A ideia de que o Exército Brasileiro possui munição suficiente apenas para pouquíssimo tempo de combate é frequentemente citada como motivo de preocupação. A frase: “temos apenas 1 hora de munição”, disparada com frequência em discussões sobre os militares é facilmente encontrada nas redes sociais. Contudo, a interpretação isolada desse tipo de frase pode levar a conclusões equivocadas. Embora a quantidade de munição disponível não só para o Exército Brasileiro, mas também para Marinha e Força Aérea seja obviamente limitada, como o é em todos os exércitos, há razões práticas e planejamentos bem definidos por trás dessa estratégia.
A validade da munição usada pelo Exército Brasileiro: um fator essencial
Poucos sabem, mas munição não pode ser armazenada indefinidamente, há limites de tempo. Componentes como pólvora e espoletas possuem prazo de validade e, mesmo em condições ideais de armazenamento, sofrem bastante deterioração ao longo do tempo. Quando ultrapassam esse prazo, podem se tornar ineficazes ou até perigosos. Existem relatos de acidentes graves causados pelo uso de munições antigas e até mortes em combate por conta de falhas nesse sentido.
Manter estoques excessivos que eventualmente seriam descartados não apenas representa um desperdício financeiro, mas também é logisticamente ineficiente e dispendioso. Portanto, a quantidade de munição estocada é planejada para atender às demandas de treinamento e operações militares em tempos de paz.
O papel da indústria brasileira, que garante muito mais que ” 1 hora de munição “
Outro aspecto relevante é a capacidade industrial do Brasil em produzir munição em larga escala. O país conta com fábricas especializadas, como a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), que podem atender às demandas do Exército em um curtíssimo espaço de tempo. Essa infraestrutura garante a reposição de munições gastas, seja em treinamentos ou em situações de emergência. As empresas podem também se concentrar na produção de determinado tipo de munição, de acordo com a necessidade.
O Arsenal de Guerra do Rio (AGR), por exemplo, é responsável pela fabricação de morteiros e outros equipamentos essenciais. A presença dessas instalações demonstra que o Brasil possui uma indústria de defesa preparada para aumentar a produção de munição sempre que necessário.

Por que não estocar mais munição?
Estocar grandes volumes de munição para uma quantidade incrivelmente diversificada de calibres e armas diferentes, em um país que não enfrenta ameaças de guerra iminentes não é uma prática eficiente. Além do risco de deterioração, há custos significativos relacionados à manutenção desses estoques, que carecem de cuidados dispendiosos contra incêndios, furtos e roubos etc.
Assim, o Exército opta por manter reservas que atendam às necessidades imediatas de treinamento e operacionais, confiando na capacidade da indústria nacional para suprir eventuais demandas adicionais.
Preparados para agir quando necessário
A ideia de que o Exército Brasileiro está despreparado por possuir munição limitada, de que só possuímos “1 hora de munição” não reflete nem de longe a realidade. A estratégia adotada pelas Forças Armadas Brasileiras é baseada na eficiência e no uso racional dos recursos públicos, além de considerar, como foi mencionado acima, a capacidade de resposta rápida da indústria nacional de defesa. Em vez de estoques gigantes, o foco é manter uma cadeia de suprimentos ágil e bem estruturada, que pode repor o material necessário, onde for necessário e dentro do tempo necessário.
Rafael – Revista Sociedade Militar