Você já se perguntou quantos regimentos o Exército Brasileiro tem hoje?
A estrutura do nosso Exército diz muito sobre o país — principalmente sob a ótica de um país que já esteve em uma guerra real, com sangue, lama e decisões malfeitas vindas de cima. E sim, estamos falando da Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil mandou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Itália com o que dava. Literalmente, com o que dava.
Antes de tudo: o que é (ou era) um regimento no Exército Brasileiro?
Vamos começar pela bagunça semântica. Hoje em dia, o termo “regimento” no Exército Brasileiro serve basicamente para designar unidades da cavalaria. Mas, durante a Segunda Guerra Mundial, o termo era mais amplo — e mais confuso.
Naquela época, um regimento de infantaria, por exemplo, era a unidade-base que deveria ter três batalhões (às vezes quatro, com reforços de reservistas). Só que o “ideal” nunca bateu com a realidade: por falta crônica de investimento, muitos desses regimentos funcionavam com apenas um ou dois batalhões — e nem sempre completos.
De acordo com o historiador Silas E. Cardoso, em postagem no portal Quora, “o Exército montava regimentos com o efetivo que dava pra montar com a pouca verba que recebia”.
A estrutura atual do Exército Brasileiro (e o que sobrou da era da FEB)
Hoje, os tempos mudaram — ao menos no papel. O Exército Brasileiro abandonou o escalão regimental para infantaria e artilharia nos anos 1970, numa reorganização que seguiu tendências do Exército dos EUA e de países europeus. Atualmente, de acordo com Cardoso, temos:
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85 batalhões de infantaria, sendo:
- 28 motorizados (2 são batalhões-escola)
- 16 de selva
- 9 de polícia do Exército
- 8 mecanizados
- 4 blindados
- 3 de montanha
- 3 de pantanal
- 3 aeromóveis
- 3 paraquedistas
- 1 aeromóvel de selva
- 1 de precursores paraquedistas
- 1 de comandos
- 1 de forças especiais
- 1 da guarda presidencial
- 4 de caçadores (por tradição)
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27 regimentos de cavalaria, sendo:
- 16 mecanizados
- 4 blindados
- 4 de carros de combate
- 3 hipomóveis (Dragões da Independência, sim, ainda existem)
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35 grupos de artilharia, sendo:
- 18 de campanha
- 6 antiaéreos
- 4 autopropulsados
- 2 de selva
- 2 de mísseis e foguetes
- 1 de montanha
- 1 aeromóvel
- 1 paraquedista
Além disso, há pelotões, companhias, baterias e esquadrões independentes — e 5 batalhões de aviação do Exército, que, sim, são vinculados à cavalaria.

E na Segunda Guerra? Quais regimentos do Exército Brasileiro foram pra Itália?
Dos 17 regimentos de infantaria que existiam na época, só três participaram ativamente da FEB:
- 1º Regimento de Infantaria – “Regimento Sampaio” (Rio de Janeiro)
- 6º Regimento de Infantaria – “Regimento Ipiranga” (Caçapava-SP)
- 11º Regimento de Infantaria – “Regimento Tiradentes” (São João del-Rei-MG)
Nenhum deles tinha seus três batalhões completos. Foi só com voluntários e reservistas vindos de outros regimentos que conseguiram formar os batalhões necessários.

A artilharia mandou apenas um regimento: o 1º Regimento de Obuses Autopropulsados, o famoso “Regimento Floriano”, que teve quatro grupos. Hoje, seus sucessores ainda existem:
- 1º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva, em Marabá-PA
- 20º Grupo de Artilharia de Campanha Aeromóvel, em Barueri-SP
- 11º Grupo de Artilharia de Campanha “Montese”, no Rio de Janeiro
Da cavalaria? Só um esquadrão independente de reconhecimento — sem herdeiro direto nos dias atuais.
E da engenharia, quem foi à guerra foi o 1º Batalhão de Engenharia de Combate, hoje renomeado como 9º Batalhão de Engenharia de Combate “Carlos Camisão”, em Aquidauana-MS.
Esses regimentos do Exército Brasileiro ainda existem?
Muita gente se apega à nomenclatura “regimento” e acredita que as unidades da FEB ainda existem. Mas a verdade é que, com a extinção do escalão regimental nos anos 70, o que sobrou mesmo foram os batalhões que herdaram a história.
Alguns tentam preservar a memória com nomes pomposos — como o 6º Batalhão de Infantaria Aeromóvel, que ainda ostenta o título de “Regimento Ipiranga”. Mas a estrutura, a doutrina e até o efetivo mudaram tanto que só a tradição sobrevive.
E no meio disso tudo, a velha crítica persiste: o eterno desinvestimento na Defesa nacional. Durante a Segunda Guerra, já era assim — e ainda é. O Exército faz o que pode com o que tem, muitas vezes tentando tapar o sol com o coturno.
Assim, o Brasil sempre teve um Exército funcional dentro do que o orçamento permite. E isso explica muita coisa.