Nos bastidores da segurança pública brasileira, um movimento inédito está chamando a atenção de especialistas e da população: a incorporação de uma aeronave militar de combate, usada em guerras reais, à estrutura da Polícia Militar de um estado.
A medida surpreendente foi anunciada pelo governo do Rio de Janeiro em março de 2025 e reforça o debate sobre a militarização crescente da segurança pública e os limites entre forças armadas e policiais no país.
Segundo informações do portal ”CNN Brasil”, o helicóptero UH-60 Black Hawk, ícone da aviação de guerra dos Estados Unidos, será integrado à frota da Polícia Militar do Rio de Janeiro até o final deste ano.
A aeronave é amplamente conhecida por sua robustez e histórico em zonas de conflito como o Iraque, Afeganistão e a Somália.
Trata-se de um equipamento com capacidade de transporte de tropas, blindagem reforçada e possibilidade de armamento pesado, desenvolvido originalmente para cenários de guerra de alta intensidade.
A história do Black Hawk
Desenvolvido pela Sikorsky Aircraft, o Black Hawk entrou em serviço nos anos 1970 como resposta à necessidade de um helicóptero tático mais versátil e resistente para substituir os modelos Huey utilizados no Vietnã.
Desde então, o modelo ganhou notoriedade global por sua atuação em missões militares norte-americanas, especialmente após a missão fracassada em Mogadíscio, em 1993, quando dois Black Hawks foram abatidos durante uma operação das forças especiais dos EUA.
Esse evento deu origem ao livro e filme “Black Hawk Down”, que eternizou a aeronave na cultura popular como símbolo de operações militares de alto risco.
Com autonomia de voo de cerca de 590 km e velocidade de até 294 km/h, o helicóptero pode transportar até 11 soldados equipados, além de quatro tripulantes.
A versão que será entregue à PM do Rio contará com blindagem e estrutura para receber armamentos laterais, embora o governo estadual ainda não tenha confirmado se isso será utilizado em solo brasileiro.
Iniciativa inédita no Brasil
Será a primeira vez que um helicóptero Black Hawk será operado por uma força policial estadual no Brasil.
Até então, o modelo era exclusivo das Forças Armadas brasileiras, que contam com 26 unidades em operação, divididas entre Exército, Marinha e Aeronáutica.
A decisão de incluir o Black Hawk na estrutura da PM do Rio amplia o debate sobre o uso de armamentos e veículos militares em ações de segurança pública urbana, especialmente em territórios densamente povoados e com altos índices de violência, como as comunidades cariocas.
Segurança como prioridade política
A novidade foi divulgada durante uma cerimônia oficial realizada nos Arcos da Lapa, no centro do Rio de Janeiro, no dia 6 de março de 2025.
No evento, o governador entregou 214 novas viaturas à Polícia Militar e anunciou a realização de um novo concurso público para a corporação em 2026.
Segundo o governo estadual, mais de 2 mil novos policiais devem ser incorporados até o fim da gestão atual, reforçando o efetivo que já conta com cerca de 43 mil agentes.
Desde 2021, o Estado afirma ter investido mais de R$ 4 bilhões em segurança pública, incluindo a compra de viaturas, blindados, coletes balísticos, armamentos, equipamentos de comunicação, tecnologia e renovação do parque aeronáutico.
Operações em áreas sensíveis
De acordo com as autoridades, o Black Hawk será utilizado em missões especiais e ações táticas em áreas sensíveis, como comunidades com forte atuação do tráfico de drogas ou milícias armadas.
A proposta é ampliar a capacidade de resposta rápida da PM em cenários de alta periculosidade, sobretudo em confrontos armados onde o uso de veículos blindados terrestres se mostra limitado.
A aeronave deve atuar em conjunto com outros modelos da frota aérea da corporação, como o Bell Huey II, AW-169, AW119 e H-125, já empregados em patrulhamento aéreo e transporte de tropas em diversas regiões da capital fluminense.
Controvérsia e debate
Especialistas em segurança pública e direitos humanos vêm alertando para os riscos da militarização excessiva das polícias estaduais.
A presença de um helicóptero de guerra em operações urbanas levanta questões sobre proporcionalidade do uso da força, riscos colaterais à população civil e os limites do papel da polícia em um estado democrático.
Organizações como a Human Rights Watch e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública já criticaram anteriormente o uso de armamento pesado em favelas e áreas densamente povoadas, alegando que isso pode colocar em risco a vida de inocentes e agravar a violência.
Mesmo assim, o governo do Rio sustenta que a medida é necessária diante do crescente poder de fogo das facções criminosas, que, segundo dados recentes, contam com arsenais cada vez mais sofisticados, incluindo fuzis automáticos, granadas e até drones com explosivos improvisados.