Um ano após a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Rodrigo Lentz afirma que as Forças Armadas têm responsabilidade política pelo ocorrido.
Em entrevista à Agência Brasil, Lentz, que é especialista no pensamento político militar brasileiro, destaca que o Exército permitiu que indivíduos usassem a instituição para conspirar um golpe de Estado.
“O Exército tolerou e permitiu que esses indivíduos usassem a instituição para conspirar o golpe de Estado. Essa responsabilidade política deve ser abordada através de reformas nas relações entre civis e militares”, afirma Lentz.
Para o professor, a tolerância do Exército em relação ao movimento golpista manifestou-se em diversas ações, desde adesão a um projeto político partidário até a ocupação de militares de alta patente em cargos de ministro de Estado. Ele também aponta a participação dos militares na comissão de fiscalização do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a posição ambígua em relação aos acampamentos.

“A nota dos comandantes das Forças Armadas, divulgada em 11 de novembro de 2022, é um ponto crucial. Na nota, os comandantes condenaram ‘eventuais excessos’ dos manifestantes, mas afirmaram que os atos não constituíam crime. Essa nota alimentou a ‘sanha golpista’ ao não reconhecer de forma clara o resultado eleitoral”, afirma Lentz.
Para o professor, a estratégia de pacificação em curso no Brasil busca limpar a imagem das Forças Armadas após os eventos de 8 de janeiro. Ele alerta para a necessidade de evitar a impunidade dos militares, defendendo mudanças estruturais nas Forças Armadas, incluindo maior participação social na política de Defesa e capacitação de quadros civis.
“Sobre as investigações, é crucial responsabilizar os generais de quatro estrelas, comparando com a prisão de dirigentes da Polícia Militar do Distrito Federal. O governo respondeu com a transferência da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para a Casa Civil e a tramitação de propostas no Congresso que proíbem militares da ativa de se candidatarem”, afirma Lentz.
A Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPMI) que investigou os eventos de 8 de janeiro também apontou a contribuição das ações e omissões dos militares para a invasão das sedes dos Poderes. O relatório da CPMI citou manifestações favoráveis à tese de que as Forças Armadas são um poder moderador da República. Vários militares foram indiciados, incluindo generais de destaque.
A avaliação de Lentz destaca a necessidade de reformas nas Forças Armadas para evitar a repetição de eventos como 8 de janeiro, ressaltando a importância de responsabilizar individualmente os envolvidos.
Fonte: Agência Brasil