Diante das seguidas denúncias de que oficiais generais têm recebido quantias impressionantes nos últimos meses e apresentação de evidências de que, ao contrário do que diz a cúpula militar, os oficiais generais e alguns poucos postos e graduações, principalmente de militares ainda no serviço ativo, receberam de fato um aumento de salário implementado por mudanças na estrutura remuneratória ocorrida durante o governo de Jair Bolsonaro, a Câmara dos Deputados aceitou convocar o Ministério da Defesa para discutir o assunto com representantes dos graduados e parlamentares. A audiência pública está marcada para 7 de junho de 2023.
Uma tabela amplamente usada por militares das forças armadas para cálculo salarial, divulgada por sites como montedo.com, mostra que após a reestruturação das carreiras, implementada durante o governo Bolsonaro, o aumento de salário dos oficiais generais no último posto pode ultrapassar a quantia de 6 mil reais.

A mesma tabela atesta o que muitos militares graduados e pensionistas têm dito, que houve uma redução salarial para algumas graduações. Uma viúva de um cabo, como pensionista, em dezembro de 2019 recebia um salário de R$ 3.062,00. Entretanto, em junho de 2023 estará recebendo somente R$ 2.910,18.
É cada vez mais evidente que as modificações feitas na estrutura remuneratória têm de fato causado impacto significativo no salário da cúpula armada. Uma reportagem publicada pela Revista Sociedade Militar em 21 de maio mostra que somados, os salários de dezembro, janeiro e fevereiro do comandante da aeronáutica, ultrapassam a quantia de 1.3 milhão de reais.
Durante a discussão no parlamento sobre a convocação do ministro, houve gritaria e discussões acirradas na comissão de Defesa nacional da Câmara dos Deputados. Numa ação considerada contraditória, parlamentares Bolsonaristas, como o general Girão, tentaram de todas as formas proteger o atual Ministro da Defesa, escolhido por Lula, de ser confrontado por militares que alegam que a cúpula armada durante o governo de Jair Bolsonaro teria se aproveitado de sua posição para aumentar os próprios salários.
A polêmica em torno do assunto é muito grande, sargentos já tentaram 2 encontros com o Ministro da Defesa. No primeiro deles, apesar de existir uma agenda marcada com José Mucio, suboficiais da marinha e força aérea foram recebidos por membros de escalões inferiores do Ministério da Defesa.
Já no último encontro, agendado para esta terça-feira (23/05/2023), embora haja um vídeo gravado pela equipe do deputado sargento Portugal onde todos afirmam que foram recebidos pelo ministro, nas redes sociais vários militares advertem que na verdade o ministro, por conta de uma suposta orientação da cúpula militar, não permitiu a entrada de suboficiais e sargentos, deixando assim a tropa de fora mais uma vez da discussão sobre questões salariais.
De forma reiterada os militares da reserva alegam que a lei no 7.524 permite que discutam qualquer assunto de caráter público, como são as questões remuneratórias e que isso não se configura como nenhum tipo de quebra de hierarquia, na medida que os salários dos militares são amplamente discutidos na Câmara. Um deles relembra que no governo de Dilma Rousseff chegaram a ser recebidos pelo então ministro da defesa, Jaques Wagner, e que o atual ministro parece estar sendo pressionado pela cúpula armada.
No relatório da agenda do ministro da defesa consta a entrada no gabinete do ministro apenas do Deputado Federal sargento Portugal.
Ouvidos pela Revista Sociedade Militar ao longo das últimas semanas, suboficiais, sargentos e oficiais de baixa patente defendem que os reajustes de salários sejam lineares, que seja concedido o mesmo percentual para todos os militares.
Alegam que embora o Ministério da Defesa diga que a reestruturação das carreiras ocorrida durante o governo Bolsonaro não proporcionou aumento de salário, basta uma comparação entre os atuais bilhetes de pagamento dos oficiais generais com os que foram emitidos antes da sanção da lei 13.954 de 2019 (reestruturação das carreiras) para se atestar que receberam um vultoso reajuste salarial que alcançou principalmente os membros da cúpula e algumas poucas categorias dentro das instituições militares.