Artigo de opinião: O clima de tensão entre os candidatos José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB) chegou a um novo nível durante o debate transmitido pela TV Cultura na noite do dia 15 de setembro.
Após ser provocando com a frase “você não é homem”, Datena reagiu de forma agressiva. O candidato desferiu uma cadeirada em Marçal, um momento que chocou o público e forçou a interrupção do debate.
Esse ataque não foi um incidente isolado. Trata-se da culminação de uma série de atritos que começaram em um debate anterior, realizado em 1º de setembro na TV Gazeta. Na ocasião, Datena já havia demonstrado sua frustração ao abandonar o púlpito e caminhar em direção a Marçal, mas, no último momento, desistiu de atacá-lo fisicamente. Essa hesitação, no entanto, plantou a semente para o conflito posterior.
Declaração polêmica no Flow Podcast: “Eu me arrependi de não ter feito”
Dias após o debate na TV Gazeta, Datena participou do Flow Podcast, onde confessou ter se arrependido de não ter agredido Marçal. De acordo com Datena, “eu só me arrependi de não ter subido lá e enchido aquele cara de porrada”. Seu desabafo alimentou ainda mais a expectativa de um confronto físico no futuro.
Essa afirmação, além de expressar frustração, elevou a tensão para os debates seguintes. Para muitos, Datena parecia comprometido a não recuar novamente diante das provocações de Marçal, o que criou um clima de antecipação perigosa.

A fala de Datena no Flow Podcast, onde admitiu publicamente seu arrependimento, funcionou como uma verdadeira armadilha verbal. Ao declarar que desejava ter atacado Marçal, Datena criou uma expectativa inevitável. Portanto, ou o tucano confirmaria sua postura em uma nova oportunidade, ou recuaria e, assim, enfraqueceria sua imagem perante o público. Esse “compromisso” autoimposto o pressionava a não deixar um novo desafio de Marçal sem resposta.
Marçal, portanto, explorou essa fraqueza, sabendo que o oponente não teria opções caso provocado no futuro.
O debate na TV Cultura: cadeirada e expulsão
Durante o debate da TV Cultura, a provocação de Marçal foi o estopim que detonou o confronto físico. Ao ouvir a frase “você não é homem”, Datena sentiu-se encurralado pelas próprias palavras ditas anteriormente no Flow. A resposta, então, veio em forma de ação: Datena pegou uma cadeira e a arremessou contra Marçal, cumprindo, na prática, o que havia prometido de maneira implícita em sua declaração anterior.
A agressão interrompeu o debate imediatamente. Datena foi expulso do evento, enquanto Marçal abandonou o estúdio, alegando um ferimento grave, o que posteriormente se confirmou.

A declaração de Datena no Flow colocou-o em uma posição delicada. Ao verbalizar seu arrependimento por não ter atacado Marçal, ele condicionou suas futuras ações a essa narrativa.
Assim, ao ser provocado novamente, Datena tinha duas opções:
- Atacar Marçal: Ao reagir com violência, Datena confirmou o que havia insinuado anteriormente. Assim, o tucano evitou ser visto como um candidato que “fala e não faz”, mas manchou sua imagem e a dinâmica do debate, alimentando uma nova polêmica.
- Recuar mais uma vez: A segunda alternativa seria recuar e não reagir às provocações de Marçal, o que poderia ser interpretado como uma contradição pública. Após afirmar que se arrependia de não ter agredido o adversário, a falta de ação poderia ser vista como covardia ou incoerência, prejudicando sua campanha.
O resultado desse confronto mostra como palavras ditas em momentos de frustração podem sobretudo limitar o campo de ação de um político, forçando-o a escolhas que podem ter consequências desastrosas. No caso de Datena, suas declarações criaram uma expectativa que, ao cumpri-la, resultou em mais um escândalo em sua trajetória como candidato.