Revista Sociedade Militar, todos os direitos reservados.

Conheça os Peacekeepers: os militares brasileiros que se tornam a última esperança quando um país entra em colapso e falha em proteger seu povo — assumindo a missão de salvar vidas e restaurar a ordem

Militares brasileiros enfrentam zonas de guerra, desastres e conflitos civis para representar o Brasil em missões de paz da ONU, vivenciando experiências únicas, marcadas por tensão, solidariedade, preparo técnico e uma profunda transformação pessoal em terras estrangeiras.

por Alisson Ficher Publicado em 08/06/2025
Conheça os Peacekeepers: os militares brasileiros que se tornam a última esperança quando um país entra em colapso e falha em proteger seu povo — assumindo a missão de salvar vidas e restaurar a ordem

Quando um país entra em colapso, perde a capacidade de proteger seus cidadãos e garantir direitos básicos como segurança, saúde e liberdade. Nesse momento, a ajuda internacional passa a ser essencial.

É nesse cenário de urgência e instabilidade que os militares brasileiros, treinados especialmente para atuar como peacekeepers — os “mantenedores da paz” da Organização das Nações Unidas (ONU) — entram em ação.

Eles não apenas representam o Brasil, mas também carregam consigo valores de coragem, empatia e compromisso com os direitos humanos.

Com capacitação rigorosa e experiências marcantes, os peacekeepers brasileiros ganham cada vez mais reconhecimento nas operações da ONU.

Missões que marcam vidas

Segundo informações do portal ”Termômetro da politica”, participar de uma missão internacional da ONU não é apenas um desafio profissional — é uma jornada de autoconhecimento, superação e empatia.

Cada militar vive uma experiência única, muitas vezes marcada por momentos intensos e emocionantes.

A Major Gabriela Rocha Bernardes sabe disso muito bem.

Em junho de 2022, ela foi deslocada para o Sudão, sendo a única mulher brasileira presente na Missão Integrada de Assistência à Transição das Nações Unidas no Sudão (Unitams, na sigla em inglês).

Sua responsabilidade era grande: elaborar relatórios de um comitê que monitorava o cumprimento de acordos de paz, com o objetivo de manter a estabilidade no país africano.

Participar de uma missão de paz da ONU é um sonho. É a possibilidade de colocar em prática tudo o que a gente aprende e, ao mesmo tempo, aprender ainda mais sobre tolerância, convivência com culturas diferentes e valorização do nosso país”, declarou a major.

No entanto, em abril de 2023, a situação no Sudão se agravou drasticamente com o surgimento de um novo conflito armado, e a ONU organizou a retirada dos membros da missão.

Mesmo em meio ao caos, Gabriela manteve a calma.

Foi difícil, claro. Mas estamos preparados para esse tipo de situação. O risco faz parte da nossa escolha profissional. O treinamento que recebemos nos dá força para enfrentar momentos assim com resiliência”, afirmou.

Entre terremotos e tensões políticas

O Subtenente Natalício da Mota Rodrigues também tem lembranças vívidas de sua missão como peacekeeper.

Ele atuou no Haiti em 2010, durante a Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), pouco tempo após o país ter sido devastado por um terremoto.

Comandante de Grupo da Polícia do Exército, ele foi responsável pela segurança durante as eleições presidenciais haitianas — um processo democrático marcado por tensões extremas.

Tinha barricadas nas ruas, focos de incêndio, e a cidade estava dominada por manifestantes. A missão era garantir a ordem. Tínhamos que atravessar esses pontos críticos para proteger o Palácio do Governo”, lembra o subtenente.

As cenas de destruição e revolta ficaram marcadas para sempre na memória de Natalício, que destaca a importância do treinamento militar brasileiro para atuar sob intensa pressão.

Uma visita real e a luta contra as minas terrestres

O capitão veterano Lauro Rodrigues da Veiga participou de quatro missões internacionais, mas uma delas se destacou de maneira especial: Angola.

Na missão da Unavem 3, em 1997, ele testemunhou de perto uma ação global liderada por ninguém menos que a Princesa Diana.

A visita da princesa britânica foi um marco na luta contra as minas terrestres — uma ameaça constante no país africano.

Ela percorreu áreas minadas com coragem, fazendo campanha pela erradicação desses armamentos.

Infelizmente, conhecemos colegas e civis que se feriram em explosões, o que mostra a gravidade desse problema”, comentou o capitão.

São experiências que ficam gravadas para sempre na nossa vida. Aprendemos a valorizar a paz, a segurança e tudo aquilo que temos aqui no Brasil.

Transformações pessoais e profissionais

Além das tarefas militares, os peacekeepers passam por mudanças internas profundas.

Segundo todos os militares ouvidos na reportagem, as missões internacionais alteram a forma como enxergam o mundo.

A gente passa a dar mais valor às pequenas coisas: casa, família, saúde, comida. Em muitos países onde atuamos, as pessoas não têm nada disso”, relata o capitão Lauro.

O Subtenente Natalício reforça esse pensamento e lembra que o preparo psicológico e técnico é essencial.

“Foi uma experiência muito rica. Nosso grupo estava bem treinado e pronto para enfrentar as adversidades. Isso fez toda a diferença”, destacou.

O rigor do preparo dos peacekeepers

O Brasil possui uma das estruturas mais respeitadas de treinamento para peacekeepers.

Militares designados para missões da ONU passam por programas intensivos que incluem simulações de combate, interações com civis em ambientes hostis, treinamentos sobre direitos humanos, idiomas e geopolítica internacional.

O Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), localizado no Rio de Janeiro, é o principal polo de formação desses profissionais.

Ali, militares de diferentes ramos das Forças Armadas e até estrangeiros treinam lado a lado, preparando-se para atuar em nome da paz.

Além disso, o Exército Brasileiro já foi referência em diversas missões internacionais, como no Timor Leste, no Líbano e na República Democrática do Congo.

O reconhecimento internacional

O profissionalismo, a disciplina e o compromisso dos militares brasileiros têm sido elogiados pela ONU e por países parceiros.

Missões bem-sucedidas no Haiti, Sudão, Congo, Moçambique e em outras regiões consolidaram o Brasil como uma potência em apoio humanitário e operações de paz.

Essas ações também reforçam a diplomacia brasileira como agente de equilíbrio, promovendo soluções negociadas e priorizando a defesa dos direitos humanos.

A atuação dos peacekeepers é uma das faces mais nobres do poder militar — não voltada à guerra, mas à reconstrução, à proteção e à esperança.

 

Alisson Ficher

Alisson Ficher