A China está finalizando o Jiutian SS-UAV, um drone de ataque de alta altitude de quinta geração, capaz de operar a 15 mil metros, com alcance de 7 mil quilômetros e carga útil de até 1.000 quilos, o suficiente para lançar mais de 100 microdrones ou munições guiadas de precisão. Apresentado no Zhuhai Airshow 2024, o sistema é descrito pelo jornalista Roberto Caiafa, do canal Caiafa Master, como rival direto do MQ-9 Reaper e do RQ-4 Global Hawk, ambos ícones da aviação militar norte-americana.
Enxame letal: até 100 drones lançados por uma só aeronave
“O SS-UAV serve como um nó de controle para enxames coordenados de drones, funcionando essencialmente como um porta-aviões UAV voador”, afirmou Caiafa. Ao contrário de drones tradicionais, como o MQ-9, focados em missões de inteligência, vigilância e ataque de precisão, o Jiutian SS-UAV foi concebido como plataforma-mãe para operações de enxame, com capacidade de lançar até 100 drones suicidas.

O que é um “drone-mãe”?
Trata-se de uma aeronave não tripulada, de grande porte, que transporta e lança múltiplos drones menores, chamados “microdrones” ou “drones suicidas”, capazes de executar missões autônomas de ataque ou reconhecimento.
Capaz de ficar até 36 horas no ar
A aeronave atinge altitudes de até 15 mil metros e pode permanecer em voo por até 36 horas, operando como um comando aéreo para “operações complexas de enxame em vastas distâncias”, explicou Caiafa. Com 16,5 metros de comprimento, 25 metros de envergadura e peso máximo de decolagem de 16 toneladas, o SS-UAV “é concebido não apenas como uma plataforma de sensores ou bombardeiro, mas como um nó de comando aéreo”.
O que significa HALE?
High-Altitude, Long-Endurance, ou seja, sistemas aéreos não tripulados capazes de operar a grande altitude e por longos períodos, essenciais para missões estratégicas.
Rivaliza com o MQ-9 Reaper e o RQ-4 Global Hawk
“Em termos de conceito, o Jiutian SS-UAV rivaliza com o MQ-9 Reaper e o RQ-4 Global Hawk dos Estados Unidos, embora apresente divergências no design e na missão”, disse Caiafa. O MQ-9 Reaper, fabricado pela General Atomics, é um drone de ataque e reconhecimento. Já o RQ-4 Global Hawk, da Northrop Grumman, atua como plataforma de vigilância de alta altitude. O SS-UAV, contudo, aposta na coordenação de enxames para “redefinir o domínio aéreo”.
Por que isso importa?
O uso de enxames de drones permite saturar defesas inimigas, reduzindo riscos para operadores humanos e aumentando a eficácia em ambientes hostis.
Desenvolvimento relâmpago e apoio estatal
Segundo Caiafa, “os chineses finalizaram o quarto protótipo do equipamento em abril de 2025, apenas 18 meses após o início oficial do projeto”. O cronograma acelerado reflete o esforço da China em consolidar a liderança em tecnologia de guerra autônoma. A primeira demonstração pública ocorreu no Zhuhai Airshow 2024 e o primeiro teste de voo está previsto para junho deste ano.
“Se tudo der certo, a Nave Drone, como o equipamento vem sendo chamado pelos chineses, será implementado no Exército de Libertação Popular da China (PLA)“, relatou Caiafa, destacando o ritmo “recorde” de desenvolvimento.
Arquitetura modular e operações multidomínio
De acordo com o jornalista, o SS-UAV possui “arquitetura modular, permitindo atualizações rápidas ou configurações específicas para a missão”. Isso significa que pode ser adaptado tanto para ataques com mísseis antinavio e ar-ar, quanto para vigilância e guerra eletrônica, dependendo do cenário.
“O sistema representa um forte avanço no setor de guerra aérea da China e atende às ambições do país em consolidar seu domínio aéreo e sua presença no uso da inteligência artificial em tecnologia militar não tripulada”, apontou Caiafa.
Projeção de poder na Ásia
O Jiutian SS-UAV está sendo interpretado como peça-chave na estratégia chinesa para fortalecer a projeção assimétrica de poder no Estreito de Taiwan e no Mar da China Meridional. “Seus primeiros testes de voo sinalizam uma fase crítica na ambição da China de liderar as operações de comando e controle baseadas em drones”, destacou Caiafa.
Além disso, especialistas indicam que o sistema poderá “redefinir o papel dos drones em cenários de conflito com lançamentos em massa” e “coordenação de ataques com maior autonomia e menor risco para os operadores humanos”.
Por que o termo “projeção assimétrica de poder”?
Refere-se ao uso de tecnologias e táticas que oferecem vantagem sobre forças mais tradicionais, como a utilização de enxames de drones para superar sistemas de defesa convencionais.
Guerra aérea autônoma: uma nova era
“A arquitetura do drone reflete o salto da China em direção à guerra aérea autônoma, oferecendo coordenação via satélite e processamento a bordo para missões de segmentação, vigilância e interferência em tempo real”, explicou Caiafa. O projeto também ilustra a tendência da China de integrar inovações do setor privado à defesa, com a Jiutian posicionando-se como protagonista.
Por ora, o SS-UAV ainda não entrou em produção ou serviço em massa, mas já é visto como um “banco de testes para futuras estratégias de comando de enxame e doutrinas de guerra de drones de longa duração”, concluiu o jornalista.