A ascensão militar da China tem despertado atenção global, e uma de suas estratégias mais eficazes é o conceito de negação de acesso e área (A2/AD, na sigla em inglês). Essa abordagem criou uma “bolha defensiva” ao redor do território chinês, especialmente na Primeira Cadeia de Ilhas, restringindo a movimentação de forças estrangeiras, principalmente dos Estados Unidos, na região.
O A2/AD não depende exclusivamente de porta-aviões. A China aposta em um mix de armamentos como mísseis antinavio, drones, submarinos e aeronaves tripuladas para fortalecer sua postura defensiva. Isso permite que o país proteja seus interesses estratégicos sem a necessidade de operar porta-aviões constantemente, reservando-os para operações de projeção de poder em áreas mais distantes.
Embora o país possua três porta-aviões atualmente, com planos de construir até seis até 2030, essa expansão serve mais como um complemento à estratégia global da China do que como um elemento essencial de sua defesa regional. O foco principal permanece na consolidação de sua “bolha defensiva”, que impede o acesso de navios e aeronaves inimigas à sua área de influência.
Os Estados Unidos enfrentam dificuldades para contornar essa estratégia. A bolha defensiva chinesa representa uma barreira significativa para a liberdade de navegação e manobra no Indo-Pacífico, um aspecto vital para a segurança de Taiwan e outros aliados americanos na região. Essa realidade força a Marinha dos EUA a operar seus porta-aviões longe da zona de alcance das armas chinesas, limitando sua capacidade de resposta em eventuais conflitos.
A estratégia chinesa reflete uma visão de longo prazo. Pequim está construindo uma defesa robusta e uma infraestrutura militar capaz de sustentar operações globais. O conceito da “String of Pearls” — ou “Cordão de Pérolas” — prevê a construção de bases navais em regiões estratégicas fora da Ásia, como Djibouti e Paquistão, para apoiar sua frota e garantir o fluxo de petróleo do Oriente Médio.
Apesar disso, a posição dos EUA no Indo-Pacífico permanece firme. A Marinha americana não pretende ceder espaço estratégico e continua a investir em tecnologias como mísseis de longo alcance e drones de combate para enfrentar a ameaça do A2/AD chinês. No entanto, a possibilidade de perder um porta-aviões em um confronto com a China levanta preocupações sobre o impacto psicológico e estratégico de tal evento.
A China, por sua vez, demonstra confiança em sua estratégia. A “grande muralha” marítima criada pelo A2/AD fornece proteção eficaz ao território chinês enquanto suas forças navais se expandem para operar em águas distantes. Com isso, o país consolida sua posição como uma potência militar e econômica global.
A escalada militar chinesa também inclui o aumento de seu arsenal nuclear, que pode alcançar 1.000 ogivas até 2030. Essa expansão preocupa os estrategistas americanos, que buscam maneiras de conter o crescimento militar de Pequim e proteger aliados como Taiwan de eventuais ações hostis.
Especialistas apontam que a estratégia de negação de acesso da China coloca os EUA em uma posição desafiadora. Por um lado, Washington precisa defender seus interesses na região e manter a liberdade de navegação; por outro, a perspectiva de um conflito direto com a China é uma ameaça séria à estabilidade global.
Enquanto isso, a liderança chinesa parece satisfeita em manter sua bolha defensiva e expandir gradualmente sua presença naval. Mesmo sem novos porta-aviões, o A2/AD já é suficiente para dissuadir ações americanas próximas ao território chinês, fortalecendo a posição de Pequim no cenário internacional.
A tensão no Indo-Pacífico ressalta a importância de estratégias bem definidas e do desenvolvimento de tecnologias avançadas. Tanto a China quanto os EUA entendem que qualquer erro de cálculo pode ter consequências catastróficas, tornando ainda mais vital o planejamento estratégico e a diplomacia em um ambiente de competição crescente.
A comunidade internacional acompanha com atenção a evolução dessa disputa, que pode definir o equilíbrio de poder global nas próximas décadas. Enquanto isso, a China avança com sua visão de longo prazo, e os EUA buscam maneiras de se adaptar e responder ao desafio representado pelo A2/AD.