O Serviço de Pesquisa do Congresso dos Estados Unidos divulgou um relatório detalhado que além de demonstrar a intensificação da preocupação dos EUA frente à crescente proeminência da Marinha da China traz detalhes importantes sobre o tema, revelando inclusive a tendência que a China tem assumido em se projetar para águas mais distantes.

Publicado no dia 30 de janeiro, o relatório do Serviço de Pesquisa do Congresso dos Estados Unidos da América destaca a transformação da Marinha chinesa em uma força significativamente mais moderna e capaz ao longo dos últimos 30 anos, evidenciando não apenas o poderio militar da China em sua região marítima próxima, mas também a expansão para regiões marítimas mais distantes do Pacífico Ocidental, Oceano Índico e mesmo águas européias.
A constatação de que a Marinha da China, agora a maior da Ásia Oriental, superou a Marinha dos EUA em termos de número de navios de força de batalha entre 2015 e 2020, com mais de 370 plataformas operacionais, é uma demonstração preocupante para os EUA e muito palpável do avanço chinês.
“O esforço de modernização militar da China… é avaliado como tendo como objetivo o desenvolvimento de capacidades para, entre outras coisas, abordar militarmente a situação com Taiwan, se necessário; alcançar um maior grau de controle ou dominação sobre a região próxima ao mar da China, particularmente a Mar da China Meridional; reforçar a visão da China de que tem o direito de regulamentar actividades militares na sua zona económica exclusiva marítima (ZEE) de 200 milhas;defender as linhas de comunicação marítimas comerciais (SLOCs) da China, particularmente aqueles que ligam a China ao Golfo Pérsico; deslocando a influência dos EUA no Ocidente Pacífico; e afirmar o estatuto da China como principal potência regional e importante potência mundial.”
A Marinha dos EUA contava com 292 navios em janeiro de 2024, com previsões indicando uma redução para 290 navios até 2030. O crescimento descomunal da capacidade naval chinesa, projetado para atingir 435 navios até 2030, reflete a estratégia ambiciosa que visa não somente assegurar a supremacia regional, mas também estabelecer a China como a maior potência global marítima.
A modernização da Marinha da China engloba uma ampla gama de programas que incluem a aquisição de novos navios, aeronaves, armamentos, e sistemas de comando, controle, comunicações, computadores, inteligência, vigilância e reconhecimento (C4ISR), além de melhorias significativas em logística, doutrina, qualidade do pessoal, educação, treinamento e exercícios.
Esse gigantesco esforço é direcionado para superar limitações existentes e consolidar capacidades militares com objetivos claros:
- resolver a questão de Taiwan, se necessário; dominar as águas próximas à China;
- proteger suas linhas de comunicação marítimas;
- diminuir a influência dos EUA no Pacífico;
- e afirmar seu status como uma potência mundial.
Em resposta, segundo o Congresso a Marinha dos EUA adotou medidas para contrapor o avanço chinês, reestruturando sua frota para o Pacífico, melhorando suas capacidades com a introdução de novas tecnologias e veículos não tripulados, e fortalecendo alianças militares na região Indo-Pacífica. Contudo, os americanos enfrentam desafios significativos, não apenas em termos de capacidade e orçamento, mas também em manter a prontidão e o interesse dos jovens americanos no serviço militar.
A diminuição do interesse dos jovens em se alistar apresenta uma ameaça interna à capacidade dos EUA de manter uma força de combate resiliente e adaptável, em um momento em que a ameaça externa representada pela China está em ascensão. Hoje, segundo estimativas recentes, há um déficit de cerca de 7 mil militares na Marinha.
A dualidade dos desafios – externos, com a ascensão da China, e internos, com a apatia dos jovens em relação ao serviço militar – coloca os Estados Unidos em uma encruzilhada estratégica. O aumento das demandas para os militares, com a recente questão no Mar Vermelho, o potencial de escalada na guerra enfrentada por Israel e outras questões impõem a necessidade de inovar em recrutamento e criar formas de retenção do pessoal que se alista.
O Congresso dos EUA, segundo indica o relatório, considera que enfrenta agora uma dura e complexa tarefa de equilibrar essas necessidades. Em uma época de cortes orçamentários e revisão de prioridades os congressistas vão de fato assegurar que a Marinha dos EUA permaneça competitiva? Os próximos anos nos darão a resposta.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar