Nas próximas décadas, a mobilidade urbana pode deixar de ser um problema terrestre para se tornar uma solução aérea.

Em um cenário onde engarrafamentos colossais, transporte ineficiente e poluição desafiam o dia a dia das grandes cidades, um projeto ousado conduzido por uma empresa brasileira promete levar a mobilidade para os céus com eficiência, sustentabilidade e inovação.

Imagine um veículo que decola na vertical, voa silenciosamente por até 100 quilômetros e pousa suavemente em um heliponto urbano, transportando passageiros em poucos minutos entre bairros distantes.

Esse futuro não está tão distante quanto parece — e ele tem assinatura nacional.

A aposta bilionária na mobilidade aérea

Segundo a matéria realizada pelo portal ”G1”, a Eve Air Mobility, uma spin-off da Embraer voltada para soluções de transporte aéreo urbano, acaba de conquistar um investimento de até R$ 90 milhões da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) — uma instituição vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

A injeção de recursos será destinada à pesquisa e ao desenvolvimento do eVTOL (veículo elétrico de decolagem e pouso vertical), popularmente conhecido como “carro voador”.

Esse aporte, formalmente chamado de subvenção econômica, é um tipo de financiamento não reembolsável, ou seja, a empresa não precisará devolver os recursos públicos, já que o foco está no incentivo à inovação tecnológica de alto impacto.

Como contrapartida, a Embraer também comprometeu-se a investir R$ 101 milhões em seus próprios recursos, totalizando um montante de R$ 191 milhões exclusivamente voltados para pesquisa e inovação no setor aeroespacial.

Uma aeronave para transformar as cidades

A proposta da Eve é ambiciosa: criar um ecossistema completo de mobilidade aérea urbana, desde o desenvolvimento de aeronaves até serviços digitais e infraestrutura de operação.

Para isso, parte do investimento será direcionado à construção do TechCare, um pacote integrado de soluções operacionais, serviços ao cliente e suporte técnico voltado à operação dos eVTOLs.

Entre os focos de pesquisa estão sistemas autônomos de voo, propulsão híbrido-elétrica e por hidrogênio, armazenamento avançado de energia, redução de ruído, uso de combustíveis sustentáveis e novas configurações aerodinâmicas.

A empresa também investe em materiais leves e novos sistemas de gerenciamento de tráfego aéreo urbano.

Testes e certificação: um caminho rigoroso até os céus

Em janeiro de 2025, a Eve divulgou imagens do primeiro teste de motor do protótipo do eVTOL, realizado na planta industrial da Embraer em Gavião Peixoto (SP).

O destaque foi para o motor pusher, responsável pela propulsão traseira da aeronave.

Durante os testes, foram avaliadas a integração dos sistemas de propulsão e a comunicação com o controle remoto — fatores cruciais para garantir segurança durante os voos.

A expectativa da empresa é que o modelo receba certificação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) até 2027.

A partir daí, o eVTOL poderá ser entregue aos primeiros clientes e iniciar operações comerciais.

Fábrica em Taubaté: o futuro sendo construído no interior de São Paulo

Para viabilizar a produção em larga escala, a Eve planeja uma fábrica moderna em Taubaté (SP), com capacidade para montar até 480 unidades por ano.

A instalação já foi confirmada com apoio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que aprovou um financiamento de R$ 500 milhões para a construção da unidade.

A fábrica será instalada em um terreno da própria Embraer e empregará cerca de mil pessoas quando estiver em plena capacidade, incluindo engenheiros, técnicos e especialistas em tecnologia de ponta.

O projeto prevê uma produção escalonada em quatro fases, para acompanhar o crescimento da demanda global por veículos aéreos elétricos.

Um mercado bilionário em expansão

Até o momento, a Eve já recebeu quase 3 mil pedidos de eVTOLs de mais de 30 clientes em 13 países, o que representa um potencial de receita estimado em US$ 14,5 bilhões.

Esse interesse mostra o potencial de transformação que a mobilidade aérea urbana pode gerar.

Além da Finep, em 2022, o BNDES já havia aprovado um financiamento de R$ 490 milhões para o desenvolvimento do eVTOL da Eve, indicando que o projeto vem sendo apoiado por diversas frentes desde seus estágios iniciais.