O caso Amarildo e o sentimento de corpo dos militares. (Artigo de colaborador){jcomments on}
25 militares presos! Um número assustador.
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Sim, é bem provável que o ajudante de pedreiro e churrasqueiro de traficantes Amarildo, tenha sido realmente assassinado por policiais, certamente um crime tão digno de apuração e punição quanto os outros que ocorrem todos os dias no Rio de janeiro, inclusive contra policiais. Infelizmente parece não haver muitas ONGs e redes de comunicação dispostos a comover a opinião pública em prol de sua família. Em novembro de 2012 familiares de policiais assassinados em São Paulo se manifestaram na Avenida Paulista, mas a questão não repercurtiu tanto quanto deveria, o espaço alcançado na mídia nem de perto se compara ao dedicado ao pedreiro Amarildo. No Brasil, segundo estatísticas do ano passado, um policial é assassinado a cada 32 horas. Mas em cidades como Rio e São Paulo o número é bem mais preocupante.
(Imagem do leilão em prol da Famílai de Amarildo e de uma ONG ligada ao advogado da mesma)
Não me lembro de nenhuma festa ou leilão para angariar fundos para alguma família de militar assassinado ou desaparecido. Até meados de outubro de 2013 foram mais de 150 policiais baleados no Rio, 60 faleceram. (Veja aqui as ocorrências e detalhes)
Ao todo, já são 25 policiais acusados de participação no desaparecimento do ajudante de pedreiro, no dia 14 de julho. Todos trabalhavam na UPP da Rocinha. Podemos dizer que todos esses homens são criminosos comuns? É uma questão complicada. E como aqui ninguém tem a obrigação de ser politicamente correto vamos discutir um pouco isso sob uma ótica diferente da usada pelos meios de comunicação.
Os militares sabem que quanto mais perigoso o seu trabalho mais reforçado é o sentimento de lealdade entre os membros da tropa. A sobrevivência de cada um é devida aos outros membros do grupo. Cada um dos integrantes da polícia carioca sabe que quando sai para o trabalho pode não mais voltar a ver sua família, eles combatem todos os dias sob extremo stress, e apesar das autoridades declararem que o Rio está pacificado, os militares cariocas sabem que a qualquer momento podem ser alvejados por armas até mais sofisticadas que as suas.
Todos os dias ouvimos policiais e a própria população dizer: “a polícia prende e a justiça solta”. Isso nos mostra que há um sentimento de impunidade não só entre os militares, mas entre a sociedade em geral. A questão da opinião pública sobre a maioridade penal é outra mostra disso. O brasileiro está no limite do caos social. Mas o caos mental já chegou, basta um passeio pela internet e todos podemos verificar que ninguém mais tem noção do que é certo ou errado. Na semana passada circulou um vídeo que mostrava um assaltante de motocicletas sendo alvejado por um policial, (Veja aqui) em vários sites vimos comentários exaltando a ação do militar e divulgando isso como uma vitória de toda a sociedade, como numa guerra em que um dos inimigos é abatido. Vimos muita gente declarar que torcia pela morte do marginal.
Os policiais dos grandes centros se sentem em uma guerra, eles não contam com a possibilidade de se “camuflar” em meio à população, como fazem os inimigos. Eles se sentem acuados, todos os dias são alvos de criticas da imprensa e da sociedade em geral, e isso reforça o sentimento de unidade entre os membros da corporação. Afinal, em sua mente, eles só têm os próprios companheiros para lhes gerar proteção.
De acordo com as reportagens divulgadas o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital torturaram Amarildo. Apenas quatro militares participaram da seção de tortura, mas algo fez com que os outros permanecessem calados, ou agissem no sentido de proteger os companheiros, se mantendo solidários ao que estava ocorrendo. Não queremos defender a conduta dos agentes públicos nesse caso, mas não podemos deixar de mencionar as especifidades de sua profissão. A atividade militar é exercida bem perto da tênue linha que divide o lícito do ilícito. No meio de um combate, quando inimigos podem estar escondidos em algum local, ou tramando contra a vida de alguém é difícil resistir a tentação de pressionar um prisioneiro.
Quando da avaliação judicial do comportamento dos militares envolvidos na questão será necessário levar em consideração que há algo grande, algo tremendamente coercitivo, muitas vezes até mais do que as normais legais, o que torna muito difícil que um militar atue contra um companheiro de farda que reprime um suposto inimigo. No Brasil ser taxado de x9 é algo que ninguém deseja, um estigma desse tipo (dedo-duro, delator, entregador) nunca abandona um militar, lembramos aqui que o crime de traição em tempo de guerra é uma das piores acusações que pode pairar sobre um militar, e essas coisas se misturam, principalmente quando se atua sob extrema pressão.
Onde vamos chegar? O caso Amarildo é apenas uma mostra das consequencias nefastas dessa guerra urbana travada no Brasil, em que os homens e mulheres que compõem as forças de segurança, normalmente injustiçadas pela opinião pública e veículos de comunicação, indiscutivelmente são a parte mais sensível dessa questão.
G.K Lamounier. – https://sociedademilitar.com.br/