A ilha de Changbiao, localizada no mar da China Oriental, passou de um território inóspito e isolado para o centro de um dos projetos mais avançados e protegidos do governo chinês. Nos últimos anos, o terreno foi transformado com a construção de reatores nucleares do tipo “fast breeder”, tecnologia que pode gerar plutônio de grau militar. Apesar das declarações do Partido Comunista Chinês de que o projeto tem fins exclusivamente civis, analistas e autoridades ocidentais têm dúvidas sobre essa versão oficial.
Admiral Sir Tony Radakin, chefe do Estado-Maior de Defesa do Reino Unido, destacou recentemente que o mundo entrou em uma “terceira era nuclear”, com a crescente ameaça da China como um dos principais fatores de preocupação. Estudos indicam que a expansão do arsenal nuclear chinês pode igualar em breve o de superpotências como os Estados Unidos e a Rússia, mudando o equilíbrio global de poder.
Especialistas afirmam que os reatores rápidos podem produzir plutônio altamente puro, utilizado em armas nucleares. Um relatório do Departamento de Defesa dos Estados Unidos revelou que a China já modernizou seus mísseis intercontinentais, iniciou a construção de novos silos de armazenamento e está conectando dois reatores rápidos à rede de energia.
O papel dos reatores rápidos no avanço nuclear da China
Os reatores rápidos, como os CFR-600 em construção em Changbiao, utilizam nêutrons rápidos para criar mais plutônio do que consomem. Cada reator tem a capacidade de produzir cerca de 200 quilos de plutônio por ano, quantidade suficiente para fabricar 50 ogivas nucleares, segundo especialistas. Embora o plutônio produzido não possa ser usado diretamente em armas, ele pode ser processado em instalações específicas, algumas já em construção na China.
Enquanto o governo chinês nega qualquer intenção militar com o projeto, os Estados Unidos e outros países demonstram ceticismo. Relatórios de inteligência revelam que a Rússia desempenha um papel essencial no fornecimento de materiais cruciais para os reatores rápidos da China. Em 2022, a Rosatom, estatal russa de energia atômica, enviou combustível essencial para a operação do primeiro reator.
Além disso, um acordo de cooperação assinado em março de 2023 entre a Rosatom e a autoridade de energia atômica da China deve ampliar a parceria em projetos como os reatores rápidos. Tal aliança preocupa as potências ocidentais, já que fortalece o avanço chinês na corrida nuclear global.
Aumento do arsenal nuclear chinês e o impacto na geopolítica global
Analistas indicam que a expansão do arsenal nuclear chinês está ligada à ambição do presidente Xi Jinping de “reunificar” Taiwan à China continental, potencialmente pela força. O reforço nuclear serviria como elemento de dissuasão contra a intervenção militar dos Estados Unidos, que prometeu defender Taiwan em caso de ataque.
Nikolai Sokov, ex-negociador de tratados nucleares da Rússia, comparou a postura da China ao comportamento de Vladimir Putin no conflito na Ucrânia. Para ele, o arsenal nuclear seria usado como uma ferramenta para intimidar adversários e negociar em posição de força. Essa estratégia é um reflexo do aumento das tensões na Ásia e do papel crescente da China como uma potência militar global.
Apesar disso, a ausência de canais diretos de comunicação nuclear entre Washington e Pequim preocupa autoridades ocidentais. Diferentemente da relação EUA-Rússia, que conta com linhas diretas para evitar mal-entendidos nucleares, não há mecanismos semelhantes com a China. Isso amplia os riscos de conflitos inadvertidos ou escaladas descontroladas.
Desafios para conter a corrida nuclear chinesa
A resistência de Pequim em participar de negociações sobre controle de armas nucleares com os Estados Unidos contribui para a instabilidade global. Autoridades americanas acreditam que pouco pode ser feito para frear o programa nuclear chinês nas próximas décadas. Em um relatório recente, o Pentágono alertou que, até a década de 2030, os EUA enfrentarão dois grandes concorrentes nucleares: China e Rússia.
Enquanto isso, a China segue avançando em seu programa nuclear, com o segundo reator rápido previsto para operar até 2026. As implicações desse projeto continuam a ser monitoradas de perto por governos e especialistas, que alertam sobre o impacto potencial de uma nova corrida armamentista no cenário global.
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