias quanto nos valores gastos para indenizar os militares que realizaram missões junto ao governo norte americano, academias militares e outras:
Ano | Quantidade de diárias para missões nos EUA |
---|---|
2021 | 1.525 |
2022 | 3.612 |
2023 | 3.565 |
2024 | 3.937 |
Nos dois primeiros anos do governo atual (2023–2024), os militares receberam, juntos, 7.502 diárias para viagens aos EUA, contra 5.137 diárias nos dois anos anteriores. Em valores, os gastos somaram R$ 15,3 milhões nos dois primeiros anos de Lula, ante R$ 10,5 milhões em 2021 e 2022, os dois últimos anos do governo anterior.
Cooperação operacional entre militares está em expansão, coronel coordena 100 eventos
A cooperação entre Brasil e Estados Unidos vem se intensificando por meio de ações estratégicas voltadas à interoperabilidade entre as forças. Um exemplo é a atuação do Coronel Sergio Reis Matos, oficial de ligação junto ao Exército Sul dos EUA (ARSOUTH), com sede em Fort Sam Houston, Texas.
Desde julho de 2023, segundo o Diálogo Américas, mídia oficial do Departamento de Defesa dos EUA, o Cel Matos tem coordenado cerca de 100 atividades conjuntas anuais entre os dois países, incluindo treinamentos, operações cibernéticas, engenharia e comunicação social. Sua atuação tem sido central na organização de exercícios como Southern Vanguard, PANAMAX e Tradewinds, que integram o programa de dissuasão regional do Comando Sul dos EUA (Southcom).
Segundo o próprio oficial:
“Tais iniciativas não só aprimoram nossa prontidão operacional, mas também consolidam a confiança e o entendimento mútuo entre os militares das duas nações.”
A presença institucional de brasileiros em funções estratégicas nos EUA, como a do Cel Matos, exemplifica como a parceria Brasil–EUA tem se tornado mais estruturada e simétrica, com ações regulares de intercâmbio e coordenação tática.
O aumento das viagens, na contramão da afinidade política do governo
O levantamento referente ao quadriênio 2021–2024 indica crescimento contínuo nas despesas com diárias pagas a militares e civis vinculados ao Ministério da Defesa. O número de viagens ao exterior, especialmente para os Estados Unidos, aumentou significativamente nos dois primeiros anos do governo Lula.

Embora o governo Bolsonaro seja apontado como tendo mais interação com as Forças Armadas, os dados revelam que, no atual governo, os militares têm tido mais oportunidades de participação em missões fora do Brasil e, consequentemente, têm maior acesso aos valores pagos em diárias no exterior.
A intensificação da cooperação com os Estados Unidos, ilustrada pelo caso do Coronel Sergio Reis Matos, e por dezenas de exercícios conjuntos, confirma a visão de que há fortalecimento técnico-operacional nas relações militares entre os dois países.