Militares das Forças Armadas de camadas médias e da base da estrutura hierárquica durante os últimos anos se distanciaram de Jair Bolsonaro e da direita na medida em que durante o último governo foram aprovadas novas regras que reforçaram as diferenças salariais e retiraram direitos de pensionistas e de militares da base da estrutura.
Uma das primeiras ações implementadas por Bolsonaro foi a apresentação de uma lei que modificou a estrutura remuneratória das Forças Armadas, privilegiando os valores pagos para cursos de militares oriundos de academias de elite como AMAN e AFA, deixando as camadas mais populares, o chamado povo fardado, sem reajustes nos mesmos índices em seus cursos. Procurado por sargentos, o então presidente não quis comentar o assunto.
Logo após a apresentação do projeto de lei, por meio de seu porta voz oficial, Jair Bolsonaro disse que as chamadas baixas patentes ou baixos estamentos não tinham o direito de tentar levar ao conhecimento da sociedade as eventuais questões salariais que os afligiam. Naquele momento os sargentos lutavam para que a imprensa e os parlamentares percebessem o que ocorria.
Durante a tramitação do projeto de lei, numerado como 1645 de 2019, os militares de baixa patente acabaram ignorados pela base do governo, que se aliou à cúpula militar. O próprio Hélio Lopes não aderiu a causa de seus companheiros de farda, apesar de em Off admitir que concordava com o pleito dos graduados. Para surpresa de muitos – os parlamentares que realizavam a defesa dos militares de baixa patente foram da oposição, ligados a partidos como o PSol do Rio de Janeiro.
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Clique aqui para seguirApós 3 anos da aprovação da nova legislação um grande grupo de militares já se consolidou ao redor de Glauber Braga, que se reelegeu no Rio com muitos votos atribuídos a essa parcela das Forças Armadas.
Uma comparação entre os votos recebidos em 2018 e 2022 por Hélio Lopes com os recebidos por Glauber Braga nos mesmos pleitos ajuda a deixar evidente que pode ter ocorrido uma migração. Enquanto Hélio Lopes, graduado das Forças Armadas que seria o candidato natural da categoria, teve uma queda de mais de 38% no número de votos recebidos, o candidato Glauber Braga do PSOL teve um acréscimo de 95% no número de votos recebidos.
Em municípios com grande número de militares das Forças Armadas, como é o caso de São Gonçalo-RJ, o candidato do Psol cresceu mais de 170% em votos recebidos.
Ano da Eleição | Hélio (Lopes) Bolsonaro | Glauber Braga |
2018 | 345.234 | 40.199 |
2022 | 132.986 | 78.048 |
VARIAÇÃO | – 38% | + 95% |
Ouvido sobre o assunto pelo jornal o Correio Brasiliense o deputado psolista admite que além de defender a categoria quer estabeleceu uma guinada no pensamento militar para uma “visão anti-imperialista”, que combateria o que foi imposto por Jair Bolsonaro ao longo dos últimos anos.
“Com essa lei, Bolsonaro só olhou para os oficiais e deixou para trás mais de 80% das Forças Armadas. A esquerda tem que lutar pela garantia de direitos de praças e com isso disputá-los também para uma orientação anti-imperialista, exatamente o contrário do que fez o governo passado”
Em congressos do PSOL ocorridos no Rio de Janeiro já se percebe a presença de militares graduados na mesa principal, além das reuniões frequentes realizadas com a categoria, o que indica que as Forças Armadas não são mais “território” da direita. O PSOL conta hoje com pelo menos seis ações legislativas relacionadas a direitos militares de baixa patente e suboficiais e sargentos ligados ao partido lutam para criar uma frente parlamentar de praças das Forças Armadas na Câmara dos Deputados.