O exército britânico, uma força militar que já moldou o curso da história global, enfrenta atualmente sua pior crise desde o século XIX. Com um efetivo reduzido a menos de 75 mil soldados ativos, o menor número registrado desde as Guerras Napoleônicas, o Reino Unido se depara com desafios significativos para manter sua capacidade de resposta em tempos de crise. Especialistas alertam que, no cenário atual, a força militar do país não suportaria um conflito prolongado, como o observado recentemente na Ucrânia.
Historicamente reconhecido por sua capacidade de adaptação, o exército britânico transformou-se de uma força pequena e desorganizada, com apenas 4 mil soldados no final do século XVIII, em uma das mais disciplinadas da Europa durante as Guerras Napoleônicas. Em 1813, chegou ao auge de 250 mil soldados, complementados por regimentos especializados e aliados estrangeiros. No entanto, séculos depois, o cenário é outro: cortes sucessivos no orçamento de defesa, aliados à dependência excessiva de reservistas, minaram a eficiência e a prontidão da instituição.
Atualmente, cerca de 25 mil integrantes das Forças Armadas britânicas são reservistas, mas o sistema de recrutamento e treinamento enfrenta dificuldades, comprometendo a capacidade de mobilização rápida. Segundo Alister Carnes, ex-coronel dos Fuzileiros Reais e atual Ministro dos Veteranos, o exército poderia ser destruído em apenas seis meses de combate intenso. Ele ressalta a necessidade de uma reforma estrutural urgente para aumentar a profundidade estratégica e a capacidade de resposta em situações de crise.
A situação atual é consequência de uma série de decisões políticas e econômicas adotadas após o colapso da União Soviética. Durante os anos 1990 e início do século XXI, muitos países, incluindo o Reino Unido, adotaram a chamada “postura dos dividendos da paz”. Essa estratégia priorizava conflitos localizados e breves, confiando na automação e na coalizão com os Estados Unidos, em detrimento de um exército numeroso e com resposta autônoma.
A crise financeira global de 2008 intensificou os cortes orçamentários, atrasando programas de modernização e resultando na dissolução de regimentos históricos. Desde então, a força militar britânica passou a focar em guerras assimétricas, como os conflitos no Oriente Médio, negligenciando a preparação para combates convencionais contra grandes potências.
Embora o cenário seja desafiador, há esforços para reverter esse quadro. O governo britânico anunciou a intenção de aumentar o orçamento de defesa de 2% para 2,5% do PIB, priorizando a modernização de equipamentos e o fortalecimento do sistema de reservas. Medidas como a simplificação do recrutamento e maiores incentivos financeiros para atrair talentos também estão sendo discutidas como parte da estratégia de recuperação.
O enfraquecimento do exército britânico gera preocupações não apenas internas, mas também dentro da OTAN. A ausência de uma força robusta do Reino Unido pode comprometer a segurança da Europa Ocidental, especialmente diante das crescentes tensões com a Rússia. A revitalização das forças armadas britânicas é vista como essencial para garantir a estabilidade regional e o papel do país como uma potência militar global.
Com informações de: Hoje no mundo Militar