Enquanto busca fortalecer laços com potências não alinhadas ao Ocidente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva despertou desconfiança em países estratégicos para o desenvolvimento de tecnologias sensíveis no setor de defesa.
A consequência direta disso pode recair justamente sobre o projeto mais ambicioso da Força Aérea Brasileira: a aquisição e nacionalização de tecnologia dos caças Gripen, desenvolvidos pela empresa sueca Saab.
Linha de produção no Brasil sob risco
Em maio de 2023, Lula participou da inauguração da linha de produção dos caças Gripen na fábrica da Embraer em Gavião Peixoto (SP), a única fora da Suécia.
O acordo, firmado em 2014, prevê a entrega de 36 aeronaves até 2027, com 15 delas sendo produzidas integralmente no Brasil.
No entanto, a recente participação de Lula na parada militar do Dia da Vitória em Moscou, ao lado de Putin, foi malvista por países ocidentais, especialmente membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), da qual a Suécia passou a fazer parte em 2024.
A presença do presidente brasileiro ao lado do líder russo em um evento que celebra a vitória soviética na Segunda Guerra Mundial foi interpretada como um sinal de alinhamento político, gerando desconfiança sobre a neutralidade do Brasil em questões de segurança internacional.
Desconfiança sueca pode travar transferência de tecnologia
Segundo informações da ”Gazeta do Povo”, a Suécia, preocupada com a possibilidade de que informações sensíveis sobre os caças Gripen possam ser repassadas à Rússia, vê com cautela a continuidade da transferência de tecnologia ao Brasil.
O temor é que Moscou possa utilizar essas informações para desenvolver contramedidas ou aprimorar seus próprios sistemas de defesa aérea.
Até o momento, o Brasil recebeu oito dos 36 caças Gripen previstos no contrato.
No entanto, essas aeronaves ainda não estão plenamente operacionais, pois seus sistemas de mísseis, canhões e lançamento de bombas não foram completamente integrados.
A Saab, fabricante dos caças, reiterou em nota que o Brasil é um “verdadeiro co-desenvolvedor” do Gripen, recebendo ampla transferência de tecnologia e se posicionando como futuro polo regional de produção e exportação da aeronave na América Latina.
Saab nomeia ex-chefe de contrainteligência para o Brasil
A nomeação de Peter Dölling, ex-chefe de contrainteligência do governo sueco, como novo diretor da Saab no Brasil em agosto de 2024, reforça a preocupação da empresa com a segurança das informações compartilhadas.
Dölling assumiu o cargo com a missão de garantir que a parceria tecnológica entre os dois países seja mantida de forma segura e eficaz.
Embora não haja indícios públicos de ruptura no acordo com a Saab, a aproximação entre os governos do Brasil e da Rússia pode impactar a confiança estratégica no Brasil como parceiro seguro, especialmente em projetos militares sensíveis.
Cezar Roedel, doutor em Filosofia e mestre em Relações Internacionais, avalia que a aproximação entre Lula e Putin pode causar estranheza na ampliação das aquisições das aeronaves, diante da necessidade de investimentos em outras áreas de defesa, como radares, tecnologia antimísseis e segurança nas fronteiras terrestres.
Brasil pode perder posição estratégica
A parceria entre Brasil e Suécia para a produção dos caças Gripen é considerada estratégica para a modernização das Forças Armadas brasileiras e para o fortalecimento da indústria de defesa nacional.
A possibilidade de o Brasil se tornar um centro de produção e exportação de aeronaves de caça na América Latina representa uma oportunidade significativa para o país no cenário internacional.
No entanto, o alinhamento político do governo brasileiro com regimes considerados autoritários por países ocidentais pode comprometer essa posição estratégica.
A confiança mútua é um elemento fundamental em acordos de transferência de tecnologia militar, e qualquer sinal de instabilidade ou desvio de alinhamento pode levar à revisão ou até mesmo à suspensão de parcerias.
A situação atual exige uma avaliação cuidadosa por parte do governo brasileiro, que precisa equilibrar suas relações diplomáticas com diferentes nações sem comprometer acordos estratégicos já firmados.
A manutenção da parceria com a Suécia para a produção dos caças Gripen é vital para o avanço tecnológico e a soberania do Brasil na área de defesa.
Enquanto isso, a comunidade internacional observa atentamente os desdobramentos dessa relação, ciente de que decisões políticas podem ter impactos significativos em projetos de cooperação tecnológica e militar.