O conflito entre Rússia e Ucrânia registrou um marco inédito no uso de tecnologias autônomas em combate. Um drone naval ucraniano derrubou um caça russo Su-30 avaliado em US$ 50 Milhões, sobre o Mar Negro. De acordo com informações divulgadas pela CNN, a ação foi conduzida por uma unidade especial da Inteligência Militar da Ucrânia (HUR), em coordenação com o Serviço de Segurança ucraniano.
Segundo especialistas, o ataque foi realizado por meio de um míssil ar-ar R-73 lançado a partir de um veículo não tripulado de superfície do tipo Magura V5. Essa operação representa a primeira ocorrência registrada em que uma aeronave de combate é abatida por um drone marítimo, marcando um avanço relevante nas capacidades de guerra remota e redefinindo o uso de plataformas navais autônomas em zonas de conflito.
Magura V5: o drone de superfície que rompe os limites da guerra moderna e opera por meio do sistema Starlink
O Magura V5 representa uma nova geração de drones navais de superfície. Com menos de 1 tonelada, 5 metros de comprimento, e capacidade de transportar até 200 kg de carga explosiva, esse drone é equipado para missões multifuncionais. Com autonomia de até 800 km e velocidade máxima de 42 nós (cerca de 78 km/h), o Magura é operado remotamente via satélite, através do sistema Starlink.
A Starlink é um serviço de internet via satélite desenvolvido pela SpaceX, que utiliza uma constelação de satélites em órbita baixa da Terra (LEO) para fornecer conexão de alta velocidade e baixa latência em regiões urbanas e remotas. Apesar do custo elevado e da sensibilidade a condições climáticas adversas, o serviço vem sendo expandido globalmente e aplicado em emergências, operações móveis e monitoramento remoto de frotas.
Inicialmente empregado em ataques contra navios, sabotagens portuárias e operações de patrulha e reconhecimento, o drone Magura V5 agora se firma também como uma plataforma de defesa aérea inovadora.
O míssil utilizado no ataque ao Su-30, o R-73, possui aproximadamente 3 metros de comprimento, pesa mais de 100 kg e é capaz de alcançar velocidades superiores a duas vezes e meia a do som, com alcance de até 40 km, dependendo da versão. Sua orientação por infravermelho o torna altamente letal em combates de curto alcance.
Em dezembro de 2024, o mesmo modelo de drone já havia sido utilizado para derrubar um helicóptero russo Mi-8 nas águas próximas à Crimeia, o que representou o primeiro registro de um drone naval abatendo uma aeronave. A ofensiva contra o Su-30, no entanto, ampliou consideravelmente esse precedente e levou a guerra para um novo campo tático.
Grupo 13: operações secretas, engenharia militar e redefinição da superioridade aérea
Por trás dessas ações está o Grupo 13, unidade de elite vinculada à Diretoria Principal de Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia (HUR). Especializado em missões assimétricas, sabotagem e reconhecimento profundo, o grupo atua em áreas sensíveis como a Crimeia ocupada, o próprio Mar Negro e regiões sob controle russo. Desde a criação da Brigada 385 de drones navais, o Grupo 13 tem operado o Magura V5 como vetor principal em ofensivas navais e, agora, também aéreas.
Esse tipo de operação não se limita a ataques isolados. Trata-se de uma ofensiva articulada, com engenheiros civis, especialistas em comunicação criptografada e operadores remotos trabalhando em conjunto para compor um verdadeiro ecossistema de guerra tecnológica. O lançamento adaptado do míssil R-73 por um drone de superfície é resultado direto desse esforço multidisciplinar.
Drones de baixo custo desafiam a supremacia aérea e naval na nova era da guerra tecnológica
Além do impacto militar direto, o ataque ao Su-30 representa uma mudança estratégica de grande escala. Um drone avaliado em cerca de 250 mil dólares conseguiu neutralizar uma aeronave cujo valor ultrapassa 180 vezes esse montante. Isso altera profundamente a lógica de custo-benefício dos embates, desafiando a tradicional supremacia aérea e naval com soluções autônomas, acessíveis e letais.
A partir de agora, qualquer aeronave que sobrevoe regiões costeiras em cenários de guerra pode se tornar alvo de drones marítimos não tripulados. O Magura V5 deixa de ser apenas um instrumento de sabotagem naval e passa a ser um símbolo da revolução tecnológica que molda os combates modernos, onde plataformas autônomas e engenharia de baixo custo desafiam os pilares tradicionais do poder militar.