No Oriente Médio, onde o equilíbrio geopolítico é constantemente abalado por decisões estratégicas e disputas territoriais, um novo plano aprovado pelo governo de Israel para a Faixa de Gaza está provocando intensos debates, críticas internacionais e temor generalizado sobre seus possíveis desdobramentos.
A proposta, revelada por uma fonte de alto escalão do governo israelense, indica a intensificação de uma ofensiva militar de grandes proporções, além da execução de ações que envolvem ocupação permanente do território palestino e o deslocamento forçado de sua população.
Segundo matéria produzida pelo ”Brasil de fato” e fontes consultada pela agência AFP, o plano prevê a conquista total da Faixa de Gaza, com a manutenção de uma presença militar israelense contínua.
Essa movimentação ocorre em paralelo à mobilização de dezenas de milhares de reservistas, conforme anunciado pelo Exército de Israel no último domingo (4).
“A conquista da Faixa de Gaza e a manutenção dos territórios ocupados estão entre os principais pontos do plano”, afirmou a autoridade, acrescentando que a população local seria empurrada para o sul do enclave, sob o argumento de proteção.
Proposta de “emigração voluntária” levanta dúvidas e rejeição regional
Outro ponto sensível do plano envolve a proposta de emigração voluntária dos habitantes de Gaza para países vizinhos, uma ideia que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu apoia publicamente.
Essa sugestão tem o respaldo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cuja visita ao Oriente Médio está prevista para os próximos dias.
No entanto, países como Egito e Jordânia já se manifestaram contrários à possibilidade de absorver refugiados palestinos, alertando para o risco de desestabilização regional e aumento da tensão diplomática.
Bombardeios continuam e número de mortos aumenta
Enquanto decisões estratégicas são tomadas nos gabinetes de governo, a realidade no solo de Gaza se deteriora com rapidez alarmante.
Desde 18 de março, quando Israel rompeu a trégua estabelecida anteriormente, os bombardeios aéreos e operações terrestres foram retomados com intensidade, resultando em milhares de mortes.
A Defesa Civil da Faixa de Gaza informou que, apenas na segunda-feira (5), 19 pessoas morreram em ataques israelenses no norte do território.
Conforme relatado pela imprensa israelense, a nova fase da ofensiva militar será implementada somente após a visita de Trump à região, o que revela também o alinhamento estratégico entre Tel Aviv e Washington.
Ajuda humanitária como instrumento de pressão
O gabinete de segurança de Israel também autorizou a possibilidade de realizar distribuições controladas de ajuda humanitária em Gaza, mas com uma condição polêmica: impedir que o Hamas assuma o controle desses suprimentos.
Organizações humanitárias, no entanto, denunciam essa estratégia como uma forma de “chantagem política”, nas palavras do próprio Hamas, que responsabilizou Israel pela “catástrofe humanitária” vivida por mais de 2,4 milhões de civis na região.
O bloqueio imposto por Israel desde 2 de março tem sido duramente criticado por organismos internacionais.
Apesar de o governo israelense alegar que há alimentos suficientes, agências da ONU alertam sobre uma grave escassez de recursos, que pode evoluir para uma crise de fome em larga escala.
O Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) condenou publicamente o plano de distribuição israelense, classificando-o como “contrário aos princípios humanitários internacionais”.
Além disso, um grupo de agências da ONU e ONGs que atuam nos Territórios Palestinos acusou Israel de tentar fechar os canais tradicionais de distribuição de ajuda, forçando-os a seguir diretrizes impostas pelas Forças de Defesa de Israel.
Prisioneiros israelenses se tornam moeda de troca
Outro elemento-chave do plano militar é a tentativa de recuperar os prisioneiros israelenses que seguem sob custódia do Hamas desde o ataque de 7 de outubro de 2023.
Segundo o chefe do Estado-Maior israelense, Eyal Zamir, a intensificação das operações militares tem como objetivo pressionar o Hamas para a liberação dos reféns, embora críticos afirmem que as ações colocam em risco a vida dos próprios prisioneiros.
O Fórum das Famílias dos prisioneiros capturados afirmou que o plano sacrifica os reféns em troca da conquista territorial, e acusa o governo de ignorar a vontade da maioria da população israelense, que seria contrária à priorização militar frente à recuperação dos detidos.
“Esta manhã, o governo reconheceu que escolhe o território e não os prisioneiros, ao contrário do desejado por mais de 70% da população”, afirmou o comunicado do grupo.
Atualmente, o Hamas mantém 58 reféns vivos de um total de 251 capturados em outubro de 2023.
O ataque inicial do grupo islamista resultou na morte de 1.218 pessoas em Israel.
Desde então, a contraofensiva israelense já deixou mais de 52 mil mortos na Faixa de Gaza, sendo a maioria mulheres e crianças, de acordo com dados de autoridades locais e organizações internacionais.
Comunidade internacional reage com preocupação
O plano israelense de ocupação definitiva de Gaza não passou despercebido à comunidade internacional.
Diplomatas europeus e líderes de países árabes classificaram a proposta como “uma escalada sem precedentes” no conflito, com potencial de provocar uma crise regional ainda mais profunda.
Além das questões humanitárias, a decisão reacende o debate sobre a legalidade de ocupações prolongadas em territórios estrangeiros, tema sensível no direito internacional e frequentemente citado em resoluções da ONU.
Grupos aliados do Hamas, como os rebeldes huthis do Iêmen, também intensificaram sua atuação.
Um míssil disparado pelo grupo atingiu, no domingo, uma área próxima ao aeroporto principal de Israel, nos arredores de Tel Aviv, aumentando ainda mais a tensão no cenário de guerra.