Maior navio de guerra da Coreia do Norte afunda diante de Kim Jong-un. Resgate com balões e improvisos escancara limitações da marinha norte-coreana
Imagens de satélite revelam: fragata da Coreia do Norte virou vexame internacional. Kim Jong-un exige salvar o navio antes do comitê central, mas missão parece impossível

A marinha norte-coreana mal conseguiu esconder o constrangimento: o que deveria ser um marco no fortalecimento do poder naval de Kim Jong-un acabou virando um espetáculo global. A nova fragata de guerra, apontada como o maior navio de guerra já construído pela Coreia do Norte, afundou logo após ser lançada ao mar, diante das principais lideranças do regime. Desde então, imagens de satélite revelam uma operação de resgate improvisada que escancara os limites técnicos do país.
Balões e artifícios para tentar salvar o navio
Nos últimos dias, imagens captadas por satélites, como os da Planet Labs, mostraram uma cena inusitada no porto de Chongjin: uma série de balões aerostáticos surgiram ao redor da embarcação naufragada. Especialistas sul-coreanos e analistas do Ocidente especulam que esses balões poderiam ter múltiplas funções: conter novos vazamentos de água, ocultar o navio da observação de drones ou até aliviar o peso sobre as seções parcialmente submersas.
“As imagens mostram objetos com formato que lembra pequenas aeronaves ou aeróstatos, alguns deles com barbatanas estabilizadoras”, comentou Jennifer Jett, do Center for Strategic and International Studies (CSIS), em entrevista ao CSIS. Segundo ela, estruturas mais tradicionais, como flutuadores ou sistemas de elevação usados por marinhas avançadas, não foram observadas, refletindo os limites técnicos da marinha norte-coreana.
A operação de resgate ainda enfrenta um enorme desafio: o casco do navio ficou preso parcialmente entre o fundo do cais e o mar, o que impede qualquer tentativa simples de reflutuação. Qualquer movimento mal calculado poderia fraturar a quilha e condenar definitivamente a fragata.
Pequeno avanço, mas situação segue crítica
Apesar do vexame, as imagens mais recentes indicam algum progresso. A fragata da classe Choi-hyun, com deslocamento estimado em 5 mil toneladas, foi finalmente endireitada e já flutua parcialmente no porto. Aparentemente, está apoiada em sistemas improvisados, com a ajuda dos já citados balões e rampas temporárias.
Embora o governo de Kim Jong-un tenha afirmado inicialmente que os danos eram mínimos e que o navio estaria recuperado em apenas “dez dias”, a realidade é bem mais complexa. A falta de infraestrutura adequada — o estaleiro de Hambuk, em Chongjin, não possui sequer uma doca seca funcional — dificulta os trabalhos de inspeção e recuperação.
Fontes ligadas ao 38 North, um dos mais respeitados observatórios sobre a Coreia do Norte, confirmaram que as primeiras etapas da operação de resgate foram concluídas. Mas alertam: “Ainda há um longo caminho até que a fragata esteja realmente restaurada ou pronta para integrar a marinha norte-coreana.”
O navio está mesmo salvo?
Embora a posição vertical do navio tenha sido em parte recuperada, analistas alertam que a embarcação segue apresentando uma inclinação visível para bombordo. Isso indica que a água ainda está sendo bombeada do interior do casco, que provavelmente sofreu danos estruturais.
“A resolução limitada das imagens de satélite impede uma avaliação precisa da extensão dos danos no casco”, diz Jennifer Jett. “Mas a ausência de uma doca seca obrigará uma solução arriscada: tentar reparar o navio ainda flutuando, ou transportá-lo para outra instalação.”
Segundo informações publicadas pelo Xataka, se forem confirmados danos graves à quilha ou deformações internas, a fragata poderá nunca atingir a plena capacidade operacional.
Pressão política e propaganda do regime
Como sempre na Coreia do Norte, política e propaganda pesam mais do que a realidade técnica. Kim Jong-un teria ordenado pessoalmente que o navio estivesse totalmente recuperado a tempo da próxima sessão plenária do Comitê Central, marcada para o fim de junho.
Mas fontes militares sul-coreanas consideram extremamente improvável que o prazo seja cumprido. “A pressão política para mostrar resultados rápidos só piora a situação. As equipes de resgate trabalham sob um cronograma irreal”, comentou um oficial sul-coreano ao jornal Yonhap.
Há ainda suspeitas de que seções inteiras do casco tenham sido cobertas por lonas azuis, escondendo deformações internas graves. Mesmo que o navio volte a flutuar, dificilmente estará apto para combate ou manobras complexas.
Um projeto ambicioso que virou vexame internacional
Esta fragata é a segunda unidade da nova classe Choi-hyun, um projeto ambicioso com o qual Kim Jong-un pretende modernizar a frota naval do país. Os navios estariam equipados com sistemas de mísseis e canhões modernos, tentando rivalizar com a presença naval da Coreia do Sul e dos Estados Unidos na região.
Porém, o colapso no lançamento e a operação de resgate improvisada colocaram essas aspirações em xeque. Segundo o 38 North, a causa provável do acidente foi uma falha no mecanismo de lançamento do navio: enquanto a popa deslizava para o mar, a proa ficou presa ao solo, criando um ângulo altamente instável. Isso gerou o pior cenário possível para qualquer tentativa de resgate.
O futuro da fragata é incerto
Em resumo, apesar das fotos recentes de um navio aparentemente endireitado, a realidade operacional da fragata segue muito incerta. Faltam informações confiáveis sobre o estado do casco, não há uma doca seca adequada disponível, e a pressão política para resultados rápidos só agrava a situação.
Especialistas não descartam que o navio acabe sendo usado como peça de propaganda — um símbolo do poder naval de Kim Jong-un — em vez de um verdadeiro ativo militar funcional.
Por ora, a embarcação permanece em um limbo flutuante: nem totalmente afundada, nem realmente operacional. E segue exposta ao olhar atento da comunidade internacional, que observa cada etapa deste vexame naval da marinha norte-coreana.