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A dívida que volta a assombrar: Venezuela dá calote bilionário no Brasil e governo Lula é ignorado por Maduro — silêncio que custa R$ 10 bilhões, herança do metrô de Caracas e da siderúrgica que nunca saiu do papel”

Apesar das tentativas do governo Lula em renegociar a dívida com a Venezuela, o silêncio de Maduro persiste, alimentando um impasse bilionário que envolve obras inacabadas, interesses políticos e pressões internacionais que agora recaem diretamente sobre os cofres públicos brasileiros.

por Alisson Ficher Publicado em 05/06/2025
A dívida que volta a assombrar: Venezuela dá calote bilionário no Brasil e governo Lula é ignorado por Maduro — silêncio que custa R$ 10 bilhões, herança do metrô de Caracas e da siderúrgica que nunca saiu do papel”

Enquanto o governo brasileiro tenta negociar, a Venezuela mantém silêncio sobre uma dívida que já ultrapassa R$ 10 bilhões.

Por trás desse impasse financeiro, escondem-se interesses diplomáticos, estratégias políticas e um jogo geopolítico que vai muito além de planilhas e contratos.

O silêncio que vale bilhões

Segundo informações do portal ”Gazeta do Povo”, em meio à crescente tensão econômica e diplomática na América do Sul, a Venezuela segue ignorando as tentativas do Brasil de renegociar uma dívida bilionária referente a financiamentos concedidos pelo BNDES para obras de infraestrutura em território venezuelano.

Essa dívida, que já ultrapassa US$ 1,74 bilhão — o equivalente a quase R$ 10 bilhões — representa um dos maiores calotes enfrentados pelo Brasil na história recente do banco de fomento.

Mais do que um problema financeiro, o episódio evidencia o esgotamento das relações bilaterais entre os dois países, mesmo após iniciativas recentes do governo brasileiro para reaproximar-se do regime de Nicolás Maduro.

A origem do calote milionário

A dívida em questão se refere a uma série de financiamentos liberados nas últimas décadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a empresas brasileiras que atuaram na Venezuela.

Entre os projetos financiados estão obras de infraestrutura como o metrô de Caracas e a construção da Siderúrgica Nacional, símbolo da aproximação entre os governos de esquerda da América Latina durante o auge do chavismo e do lulismo.

No modelo utilizado, o pagamento da dívida era de responsabilidade do governo venezuelano.

Caso houvesse inadimplência, como ocorreu, o valor seria coberto pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE), ligado ao Ministério da Fazenda brasileiro.

Esse mecanismo garantiu o pagamento às empresas brasileiras, mas transferiu o prejuízo diretamente para o Estado brasileiro, e consequentemente, para os cofres públicos.

Governo Maduro ignora todas as tentativas de negociação

Segundo documento oficial da Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, revelado pela Folha de S. Paulo, o governo venezuelano não respondeu a nenhuma das comunicações enviadas pelo Brasil até março de 2025.

A resposta foi encaminhada ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que solicitou informações formais sobre o status da dívida.

A negociação se encontra suspensa em razão da ausência de respostas do governo venezuelano“, afirma o documento.

A Fazenda detalhou ainda que o Brasil tem buscado resolver a pendência tanto por vias diplomáticas quanto por meio de contatos diretos com o Ministério da Economia da Venezuela, sem sucesso até o momento.

Comunicado internacional e novo prejuízo previsto

Diante do impasse, o Brasil decidiu acionar também instituições multilaterais, como o Clube de Paris, entidade que reúne os maiores credores do mundo, incluindo Estados Unidos, Alemanha, França e Japão.

A intenção é pressionar diplomaticamente Caracas a cumprir suas obrigações financeiras.

Mesmo com essa articulação internacional, há a expectativa de que o Brasil precise indenizar mais US$ 16 milhões — cerca de R$ 90 milhões — até junho de 2025, caso o governo de Maduro continue inadimplente.

Relações congeladas mesmo com tentativa de reaproximação

Em 2023, após a visita de Nicolás Maduro a Brasília, o governo Lula tentou reabrir a mesa de negociações com a Venezuela para resolver a questão da dívida.

No entanto, as tratativas não avançaram, e o esfriamento das relações entre os países se agravou ainda mais após o Brasil vetar a entrada da Venezuela como membro parceiro do bloco BRICS.

Esse gesto, considerado simbólico e contundente por analistas de política internacional, comprometeu os esforços de reaproximação entre os dois governos, mesmo com a afinidade ideológica entre Lula e Maduro.

Oposição pressiona por explicações e responsabilização

A dívida bilionária com o BNDES tornou-se munição para a oposição ao governo Lula, que frequentemente critica os financiamentos a países governados por regimes autoritários e de esquerda.

O deputado Nikolas Ferreira tem sido uma das vozes mais atuantes nesse tema.

Ele exige ações concretas por parte do governo para garantir o ressarcimento dos valores perdidos, além de maior transparência sobre as condições desses empréstimos.

A narrativa da oposição é clara: o Brasil está bancando ditaduras enquanto negligencia necessidades urgentes da população brasileira.

Lula tenta justificar, mas impasse permanece

Em declarações anteriores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou explicar o problema.

Ele afirmou que o corte de relações diplomáticas com a Venezuela durante o governo de Jair Bolsonaro teria dificultado a cobrança da dívida.

Segundo Lula, com o retorno do diálogo, os países devedores “vão pagar” o que devem ao Brasil, classificando na época Venezuela e Cuba como “nações amigas”.

Porém, mesmo após mais de dois anos de governo, nenhuma parcela da dívida foi quitada e o silêncio venezuelano persiste.

Alisson Ficher

Alisson Ficher