Em um dos capítulos mais singulares da corrida espacial, o cosmonauta soviético Sergei Krikalev se viu imerso em uma jornada cósmica que transcendeu os limites da ciência e se entrelaçou com a história. Enquanto executava uma missão de rotina na estação espacial Mir, em 1991, Krikalev testemunhou um dos eventos mais marcantes do século XX: a dissolução da União Soviética. A 400 quilômetros da Terra, orbitando nosso planeta a cada 90 minutos, ele se tornou, sem querer, o último cidadão soviético.
Krikalev decolou em maio daquele ano, deixando para trás o país comunista em que cresceu. Durante sua estadia em órbita, a URSS colapsou e Krikalev ficou preso no espaço, sem previsão de retorno. Embora outros cosmonautas tenham chegado e ido embora, não havia quem o substituísse como engenheiro mecânico responsável pela estação.
A missão e a mudança
Krikalev decolou em 18 de maio de 1991, com a expectativa de uma missão de cinco meses. No entanto, o destino reservava uma reviravolta surpreendente. A instabilidade política na Terra, com a guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética, e as mudanças nas prioridades espaciais levaram a um prolongamento indeterminado de sua estadia na Mir. Enquanto realizava suas tarefas a bordo da estação, a URSS ruía.
Um limbo cósmico
Enquanto Krikalev orbitava a Terra, dando mais de 5 mil voltas no planeta, sua única comunicação era via rádio, incluindo conversas com sua esposa, Elena Terekhina, operadora de rádio no programa espacial soviético. Ambos evitavam discutir a turbulenta situação política em solo.
Isolado no espaço, Krikalev recebia notícias fragmentadas e imprecisas sobre a situação em seu país natal. Suas comunicações com a Terra eram limitadas e filtradas. A incerteza sobre seu futuro e o destino da nação que representava geravam uma angústia que transcendia as fronteiras da estação espacial.
Impacto físico e psicológico
A prolongada estadia no espaço trouxe consigo uma série de desafios físicos e psicológicos. A microgravidade, a radiação cósmica e o isolamento social são fatores que podem afetar a saúde dos astronautas. Krikalev experimentou em primeira mão os efeitos da perda de massa muscular e óssea, além de lidar com os aspectos emocionais de estar tão distante de casa em um momento de grandes transformações.
O retorno e o legado
Ao final de sua missão, uma colaboração entre ex-adversários da Guerra Fria possibilitou seu retorno à Terra. Quando chegou à Rússia em 1992, o cosmonauta estava fisicamente debilitado, mas aliviado: “Foi muito bom voltar”, disse em documentário da BBC.
Ao pisar em solo russo, após 312 dias no espaço, Krikalev se deparou com um país em reconstrução e uma nova identidade nacional. Sua experiência única o tornou uma figura emblemática, representando a resiliência do espírito humano diante das adversidades.
Sergei Krikalev: O último soviético
Sergei Krikalev é considerado o “último soviético” porque, enquanto ele estava em uma missão espacial a bordo da estação Mir em 1991, a União Soviética colapsou. Krikalev decolou em 18 de maio daquele ano, quando a URSS ainda existia, mas, durante os 312 dias que passou no espaço, o país se dissolveu. Ele retornou à Terra em 25 de março de 1992, quando a União Soviética já havia deixado de existir e sido substituída pela Federação Russa.
Nesse sentido, Krikalev simboliza o fim de uma era, pois foi o último representante da União Soviética no espaço, mesmo que, na prática, o país que o enviou para a missão já não existisse quando ele voltou. Sua história encapsula o momento de transição entre o período soviético e a nova realidade da Rússia pós-soviética, o que lhe rendeu o título de “último cidadão soviético”.
Mesmo após a longa estadia, Sergei Krikalev continuou sua carreira como cosmonauta, acumulando um total de 803 dias no espaço, o quarto maior tempo da história.
Com informações de Super Interessante