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Tensão na fronteira: Exército brasileiro invade território peruano e país vizinho acusa o Brasil de apreender produtos de comunidades nativas

Exército brasileiro tem objetivo declarado de combater o tráfico de drogas, o garimpo ilegal e o contrabando, problemas crônicos da Amazônia.

por Thaís Souza Publicado em 04/06/2025 — Atualizado em 05/06/2025
Tensão na fronteira: Exército brasileiro invade território peruano e país vizinho acusa o Brasil de apreender produtos de comunidades nativas

Imagina viver numa região tão isolada que o único jeito de conseguir comida ou atendimento médico é cruzar um rio e entrar em outro país. Agora, imagine que, ao fazer isso, você seja parado por soldados armados que pedem seus documentos e confiscam seus mantimentos. Foi exatamente esse cenário que gerou uma denúncia grave vinda do Peru, alegando que o exército do Brasil estaria invadindo áreas peruanas na Amazônia. O caso, divulgado por um dos maiores veículos de imprensa do país vizinho, acendeu um alerta nas relações diplomáticas entre as duas nações.

O que está por trás da denúncia contra o Brasil. O estopim da crise foi um vídeo publicado pela Exitosa Notícias, rede jornalística com mais de 1 milhão de seguidores, em que indígenas da comunidade Nueva Esperanza, na província de Ramón Castilla (região de Loreto), acusam soldados brasileiros de entrar no território peruano pelo rio Javari. Eles afirmam que essas incursões são frequentes, com apreensão de alimentos e exigência de documentos dos moradores locais.

Teddy Alvarado, tenente-governador da comunidade, foi direto ao ponto em sua declaração pública: “Queremos que o trânsito fluvial seja controlado por autoridades peruanas e não por forças estrangeiras que nos tiram o pouco que temos”.

Uma região esquecida entre dois países

A área do rio Javari é uma das mais remotas da floresta amazônica. Estamos falando de um local onde o Brasil, o Peru e a Colômbia se encontram, mas a presença estatal é quase nula. Não há postos de controle fixos nem marcos visíveis que delimitem claramente os limites territoriais. Por isso, muitos ribeirinhos acabam navegando de um lado para o outro sem saber se estão em solo brasileiro ou peruano.

Essa ausência de infraestrutura, especialmente do lado peruano, fez com que várias comunidades indígenas passem a depender do Brasil para sobreviver. Muitos vão de barco até Tabatinga (AM), cidade brasileira próxima, em busca de mantimentos ou atendimento médico. Em alguns casos, bebês peruanos nascem em hospitais brasileiros e ganham automaticamente a cidadania brasileira, o que torna a questão ainda mais delicada.

Patrulhamento brasileiro ou invasão?

De fato, o exército do Brasil realiza patrulhas constantes na região do rio Javari. O objetivo declarado é combater o tráfico de drogas, o garimpo ilegal e o contrabando, problemas crônicos da Amazônia. Essas ações envolvem abordagem de embarcações, checagem de documentos e, às vezes, apreensões de mercadorias. Mas, segundo fontes militares brasileiras, tudo isso é feito estritamente dentro do território nacional.

“Os militares utilizam GPS, mapas topográficos e sistemas de localização atualizados. Não há razão para acreditar que estejam cruzando para o lado peruano por engano”, afirmou um oficial da área ouvido pela Agência Brasil.

O vídeo e a polêmica: onde começa e onde termina a fronteira?

As imagens compartilhadas pelos indígenas peruanos mostram militares fardados realizando abordagens em pequenas embarcações. No entanto, não há elementos visuais que comprovem se o local do vídeo está de fato no Peru. A tranquilidade com que os soldados se permitem ser filmados indica que, provavelmente, ainda estavam em território brasileiro.

Essa ambiguidade é comum em áreas de fronteira na floresta. O mesmo trecho de rio pode funcionar como divisa, estrada e até zona de ninguém. Por isso, erros de interpretação ou confusão sobre jurisdição acontecem, alimentando boatos e desinformação.

O abandono que vira escândalo. O verdadeiro drama por trás da denúncia não está apenas na suposta “invasão”, mas sim no abandono do território peruano. As comunidades da região enfrentam o descaso do governo central de Lima, que não oferece escolas, postos de saúde, nem segurança. O resultado é que essas populações se aproximam cada vez mais do Brasil, pela necessidade, e não por ideologia.

A Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (AIDESEP) já havia alertado anteriormente que várias comunidades da região gostariam de pertencer ao Brasil, simplesmente porque se sentem ignoradas pelo Peru.

E agora, o que vai acontecer? Até o momento, nem o governo peruano nem o Exército Brasileiro emitiram comunicados oficiais sobre o incidente. Do lado brasileiro, a postura tem sido de silêncio e cautela. Enquanto isso, do lado peruano, organizações locais pressionam o Ministério das Relações Exteriores para que instale urgentemente um posto de controle fixo na região de fronteira.

É um daqueles casos em que, mais do que uma ação hostil, o que existe é uma falha crônica de gestão territorial. Especialistas como o pesquisador João Meirelles Filho, do Instituto Peabiru, destacam que:

“A ausência do Estado nas fronteiras da Amazônia é um convite para confusões e para o avanço de atividades ilegais”.

Ruído, abandono e uma fronteira invisível

A denúncia peruana, apesar de grave, parece ser mais um reflexo do abandono da região amazônica por parte do governo do Peru, do que uma violação concreta feita pelo Brasil. O vídeo é legítimo e o sentimento de insegurança por parte dos indígenas é real, mas até agora não há provas de que o exército brasileiro tenha ultrapassado a linha territorial. O episódio revela como fronteiras mal definidas e ausência de presença institucional se tornam terreno fértil para boatos e tensões.

E você, o que pensa sobre isso? Você acredita que o Brasil e o Peru deveriam investir mais na proteção e desenvolvimento das regiões amazônicas de fronteira? Deixe seu comentário aqui embaixo e compartilhe esse artigo com outras pessoas. 

 

Thaís Souza

Thaís Souza

Sou Thais Souza, militar e redatora especializada no setor de Defesa. Com vasta experiência na cobertura de temas estratégicos, segurança nacional, tecnologia militar entre outros. Com milhares de artigos publicados, contribuo para a informação qualificada de um público exigente e atento às transformações do cenário geopolítico e militar. Meu compromisso é oferecer conteúdo confiável, atualizado e relevante para especialistas, entusiastas e profissionais da área. Para reportar erro, tirar dúvidas e sugestão de pauta, entre em contato thaissouza.sociedademilitar@gmail.com